Sou do tempo em que a Rua das Flores, no Porto, era um segredo discreto, partilhado por alguns sabedores. Tinha, claro, as ourivesarias, os alfarrábios do “Chaminé da Mota”, uma igreja belíssima mas escondida, a “Heróica”, uma papelaria de um casal idoso onde eu, por décadas, encomendei uns cadernos de bolso de capa preta que a “Moleskine” acabaria por “copiar”, e pouco mais.
Por ali perto, ia-se, ao final de tarde, à “Adega do Olho”, que costumava ter um presunto com que só a “Badalhoca”, que na altura operava apenas em Ramalde, era capaz de rivalizar.
Um dia, no extremo da rua oposto à estação de São Bento, ao Largo de São Domingos deu-lhe para entrar na moda. Três mesas recomendavam-se por lá: o LSD (nome “tirado” de Largo de São Domingos, nada de confusões!) para petiscos, o Traça (que, para meu gosto, já teve dias mais gloriosos) e o DOP, do agora “bi-estrelado” Rui Paula, casa sobre a qual, há dez anos (quando eu assinava “Augusto Maria de Saa” em crónicas gastronómicas na “Sábado”), escrevi um texto que ainda hoje é exatamente o que penso. Ah! E havia a “Araújo e Sobrinho”, imbatível em papéis, pincéis e lápis, hoje convertida em albergue de luxo.
Nos dias de hoje, a rua das Flores está transformada num “must” do Porto, com a turistada a fotografar tudo, com paletes de espanhóis a comerem coisas inenarráveis na parafernália de alegados restaurantes e “portwine” bares que enxameiam a artéria, onde proliferam ainda lojas com “recuerdos” turísticos de discutível qualidade e de indiscutível desinteresse.
Fui hoje “almoçar” (uso as aspas de propósito, porque se aquilo era almoço, vou ali e já venho!) a uma antiga bela ourivesaria, que se serve uma espécie de comida, num espaço lindíssimo. Hoje, fui lá três vezes: a primeira, a única e a última...
Depois, acabei a beber um café e um Jameson num fantástico hotel que o Porto Bay aqui instalou, para honra da qualidade da sua cadeia hoteleira e para benefício desta que é a mais bonita rua do Porto. Deixo aqui a imagem, para lhes abrir o apetite.
3 comentários:
A Europa-América, tem há muitos anos, uma livraria, na rua das flores. Mas, por que sinto que a editora está de patas ao ar, se calhar já não existe e já virou casa de pasto (comes e bebes).
Um café e um jameson. Em copo de balão, com uma pedra de gelo? Parece-me muito bem, quando regressar ao Porto visitarei.
Lúcio Ferro:
Deixe o gelo com os esquimós, e não mate o whisky, por favor !!!!
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