quarta-feira, setembro 06, 2023

Ele não vai lá estar

Pelas minhas contas, foi há cerca de 15 anos. Eu ia a um médico, ao Estoril, ao final da tarde. A consulta estava atrasada, pelo fui beber um chá à Garrett, que ficava perto. A certa altura, vejo entrar na sala o meu amigo Caetano da Cunha Reis. Estava de passagem por ali, por qualquer razão. Abraços e tomámos chá juntos. 

O leitor perguntar-se-á: e que é que temos nós a ver com isso? Logo verão. Anoto apenas que o Caetano morava então perto da avenida Álvares Cabral, em Lisboa. 

Passaram mais seis ou sete anos. Marquei consulta no mesmo médico. Ao fixar a hora, que então era de manhã cedo, a senhora do consultório disse-me: "Sabe que a nossa morada mudou?". Não sabia. Estavam então em Lisboa, numas torres longe do centro. Tomei nota. 

No dia da consulta, porque conhecia mal a nova zona, fui com algum tempo, cheguei cedo, estacionei o carro e procurei um café próximo. Era muito pequeno, com poucas mesas. Entrei e, numa delas, quem é que estava? Não me digam que acham normal que o Caetano estivesse, precisamente, àquela hora, naquele esconso café, a dezenas de quilómetros do outro local? A beber um chá. Mas estava.

Daqui a horas, regresso ao mesmo médico. O sítio do consultório, de novo no Estoril, informaram-me, é agora outro. Vou cedo, para descobrir a morada certa. 

Palavra de honra que não vou resistir a entrar no café que estiver mais próximo do consultório. Embora não saiba bem para quê. É que tenho a certeza de que não vou encontrar por lá o meu amigo Caetano da Cunha Reis - com o seu sorriso, a sua barba e a sua amizade. O Caetano deixou-nos, a todos, vai para dois anos. E, podendo haver coincidências, infelizmente milagres não há.

5 comentários:

manuel campos disse...


É um gesto "in memoriam", uma forma de relembrar e homenagear um amigo, neste seu caso feito de um recordar de estranhas e felizes coincidências.

Posto perante a escolha de vários restaurantes ou cafés, numa área de Lisboa onde vá e onde tivesse o hábito de almoçar ou tomar uma bebida com algum amigo já desaparecido, é sempre naquele onde nos encontrávamos que entro.

E nem é uma opção digamos que consciente: é natural, é mesmo assim.

Flor disse...

Ainda dizem que não há coincidências.

Joaquim da Cunha Reis disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Joaquim da Cunha Reis disse...

Querido Francisco,
O Pai gostava mesmo muito de si e agradeço-lhe por fazer questão que continue a pairar por cá porque mesmo não estando, está.
Muito obrigado e um grande abraço

Nuno Figueiredo disse...

pois não.

"Quem quer regueifas?"

Sou de um tempo em que, à beira da estrada antiga entre o Porto e Vila Real, havia umas senhoras a vender regueifas. Aquele pão também era p...