segunda-feira, junho 13, 2016

Privilégios

Aquele ministro e eu entrámos no avião, de regresso a Lisboa, ambos vindos de uma conferência numa determinada capital. A lotaria dos lugares tinha-o colocado duas ou três filas atrás da minha.

Nesse tempo dos anos 90, eu era secretário de Estado. Ao meu lado, por um azar das arábias, acabou por me calhar aquilo que os brasileiros designam por "um chato de galocha". Era uma figura portuguesa conhecida, palrador incessante, do género muito inquisitivo, dos que nos não deixam ler ou trabalhar. Por simpatia, lá fui aturando a personagem, que não "despegava" um minuto da conversa.

A certo passo, olhando para trás, descortinei o sorriso gozão do meu colega de governo, que, conhecendo-me e conhecendo a figura que o destino colocara como meu vizinho, devia pressentir o esforço que eu estava a fazer para aturar aquela imensa "seca".

Mais de metade do voo já era passada quando um assessor do ministro passou perto da minha fila e me estendeu um envelope: "o ministro manda-lhe isto".

Abri discretamente o envelope, não fosse a curiosidade do vizinho estender-se ao seu conteúdo. Dizia mais ou menos o seguinte: "Sabes qual é a diferença entre um ministro e um secretário de Estado? É que os ministros conseguem não ter de aturar chatos como o que vai ao teu lado..."

Contive a custo a gargalhada!

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Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...