sábado, dezembro 23, 2017

Correios líbios



Foi em dois anos consecutivos: 1976 e 1977. Por razões profissionais, tive de me deslocar à Líbia. Nesse tempo, o envio de postais era um hábito que mantinha com regularidade, sempre que ia a algum destino estrangeiro mais bizarro. E a Líbia era, claro!, uma terra bizarra...

No primeiro desses anos, enviei uma meia dúzia de postais, a familiares e amigos. Regressado a Portugal, verifiquei que ninguém tinha recebido. Levei aquilo à conta da desorganização do serviço postal “tripolitano” e nunca mais pensei no assunto.

No ano seguinte, na nova visita à terra do senhor Kadhafi, reeditei o gesto de escrever uma palavras nuns postais manhosos que consegui comprar na receção do hotel. Lembro-me da descrença que me invadiu ao entregá-los. Pensei para comigo: vai acontecer-lhes o mesmo que aos do ano passado...

Estava enganado. Os postais chegaram. Melhor: chegaram, precisamente no mesmo dia, os desse ano e os do ano anterior! Os destinatários estavam banzados com a minha generosidade epistolar. Telefonei a companheiros de viagem, que tinham tido uma experiência exatamente igual e também se interrogavam com o sucedido.

Passei estes quarenta anos com a dúvida: o que teria acontecido? Haveria um cacifo de Portugal, pouco ou nada usado (nessa altura, quase não havia rasto de portugueses na Líbia), onde os nossos anteriores postais tivessem ficado a apanhar areia do deserto, tendo agora sido descobertos com a chegada de nova correspondência? Conto esta história há vários anos e nunca resolvi o mistério. 

Lembrei-me disso ontem, ao referir por aqui a minha saga com os (atuais) Correios portugueses. Estar-se-ão a transformar em líbios? Sugiro que, no “logo” da empresa, troquem o cavalo por um beduínico camelo.

1 comentário:

Constantino Ubaldino disse...

resido no Brasil,e sempre que necessitei dos serviços dos correios de Portugal fui muito bem servido, por aqui uma resposta dos correios do Brasil levam 3 meses, em Portugal no mesmo dia.
CTT parabéns!!!

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...