Foi num café do Porto, perto da Boavista, onde eu procurava concentrar-me. Na tarde da passada quinta-feira, tinha dois artigos para enviar para jornais e ainda necessitava de arrumar as notas da apresentação de um livro que, dali a pouco, iria fazer na Casa da Música.
Nunca fui grande adepto de ler ou escrever em cafés. Disperso-me com facilidade e as conversas distraem-me. Por isso, quando vi um cavalheiro bastante idoso sentar-se ao lado de outro que, desde há minutos, tinha ocupado uma mesa ao meu lado, pressenti que o meu sossego estava a terminar. Demorei pouco tempo a ter de concluir isso mesmo. Mas como os dois cavalheiros, gente na casa dos oitenta, não tinham tirado os sobretudos, nem sequer os chapéus, tive alguma esperança em que o interlúdio na minha concentração acabasse por ser breve. Nisso enganei-me.
A conversa revelou-se apocalíptica, no estilo “taxista” fino, de ambos os lados: “A culpa foi do Afonso Henriques, que dividiu a península”; “Eles hoje são uns piores que os outros”; “Os comunas tomaram conta de tudo”; “O Costa e o Vieira da Silva devem estar metidos naquilo da Raríssimas até ao pescoço”; “O fim do Ultramar acabou com Portugal”; “Este regime acabou”; “O Marcelo é um banana” e coisas assim. Salazar não veio a jogo, mas estava subentendido como um referencial comum.
Foram aí uns dez minutos neste tom, ”um diz mata e outro diz esfola”, como pensava já difícil de escutar, em 2017. Até que chegou o “grand finale” (e foi-o apenas para mim, porque me levantei, saí e fui à procura de outro poiso):
- Você sabe o que se estava a precisar? Era de um golpe militar, que varresse esta gentalha toda e pusesse ordem nisto!
- Qual quê! Já não há tropa decente para fazer isso! A última vez que o fizeram, no “vinte cinco do quatro”, saiu um regime de esquerda. Isto já não se endireita...
E andava eu a queixar-me de algumas conversas em clubes privados!
3 comentários:
Deixei de dar qualquer credibilidade a notícias sejam elas de que fonte brotarem!
Só tenho “alguma” consideração pelo que observo e tomo contacto! E tenho bastante contacto!
Conheço legislação, por exemplo, que foi despudoradamente “fabricada” em favor de corporação.
Mas esses títulos que por aí pululam tais como:
As leis são feitos em noites de grande bebedeira ou
https://eco.pt/opiniao/pela-calada-do-natal-aconteceu-o-saque-partidário
Só podem levar a essas conversas de café e quiçá a outras...
A Democracia é como as mulheres: põe-nos a cabeça em água mas no fim concluímos que não há melhor.
Mas isso sou eu a pensar!...
Desde que não se "invoque o nome de Salazar em vão", não é condenável com o devido respeito, invocá-Lo.
Até hoje ainda se diz, "ó-marquês-bem-cá-a-baixo-outra-vez", no entanto já não há távoras nem jesuitas.
Isso aconteceu com idosos.
A juventude, aquela que ainda consegue pensar, vai pela mesma.
No entanto com outras referências que não estão nada longe desses temas de conversa mas não tão assintosamente porque sabem que teem de cuidar da imagem para arranjar emprego.
Isto, quanto às ideias, ou anda para uns rapidamente ou para outros está tudo parado. Espero que não haja nenhuma colizão.
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