sexta-feira, dezembro 22, 2017

2017 - o ano de Trump

O mundo mudou por virtude da eleição de Trump? Ou o surgimento de Trump é igualmente consequência do estado do mundo e dos efeitos que isso teve na potência que, no Ocidente, nos habituámos a ver liderá-lo? Seria Trump plausível, como escolha presidencial, se acaso fossem outros os equilíbrios prevalecentes à escala interna americana e no plano global?

O mundo exterior não viu chegar Trump. Acordou tarde para o que lhe pareceu ser uma caricatura grosseira e de protesto de uma certa América “enraivecida”, marginalizada face às consequências da partilha do progresso e excluída pela aceleração da modernidade produtiva. Confiou em que, tal como sempre acontecera no passado, os Republicanos acabariam por escolher alguém da sua elite para representar também essa “América profunda”, que era conhecida dos filmes mas que nunca ninguém acreditou que pudesse ser projetada no poder em Washington. 

O tal mundo de fora não se preparou para que essa América chegasse algum dia à Casa Branca. Em especial, nunca acreditou que isso viesse a acontecer imediatamente após um presidente que, como ninguém, havia simbolizado a consagração da emancipação étnica, um sonho de esperança que fora de Lincoln a Luther King. Nunca, depois desse mito que se chamou John Kennedy, o mundo fora tão maioritariamente adepto de um chefe de Estado americano como o foi de Obama, um homem que assumiu um discurso humanista, recheado dos melhores valores e que saía da função presidencial com uma notável taxa de aprovação. 

A surpresa, contudo, não parou aí. A América que comandara a criação do modelo institucional multilateral, que fora a campeã do livre mercado, que desenvolvera no seu seio todo o arsenal teórico do capitalismo, essa mesma América surgia agora com reflexos de potência temerosa, cheia de tiques protecionistas, oposta aos acordos de livre comércio que desencadeara, acossada pelo poder económico-financeiro da China, desdenhosa da Europa cuja união ajudara a promover. O isolacionismo não era, por ali, um reflexo novo, mas o modo como surgiu foi inédito. É que, por algum tempo (pouco), essa América chegou mesmo a colocar em causa o seu papel de líder da segurança ocidental, mostrando uma bizarra afeição a um poder iliberal e autoritário como era o da Rússia de Putin. 

Por todas as más razões, não podemos fugir a uma c-onclusão: o ano de 2017 é o ano de Trump. É que, mesmo como um poder negativo, os EUA continuam a sobredeterminar a agenda global. Tendo feito desaparecer a expetativa de reforço dos mecanismos multilaterais, nomeadamente na área comercial e ambiental, lançando um desafio inédito ao trabalho da ONU, incendiando o Médio Oriente - com o acicatar da Arábia Saudita, a desconfiança sobre o compromisso nuclear com o Irão e, agora, com a decisão sobre Jerusalém-, alimentando uma linguagem jingoísta sobre a Coreia do Norte, mantendo uma estranha ciclotimia na relação com a China, os Estados Unidos parecem apostados em inverter aquele que parecia ser o seu lema de interesses do passado: serem respeitados e não temidos. Além disso, Washington introduziu um inédito fator de incerteza e imprevisibilidade na projeção internacional do seu poder, atitude que está muito mais próxima da dos regimes autoritários do que de uma das mais afirmadas democracias históricas do mundo. Basta observar o caráter desorientado de Londres e de Berlim, dois aliados tradicionais, para se perceber como se romperam profundamente os equilíbrios de confiança.

Nestas ocasiões, costuma haver estratégias alternativas, mas o facto é que não parecem surgir ideias brilhantes para ultrapassar este estado de coisas, salvo esperar por um improvável “impeachment” ou por uma não reeleição de Trump, a qual, aliás, não é implausível. Estamos assim perante um ambiente confinado a um mero controlo de danos, dos quais, sejamos justos, os Estados Unidos são a primeira vítima.

