A NATO anunciou que vai
reforçar militarmente os contingentes de que dispõe no Leste europeu, junto às
fronteiras da Rússia.
Não é popular, no discurso português de
segurança e defesa, discutir, ainda que minimamente, as
opções americanas que sobredeterminam de forma decisiva as políticas da Aliança. No nosso país, o obsessivo interesse em sermos "bem vistos" do outro lado do
Atlântico
tem-nos conduzido a um acrítico seguidismo, teorizado por uma escola que faz do ultra-atlanticismo o seu "fond de commerce". No
limite, lembremos,
foi o que nos levou à vergonha da « cimeira das Lajes ».
Penso, com a maior sinceridade, que a
NATO – esse
heterónimo dos EUA - continua a
justificar-se e que o nosso país tem um interesse estratégico em dela continuar a fazer parte. A Aliança mudou de natureza com o fim da Guerra Fria, mas persistem cenários de
risco que a continuam a justificar.
A Rússia, não sendo um inimigo, não é um poder qualificável de plenamente democrático, por não oferecer garantias de se subordinar a um quadro de respeito
estrito pelo Direito Internacional, pelo necessita de conhecer, com clareza, as "linhas vermelhas" que não deve ultrapassar, na observância do equilíbrio de poderes posterior à
Guerra Fria. E só a NATO as pode definir.
O que escrevi levar-me-ia a louvar a
NATO e o seu trabalho, não fora o facto da organização ter sido visivelmente
"raptada", nos últimos anos, por uma agenda de pendor radical, que soma algumas tentações de proselitismo
político-militar dos EUA com a paranóia de alguns países que o alargamento da
NATO colocou junto às fronteiras da Rússia - a tal
"nova Europa" que Donald Rumsfelt se gabava de pôr em choque com o
resto do continente. O que se passou na Ucrânia, a reboque de uma União Europeia
que teve a insensatez de se deixar arrastar para políticas claramente provocatórias, que de modo irresponsável se permitiram abalar equilíbrios geopolíticos que haviam provado ser marcos da segurança coletiva, mostrou que "brincar" com a História pode ter um elevado preço.
Portugal é um país frágil,
nomeadamente em matéria de segurança e defesa. Depende bastante da NATO, pelo não quer ser visto nesse contexto, ainda que minimamente, como um "trouble-maker". Além disso, um governo como o atual, que é olhado com
elevada suspeição pelos meios atlanticistas, está talvez mais condicionado do que qualquer outro, pelo que será
sensível ao senso comum, prevalecente nos corredores das Necessidades e do Restelo, de que "com a NATO não se brinca".
Até posso estar de acordo com isso. Mas espero que Lisboa, no âmbito de uma
NATO que parece embalada por um perigoso tropismo jingoísta, que olha Moscovo
como se tratasse da capital da URSS, saiba ter coragem para dizer, alto e bom
som, que com a paz também não se brinca.