domingo, dezembro 10, 2017

A diplomacia como barómetro democrático


Ali Abdullah Saleh presidiu mais de 30 anos ao Iemen. Embora afastado do poder, foi, há dias, morto numa emboscada, no quadro da guerra que arrasa o país - um conflito entre sunitas, tutelados pela Arábia Saudita, e shiitas, obedientes ao Irão. Quem tem mais idade recorda que houve dois Iemen, um “do Norte” e um “do Sul”. Uniram-se formalmente em 1990, mas os ódios étnico-religiosos não terminaram nunca.

Estava a ler uma notícia sobre isto quando me veio à memória um episódio passado comigo em Nova Iorque, em 2001.

Tinha chegado há escassas semanas e fiquei sentado, num almoço, ao lado do embaixador do Kuwait. Perguntei-lhe há quanto tempo estava em posto, em Nova Iorque. A resposta deixou-me siderado: "21 anos".

Comentei que, assim sendo, deveria ser o "decano" dos embaixadores. Respondeu-me que não, que o colega do Iémen estava por lá há ... 28 anos! Já vinha de um dos Iemen e foi cooptado na unificação do país.

Todas as regras têm exceções, mas pode dizer-se que manter diplomatas por longo tempo no mesmo posto corresponde, em geral, a uma prática própria de regimes autoritários.

As democracias praticam a rotatividade dos seus representantes, de X em X anos. Contudo, vale a pena registar que, mesmo em regime democrático, quando às vezes a rotatividade é excessiva, isto é, quando diplomatas, sem outras razões evidentes, não cumprirem um mínimo de 3 a 4 anos no mesmo posto, isso pode indiciar sectarismo político e discricionaridade. E fiquemos por aqui...

A gestão diplomática é um belo barómetro democrático.

3 comentários:

Anónimo disse...

Pois é
Fernando Neves

João Cabral disse...

E tem plural, claro, que será Iémenes.

João Cabral disse...

Só escreve bem Iémen uma vez. Não quer corrigir?

... por aí além!

No sábado, no final de um espetáculo que me não acrescentou muito, dei comigo a usar uma frase de um outro tempo: não foi uma coisa por aí a...