Com Trump, 2017 foi um ano complexo para o mundo. Especular como teria sido com Hillary Clinton na Casa Branca não deixaria de ser um exercício interessante, porque há também muitos que pensam que a agenda da candidata derrotada trazia riscos sérios no quadro europeu, no relacionamento com a Rússia, que poderiam ter conduzido a consequências dramáticas. Pode ser que sim, mas o sentimento maioritário parece ir no sentido de considerar que pior do que Trump seria impossível.

7 comentários:

Anónimo disse...

Adoro estes textos cheios de distorções e choradinhos

Vamos a isso

"O mundo mudou por virtude da eleição de Trump?
Ou o surgimento de Trump é igualmente consequência do estado do mundo e dos efeitos que isso teve na potência que, no Ocidente, nos habituámos a ver liderá-lo? "
O mundo (espaço, tempo, acontecimentos e tendencias) não é estatico, pelo contrario esta em constante mudança.
Liderar ???? Não impor aos vassalos e agredir os que querem controlar o seu proprio destino
Ate ja os Estadunidenses estão fartos da Plutocracia que os oprime cada vez mais.
No ano passado morreram mais Estadunidenses civis mortos pela policia que soldados em teatro de guerra.

"Seria Trump plausível, como escolha presidencial, se acaso fossem outros os equilíbrios prevalecentes à escala interna americana e no plano global?"
Lembra-se de Bernie Sanders que foi vergonhosamente afastado pela Rainha Clinton ???
Ou sera que o seu conceito de democracia e o povo escolher apenas os ja escolhidos e aprovados pelas elites divinas. Sera isso democracia ou antes um simulacro de democracia?

"O mundo exterior não viu chegar Trump."
Nao ??? E o mundo interior ?
So quem e cego ou anda a dormir ou numa viver na sua bola de cristal e que nao viu.

Anónimo disse...

"marginalizada face às consequências da partilha do progresso e excluída pela aceleração da modernidade produtiva"
Mais um truque de linguagem. Vamos corrigir.
Foram postos de trabalho perdidos que as multinacionais dos eua transferiram para a China onde os vencimentos eram na magnitude das centenas de vezes mais baixos que criaram esse sentimento.
Querem ir para a China produzir a preço de banana para vender aqui (eua) a preco de caviar para engordar os lucros como nunca, entao que vendam onde produzem e acho muito bem.
Esta estrategia tb tinha o intuito de fazer aumentar a classe media da China para fazer cair o regime so que o tiro saiu pela culatra pois os Chineses aproveitaram a abebia e nao cairam na armadilha.


"homem que assumiu um discurso humanista, recheado dos melhores valores"
Sim o premio nobel da guerra, passou os seus dois mandatos em guerra.. Nem Bush esteve metido em tantas ao mesmo tempo nem tanta gente morreu com ataques por drones.


"A América que comandara a criação do modelo institucional multilateral, que fora a campeã do livre mercado, que desenvolvera no seu seio todo o arsenal teórico do capitalismo,
essa mesma América surgia agora com reflexos de potência temerosa, cheia de tiques protecionistas"
Sim muito multilateral, quando nao mentem, nem infrigem a lei internacional ao iniciar guerras baseadas em mentiras, sem autorizacao do conselho de segurança da onu, intreferindo em processos eleitorais de outros paises ou derrubando governos que nao sao submissos.
Sim livre mercado, quando estão em vantagem, nem que seja da espiolhagem, assim de repente lembro-me do concurso que a AirBus ganhou para o fornecimento de avioes para um pais arabe mas que acabou por perder o negocio pq a espiolhagem dos eua puseram a boca na botija que tinha havido luvas, como se eles nao fizessem o mesmo. Ou o concurso de avioes tanque em que a AirBus foi afastada em beneficio da Boeing.

Anónimo disse...

