quinta-feira, dezembro 07, 2017

Gaffes


Há dias, um site que tem pretensões a ser voz da intelectualidade da direita, dedicou largos minutos a mostrar, sublinhando-os com pretenso humor, os gestos físicos involuntários de alguns membros do governo, durante as horas de perguntas, na sessão pública comemorativa dos dois anos de trabalho do executivo. 

É claro que, como acontece a todo e qualquer normal cidadão, alguém sentado por largo tempo numa cadeira acaba forçosamente por, num determinado momento, coçar a orelha, o nariz ou passar a mão pelo queixo, além de outros gestos automáticos (pegar no telemóvel, sussurrar algo ao vizinho de cadeira, etc). Se a cena for filmada por algumas horas, se se recortarem precisamente os segundos em que esses gestos tenham lugar e se se os juntar todos numa sequência, cria-se um ritmo de imagem que pode parecer ridículo. Mas issó só resulta assim porque, artificialmente, o “jornalista” - esse, pelos vistos, com todo o tempo do mundo para se coçar... - juntou artificialmente as cenas que, malevolamente, introduzem uma imagem que se pretende apoucar. Algum dos ministros cometeu, pelos gestos que fez, alguma gaffe? Não, mas algum “jornalismo” quis tirar um efeito que pretende assimilar a lapsos públicos.

Ontem, fui a um telejornal da TVI e, no fim de uma série de perguntas sobre Trump e a Palestina, falei dos acordos de “Camp David e Paris”. Continuei a responder mas (“on the back of my mind”) dei-me conta de que deveria ter dito “de Washington e Oslo” (a origem do erro é que, em política internacional, nos rotinamos a falar dos acordos “de Dayton e de Paris”). Um lapso, numa referência, creio que perdoável, numa conversa de dez minutos.

Mas, pelos vistos, nem todos têm direito ao “perdão”. No domingo passado, eu estava sentado em frente a António Costa, numa cerimónia no Palácio da Bolsa, no Porto. Costa fazia um discurso de improviso. A certo passo, numa frase, trocou a palavra “emprego” por “desemprego”. Pode acontecer a qualquer pessoa, num discurso corrido, e não lido, de vinte minutos. Eu disse logo para a pessoa ao meu lado, que aliás nem tinha notado o lapso, pensando ter ouvido mal: “Esta vai ser a notícia!”. Meu dito, meu feito. Uma folha informativa colocou a gaffe a todo o esplendor da sua primeira página do dia seguinte e, cúmulo dos cúmulos, uma figura da oposição veio nela indignar-se com o lapso, considerando-o significativo e freudiano. 

Isto bateu no fundo, em matéria de algum “jornalismo” (na polítca, nem é bom falar). E se o outro, o verdadeiro jornalismo, sem aspas, não se indignar e souber reagir contra as práticas desses “colegas”, corre o risco de cada vez mais ser metido no mesmo saco. De lacraus, claro.

10 comentários:

Reaça disse...

E se Costa foi uma gafe? Centeno outra gafe? Durão e Santana duas gafes? Guterres a gafe maior?

Anónimo disse...

Ó, meu caro senhor, e as "gaffes" com as bandeiras? Também são birra? Quando Costa deu a bandeira de pernas para o ar ao Cavaco? Quando o Costa apareceu numa conferência em Espanha junto da bandeira de pernas para o ar? Quando o Costa - por duas vezes, numa visita oficial à Tunísia -, apareceu junto de bandeiras portuguesas de pernas para o ar... também é birra da direita?

Já alguém da comitiva portuguesa à Tunísia foi chamado à ordem?

Anónimo disse...

É pena que FSC só olhe para um dos lados. Talvez a sua memória seja curta e já se tenha esquecido da enorme campanha contra PPC a propósito da historieta do "piegas", ou da outra campanha contra MFL a propósito da "suspensão da democracia".

Convenhamos, até FSC, já dedicou algum do seu tempo a analisar a "toilette" de Assunção Cristas...

Anónimo disse...

Essa reportagem das imagens insere-se numa abjecta campanha da direita que também divulga textos falsos de personalidades prestigiadas. É o perigo das redes sociais. Já a história do desemprego é um lapso tão óbvio que só partidos perdidos e abaixo do nível da democracia o podem usar. E é bem pior ainda que sejam políticos a usá-lo que a já irrecuperável comunicação social
Fernando Neves

Anónimo disse...

Essas gaffes são "trocos", com ou sem Costa ou Centeno, dado que O DIABO continua atrás da porta:DÍVIDA GALOPANTE



Entretenha-se o escriba deste blog com a espuma dos dias.....

Anónimo disse...

@Reaça

Uma grande gafe, gafento, mancada sai-me voçê

Substantivo feminino

1. Dito ou comportamento irreflectido. = DESLIZE, INCONVENIÊNCIA

3. Engano, indiscrição por lapso ou negligência. = ERRO
Palavras relacionadas: gafento, mancada.

Anónimo disse...

Muita inveja tem gerado esta Geringonça.
Francisco F, Teixeira

Anónimo disse...

O anónimo 7 de dezembro de 2017 às 13:49 tem óbvios problemas cognitivos.

Manifesta imbecilidade hermenêutica e desonestidade intelectual, não há como fazer por menos, Ao comparar uma gralha do discurso com declarações feitas com intencionalidade, com completa concordância entre o seu sentido e a intenção consciente com que foram feitas essas declarações.

Confunde marmelos com a feira de Castro, tal é o esparvejar do que escreve.

Anónimo disse...

@Anónimo 8 de dezembro de 2017 às 08:16

Totalmente de acordo consigo.

Digo eu que nos ultimos anos surgiu (ou saiu do armario) uma especie de seita religiosa com tendencias bipolares, em que os padroes duplos sao o padrao, a qual segue cegamente como um deus o seu querido lider, o seu profeta pregador de massama.

Ontem li um estudo do instituto Ipsos Mori Ipsos Mori

"Perceptions are not reality: what the world gets wrong

The Ipsos 2016 Perils of Perception survey highlights how wrong the public across 40 countries are about key global issues and features of the population in their country.
"

em que uma das conclusões é:

Os entrevistados com menos noção da realidade são justamente aqueles com maior confiança em suas capacidades de percepção.

Como esta conclusão se aplica aos seguidores cegos do querido lider, profeta, pregador de massama.

Anónimo disse...

8 de dezembro de 2017 às 11:51, Tem razão, sim.

Dois tipos aparecem muito aí. O analfabeto que julga que por ter acesso teclado consegue escrever coisas válidas, como esse aí que eu referi. E o aldrabão trafulha que acha que se atirar mentiras à ventoinha alguém há-de cair, também como esse aí que eu referi.

Acumulam.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...