Há já bastante tempo, por esta altura, a segunda página do “Expresso” trazia-nos sempre um balanço sobre o ano de mandato do presidente da República de turno. Assinava-o Marcelo Rebelo de Sousa. Depois, na TSF, o chefe de Estado do momento tinha direito, com toda a certeza, a uma professoral nota, dada pelo comentador mais temido do país. Mais tarde, nas televisões (nunca na SIC, porque as coisas são o que são), essa avaliação crítica chegava-nos com a regularidade da aletria.
Esse tempo acabou. O comentador de então mudou de estatuto e cabe-lhe agora, pela vontade inequívoca dos portugueses, o papel de comentado. Os “tudólogos” televisivos encarregar-se-ão (curiosamente, na SIC) dessa tarefa, com o insuperável rigor da sua subjetividade. Mas cada um de nós fará também a sua avaliação, porque somos nós, os que votaram ou não neste presidente, quem tem o direito maior sobre o seu destino político.
Julgo não estar a generalizar sem legitimidade se disser que os portugueses fazem, nos dias de hoje, uma avaliação francamente positiva sobre o exercício do presidente da República. À direita, alguns terão superado o trauma inicial de assistir ao que parecia um “namoro” com a Geringonça, continuando a não apreciar o que entendem ser a banalização da sua presença e da sua palavra. À esquerda, começa a gerar-se o grupo dos “eu bem dizia!”, mas há também muito quem tenha memória e se congratule ao fazer o fácil contraste com passado. Enfim, nada que não fosse expectável.
Que farei com esta presidência?, perguntar-se-á hoje o titular de Belém. O senhor presidente é o melhor conselheiro de si próprio, porque a sorte que teve na vida deve-a, em escala esmagadora, apenas a si mesmo e à sua auto-confiança. Mas exatamente por isso, permita-me que lhe diga, pode correr o risco de pensar que nunca se engana e de sentir que raramente tem dúvidas (onde diabo é que já ouvi isto?). E o mundo pode trazer-lhe surpresas.
Por isso, senhor presidente, não querendo fazer o papel dos “visiteurs du soir” que François Mitterrand acolhia no Eliseu, ao baixar do sol, gostava de dizer-lhe que, não tendo votado em si mas encarando poder fazê-lo no futuro, espero sinceramente que continue fiel à imagem de um homem de Estado que não se sente tentado, de forma artificial, a fazer reequilíbrios político-partidários. Todos sabemos que eles podem facilitar manejos numa certa leitura do semi-presidencialismo, mas gostava também de lembrar que eles afetam esse valor supremo no “portfolio” de um político que é o seu crédito de confiança, o qual, lembro, não é sinónimo de popularidade.
Por isso, senhor presidente, nestas excelentes Festas que lhe desejo, gostava que no nosso “bolo rei” continuasse a sair aos portugueses a prenda e não a fava.
6 comentários:
Ao contráro de outros, seus antecessores no cargo, o actual PR, MRdS, descobriu outra fórmula para garantir o 2º mandato mesmo não parando de comentar, a seu gosto, e a torto e a direito.
Nem tenta não desagradar a PS (ou PSD) durante o 1º mandato. Ultrapassa-os por cima. Entre selfies, beijinhos e abraços vai somando os seus (directos) futuros eleitores à esquerda e à direita. Melhor que uma Raínha coberta de jóias.
Se lhe apetecer garantido tem um 2º mandato. Se lhe apetecer sair da arena, sai em ombros. Afinal o cargo de PR, embora constitucionalmente débil, é uma grande "ego-trip". Genial.JS
Parece que a fava saiu aos espanholecos na Catalunha, hem?
"Ah! Era você! A mim bem me parecia que, desse lado da sala, soprava um vento de esquerda..."
Um selfie made man
Guess who
Se este "ano foi saboroso" espero que para o próximo não seja "muito apetitoso".
Passam-se coisas tão diferentes em todos os países ocidentais e se desenvolvem a uma velocidade tal que quando menos esperamos as notícias de ontem já não estão actuais. Onde isto tudo irá parar.
Quem diria, o filho do Doutor Baltazar Rebelo de Souza, as surpresas infindáveis que iria proporcionar a todos (todos) os portugueses.
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