"oposta aos acordos de livre comércio que desencadeara"
O protocolo de Quioto (Assinado em 11 de dezembro de 1997) que os eua promoveram aos 7 ventos mas depois cortaram-se foi na era de Bill Clinton o POUS (President of the United States)
Mas la nisso desses acordos manhosos que ate a nossa querida Uniao Europeia liberal , democratica , que respeita a vontade dos povos mas andou a cozinhar pela calada e secretamente (lembra-se do escandalo quando se soube do TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership)??? Ou ja se esqueceu ?) acho que Trump fez muito bem.
Onde ja se viu um estado democratico de direito submeter-se as regras de multinacionais. Podendo ser processado por uma multinacional caso essa pudesse imputar diminuicao de lucros devido a uma accao do estado como aconteceu num pais da america latina onde a philip morris (cigarros) processou esse estado por lhe ter diminuido os lucros devido a uma campanha anti-tabaco.
Ou privatizar os fundos da segurança social para a malta de wall street andar a gastar em putas cara e cocaina.

Anónimo disse...

"poder iliberal e autoritário como era o da Rússia de Putin"
Esta entao e demais. Entao na Russia nao ha eleicoes? Nao ha a Duma (Senado)?
Ou sera que estas sao eleicoes como o Sr Embaixador gosta em que o povo escolhe apenas os ja escolhidos e aprovados pelas elites divinas mas estes elites divinas nao sao as do seu gosto ?
Ja reparou na sua contradição ???
Acha mesmo que os Russos depois da vacina que apanharam nos anos 90 em que o poder estava nas maos de um bebado muito apreciado pelo ocidente, em que a sida, as drogas a mafia se espalharam como a peste teem vontade de repetir a experiencia ?
Pense la um bocadinho.

Joaquim de Freitas disse...

O Senhor Embaixador acaba o ano em força, forçando a opinião de “Time” , que se prepara a eleger “Trump” a personalidade do ano ! Por todo o mal que fez, esta distinção era previsível.

Ninguém antes dele dividiu o mundo como ele, dentro e fora dos USA, ninguém foi tão universal e consensualmente detestado, debatido, combatido, comentado, hostilizado, desprezado e mesmo insultado. Bateu George Bush, que portanto tinha altos pergaminhos como comandante das forças do Mal.

Palhaço, malcriado, preconceituoso, inconsequente, indecente, despudorado, idiota, machista, foram os adjectivos mais frequentes. Tenho muitas relações nos EUA Nunca os senti tão envergonhados do seu presidente.

O país que inventou o termo “Manager”, não foi capaz de encontrar melhor que um empresário de concursos de beleza para a função de dirigente da maior potência mundial.

Esta nação, que já nos tinha mergulhado numa crise , a de 2007-2008, da qual ainda não conseguimos recuperar, que provocou o desgaste de grandes progressos sociais adquiridos com grandes esforços no passado, conseguiu criar mais instabilidade no mundo que nos anos cruciais da guerra fria.

E se devemos crer no que disse o ministro alemão das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, que alertou: "o recuo dos Estados Unidos, sob Donald Trump, de seu papel de garantidor confiável do multilateralismo ocidental" deve levar os europeus a um protagonismo. Porque, completou, o mal está feito, e "isso não mudará fundamentalmente na próxima eleição", muito mal foi feito, irremediavelmente.

Anónimo disse...

"É que, mesmo como um poder negativo, os EUA continuam a sobredeterminar a agenda global."
Sim claro. Viu-se na Siria .
A nivel de serem a maior economia do mundo, por algumas métricas, a China já ocupa o topo da pirâmide e continuará a ganhar influência na economia global nos próximos anos.

E ja nao tenho paciencia para rebater mais .... sonhos, para nao ser deselegante embora esperasse algo be melhor de alguem que supostamente deveria estar bem informado ou fosse honesto na exposição.

Anónimo disse...

Este texto com todas as suas armadilhas e subtilezas mais pareceu ser como que um instrumento para culpabilizar trump por transformar o sonho (e preciso estar a dormir para vive-lo) dos eua numa catastrofe.

Ja agora e como referi no inicio o mundo (espaço, tempo, acontecimentos e tendencias) não é estatico, pelo contrario esta em constante mudança e o eixo do mundo ja se mudou para a Asia.
Nao e por nada que os eua estao a afundar (ja vao com 25 trilhões de divida , nas contas oficiais fora o que esta escondido), a europa que trazia alegria e prosperidade esta num pantano, a grande crise foi em 2008 e ainda nao saimos dela.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...