quarta-feira, setembro 06, 2023

Separações

Nunca tive a menor simpatia pelas causas separatistas em Espanha, mas detesto o discurso radical, com adjetivação indignada e quase insultuosa, utilizado por alguma direita portuguesa sobre Puigdemont e similares. "Mind your own business!"

11 comentários:

afcm disse...

Mas também é estranho o silêncio da esquerda.
Se fizermos o exercício contrário, a esquerda já tinha vilipendiado o Homem "fugido á justiça".

Francisco F disse...

O maior insulto que essa gente faz não é aos patriotas catalães e bascos (esqueçamos os galegos que são como os... portugueses). Não, os insultados somos nós, pessoas que se dão ao trabalho de pensar e têm de levar com os argumentos mais estúpidos e primários saídos das catacumbas do nacionalismo espanhol e acefalamente repetidos por cá.

Insinuar que um líder político deve deixar-se prender (literalmente) pelos seus adversários em vez de lhes escapar para prosseguir a sua luta é o "argumento" que me põe em ponto caramelo.

Depois, há o da Constituição: a preocupação que esta gente tem com a imutabilidade de uma lei estrangeira quando passa a vida a exigir a mudança da lei básica cá do burgo...

Também há o corte de cabelo do Puidgemont, óbvia demonstração de que o homem não presta.

Enfim, não se trata de imbecilidade porque se percebe os interesses que estão por trás de tudo.

No caso do Observador, a coisa salta à vista: 55% do capital do jornal/rádio pertence a uma empresa com sede em Madrid, a Amaral y Hijas Holding S.L. (https://observador.pt/ficha-tecnica/)

Durante o processo independentista todos os cronistas da casa foram convocados para desancar nos catalães. A autêntica campanha de ódio culminou num dos textos mais sujos que já li sobre o caso catalão, escrito pelo demagogo Alberto Gonçalves:
https://observador.pt/opiniao/a-primeira-e-a-ultima-vez-que-escrevo-sobre-a-catalunha/

"(...) No máximo, conseguiu [o processo] fazer com que a Catalunha descesse uns degraus no meu “ranking” privativo de paragens a evitar, situando-se hoje entre Islamabad, as colónias de leprosos na Índia e Oliveira do Hospital durante o acampamento do BE."

Ainda recentemente, Helena Matos se referiu à língua catalã como "um dialeto".

O especialista político do Observador em assuntos espanhóis (Diogo Noivo) - que tirou um mestrado em Madrid (local onde a informação será absolutamente imparcial) -, define-se como "criatura atlântica com caráter ibérico" e "Iberista convicto, aunque de estirpe moderada" (numa publicação espanhola onde é cronista), e tem uma obsessão em escrever sobre bascos e catalães, perseguindo-os encarniçadamente onde quer que o deixem escrever.

Ferreira Fernandes, no DN, cronicava em 2017 repetidos elogios à Espanha, lamentando a falta de tino dos catalães que não queriam beneficiar das maravilhas daquela (a tourada sendo uma delas).

As colossais manifestações independentistas em Barcelona nunca mereceram mais do que uma espécie de apontamentos (quando tanto!), em televisões onde todos os dias temos de ouvir entrevistas a populares espanhóis sobre os mais diversos e curriqueiros assuntos (notem, como as diárias notícias implicam, sempre, entrevistar pessoas na rua ou ouvir políticos repetir o que a jornalista acabou de dizer).


De um modo geral, a imprensa está ao serviço da visão espanholista e convém não esquecer como, noutras alturas houve fases de insistentes notícias a propósito de "inquéritos sobre a União Ibérica" (cujos resultados apontavam fatalmente para o interesse dos tugas em... "unirem-se").

Enfim. Que haja quem, por razões lá suas, ache errado os independentismos, compreende-se. O que não se compreende é a falta de pluralismo, o facciosismo, a demagogia, a manipulação e a agressividade na defesa de interesses de um país estrangeiro. Pacheco Pereira bem denunciou essa enorme falta de coragem e democracia mas ficou a pregar no deserto.

Luís Lavoura disse...

Nunca tive a menor simpatia pelas causas separatistas em Espanha

Isso vê-se, por exemplo, na insistência do Francisco em escrever os nomes castelhanos de povoações galegas, em vez de escrever os seus nomes galegos, que até são mais legíveis para portugueses como nós.

Há portugueses para quem a única nação ibérica que tem o direito de ter uma língua própria e de ser independente de Espanha é Portugal.

Carlos Antunes disse...

