Dificilmente se encontrará uma relação política mais conflitual na democracia francesa do que aquela que dividiu Jacques Chirac, que agora morreu, e Giscard d’Estaing. Dois estilos, duas lideranças, dois destinos, dentro da direita e da História francesas. Curiosamente, “une-os” a princesa Diana.
Giscard escreveu um livro de ficção,”La Princesse et le Président”, onde efabula sobre uma relação amorosa que poderia ter existido entre Diana de Gales e um presidente francês, figura em que o retrato do próprio Giscard assenta como uma luva. A imprensa britânica reagiu, entre o furioso e o desdenhoso, ao que entendeu ser uma tentativa de Giscard de sugerir a sua inclusão na lista de amores da princesa. Giscard, mas só depois de muito instado, fez saber tratar-se de uma mera ficção, algo cuja verosimilhança só deveria ser medida à luz das circunstâncias proporcionadas pelos encontros oficiais das duas figuras. A propósito de este livro de Giscard, Chirac fazia, ao que se sabe, comentários hilariantes, depreciativos do seu rival político.
Mas o que é que Jacques Chirac tem (também) a ver com Diana? A tragédia desta última. Na noite em que a princesa morreu, em Paris, no acidente no túnel de Alma, em 31 de agosto de 1997, a primeira preocupação das autoridades policiais francesas foi avisar o Presidente da República. Tudo foi tentado, a começar pelo palácio do Eliseu. Mas Chirac estava, como dizem os franceses, “aux abonnés absents”. Nem os próprios agentes dos serviços secretos que o protegiam, 24 sobre 24 horas, sabiam onde ele se encontrava. O presidente tinha-se permitido uma “escapada”, num dos seus tradicionais “affaires” românticos, que a sua mulher Bernardette aturava desde sempre, não contando, naturalmente, que essa ia ser precisamente a noite em que uma princesa britânica iria morrer à saída de um túnel rodoviário sob o Sena, em que deveria ter sido ele mesmo a informar as chefias britânicas. Só muitas horas mais tarde, foi possível encontrá-lo. Pode assim dizer-se que histórica rapidez de Chirac nos seus encontros sexuais - “cinq minutes, douche comprise” - não se tinha confirmado nessa noite.