Francisco F
Excelente análise sobre o problema da Catalunha versus Madrid/Castela.
Acrescento apenas, a ignorância histórica dos opinadores anti-catalães do Observador, que se esquecem de que se não fosse a revolta da Catalunha de 1640, Portugal não seria hoje um país independente de Espanha/Castela, conforme salientado pelo historiador António Ferronha: «A revolta da Catalunha, em 1640, alimentou a esperança de uma restauração bem sucedida. Com os castelhanos a enfrentarem revoltas em várias frentes, os portugueses conseguiram repelir ataques e construir uma estratégia de defesa para os 28 anos seguintes.
Os conjurados aproveitaram um momento de fraqueza da coroa de Castela para realizar o golpe da Restauração da independência de Portugal, a 1 de Dezembro de 1640, que colocou no trono o duque de Bragança.
Sem a revolta da Catalunha, que atraiu o grosso das tropas de Castela, não teria sido possível assegurar a construção ou o reforço das fortificações fronteiriças de Portugal que, nos 28 anos seguintes, iriam suster os diversos ataques levados a cabo por Filipe IV de Espanha.»

Francisco F disse...

Correto Lavoura. E até parece que essa é a doutrina oficial do Estado português (algo que merecia ser estudado não por polítólogos mas sim por psicólogos).

Mas olhe que Portugal não é "independente de Espanha". Atenção a essas expressões que induzem em erro os incautos...

Francisco F disse...

O Carlos Antunes está redondamente enganado.

Não há qualquer ignorância dos comentadores do Observador no que respeita à História. Até porque, se a tivessem, rapidamente seriam postos na ordem pelo historiador da casa, o Rui Ramos (recomendo vivamente o seu podcast "E o resto é História" - vivamente!!!).

Na descrição da edição do podcast "Café Europa" de dia 6 deste mês (do Observador), vem escrito "Puigdemont faz chantagem com o governo espanhol". Uma negociação é considerada por esta gente como uma "chantagem". Isto é linguagem com viés, com o intuito de manipular a opinião a favor dos interesses espanhóis.

Devo dizer que sou ouvinte diário da Rádio Observador (dos podcasts dos programas, entenda-se), e que considero o Observador uma verdadeira lufada de ar fresco na nossa comunicação social mas a campanha anti-catalã/pró-espanhola que fazem é vergonhosa!

Eventualmente, o único momento mais próximo de imparcial naquilo tudo é o Jaime Gama e o Jaime Nogueira Pinto, no podcast "Conversas à Quinta".

manuel campos disse...


A revolta da Catalunha permitiu que os portugueses tivessem uma "aberta", um "alívio" da pressão para poderem actuar e mudar o rumo dos acontecimentos.

A revolta da Catalunha foi a revolta da Catalunha (Lapalissada, eu sei), não foi feita para "ajudar" os portugueses e não temos que lhes estar agradecidos.

Só temos que estar agradecidos a nós próprios.

Carlos Antunes disse...

Francisco F
Afirma que estou redondamente enganado …
Lamento, mas a haver engano não é meu, pois limitei-me a transcrever um texto do historiador António Ferronha, afirmando “que sem a revolta da Catalunha não teria sido possível a Restauração da Independência”, asserção que parece reunir a unanimidade dos historiadores.
Mas já Nietszchze afirmava “Não existem factos, apenas interpretações”, no sentido de que a verdade (histórica) não corresponde a algo acontecido (facto), mas algo criado, inventado e recheado de interpretações. Apesar de conhecermos o mundo de um modo, ele pode ser interpretado de outro modo, pois não há um sentido por detrás das coisas, mas inúmeros sentidos e perspectivas possíveis.
Quem sou eu, na minha suprema ignorância filósofica, para contrariar o grande Nietszchze e aceitar humildemente (no que toca a esta questão Revolta da Catalunha v. Restauração da Independência) que estou enganado e o Francisco certo!
Cordiais saudações

Francisco F disse...

Pela segunda vez o Carlos Antunes está enganado.

O que eu escrevi interpreta-se como "os tipos do Observador sabem muito bem o que dizem, como dizem e porque o dizem". Mas não estão corretos (e sabem-no!).


Entretanto, no último Fora do Baralho, lá tivemos, novamente, de levar com a história do "foragido".


Francisco F disse...

Esqueci-me de referir, na minha resposta ao Carlos Antunes, que o comentário sobre o "foragido", feito no programa "Fora do Baralho", da Rádio Observador foi feito por "Jorge M. Fernandes" que trabalha no "Instituto de Políticas y Bienes Públicos", em Madrid.

O dito politólogo (há-os aos montes hoje em dia) alinha pela teoria de "o problema da Catalunha resolve-se de forma política, mas não é desta maneira" (serve para qualquer proposta).

Como pode ver, Carlos Antunes, O Observador sabe onde ir buscar os especialistas.

Nuno Figueiredo disse...

Catalunya...!

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