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sexta-feira, janeiro 13, 2012

Reformas "milionárias"

Nenhum diplomata teve, tem ou terá reformas "milionárias". Basta consultar o "Diário da República" para saber isso. Estou, por essa razão, bastante à vontade para falar deste assunto. E para dizer que a recorrente menção na imprensa de referências a reformas "milionárias", dentro da função pública, releva, na melhor das hipóteses, de um culposo desconhecimento das coisas e, na pior e mais provável, de má fé e despeito.

As reformas da função pública, consideradas "milionárias" ou não, são pagas na razão direta dos descontos que as pessoas fizeram ao longo da sua vida de trabalho, pontualmente retirados "à cabeça", antes dos salários chegarem aos bolsos dos trabalhadores. Quem mais descontou, recebe mais: tão simples como isso. Ao pagá-las, após o período legal em que cada um tem direito (período que, infelizmente, o Estado tem vindo a tratar, nos últimos anos, como uma "moving target"), o Estado não está a fazer nenhum favor a ninguém, mas, muito simplesmente, a retribuir aquilo que retirou ao salário do funcionário, ao longo de décadas. Dinheiro que - diga-se - utilizou, nesse período, sem pagar juros a ninguém.

A demagogia, tal como a mentira, dá excelentes títulos. Pena é que não surjam a terreiro vozes autorizadas, denunciando-a e não se colando a um processo que não é mais do que uma lamentável diabolização do serviço público.

sexta-feira, dezembro 30, 2011

Jornalismo

Há algumas semanas, em Lisboa, num agradável almoço com Baptista Bastos e João Paulo Guerra, muito se falou das "calinadas" do jornalismo contemporâneo. Mas ambos os meus interlocutores lembraram uma imensidão de histórias passadas, que ficaram gravadas na memória de gozo coletivo.

A melhor das frases foi citada pelo João Paulo Guerra, quando recordou esta "pérola" que abria uma reportagem: "Era meia noite e, no entanto, chovia..."

domingo, dezembro 25, 2011

Anónimos

Não, este post não é sobre os prudentes comentadores deste blogue que, por modéstia, não nos privilegiam com os nomes e apelidos, obrigando-nos a um esforço de imaginação sobre quem poderá estar por detrás dos seus judiciosos textos.

A história é do tempo da velha Emissora Nacional e foi-me ontem contada por um amigo.

Uma locutora, com aquele serenidade das gerações em que a "locução ofegante" ainda não fizera escola e se não transformara em pandemia, apresentava uma obra de música clássica. Melhor: duas obras, que se iam suceder, na emissão, uma à outra. E, desta forma, iluminou os "senhores ouvintes":

- Seguidamente, senhores ouvintes, vamos ter oportunidade de ouvir uma obra musical de um anónimo do século XVIII. Logo de seguida, do mesmo autor, porque segundo a nota que aqui tenho é também de um anónimo, ouviremos uma outra sua obra. Esperemos que gostem.

sábado, dezembro 24, 2011

Coreia do Norte

O ambiente de obsessivo secretismo - e, por essa via, de incessante especulação - que se cria em torno da maioria dos regimes ditatoriais teve o seu auge, desde sempre, no caso limite da Coreia do Norte. Quer ao tempo do fundador da "dinastia", Kim Il-Sung, quer no do seu filho, Kim Jong-Il, as historietas sobre alguns, nunca absolutamente confirmados, aspetos da sua vida privada, desde os excessos materiais às aventuras afetivas, fizeram, por décadas, a delícia de uma certa imprensa. Como nada é possível provar, tudo é possível dizer.

A chegada de um novo líder ao poder, em Pyongyang, aguça agora a curiosidade dos media. Não deixa de ser interessante ver o "Le Figaro" dedicar hoje quase meia página à exegese da fotografia que acima reproduzo, retirada de um filme com dois dias. Para quê? Para especular sobre a "misteriosa criatura" da jovem que aparece atrás de Kim Jong-Un. Dando por adquirido o princípio de que "na cultura tradicional coreana, um homem ainda celibatário na casa dos 30 anos é mal visto", o correspondente em Seul do jornal conservador francês detém-se em detalhe sobre a imagem da jovem, adiantando que "a sua silhueta é tão fina que voga no seu fato tradicional ligeiramente decotado", perguntando-se se "esta mulher tão jovem e de atitude tão elegante será a nova primeira-dama da Coreia do Norte". O jornal nota ainda "o rosto oval delicado, a pele de porcelana, de uma jovem que parece uma pena". Caramba! Que perspicácia! Eu não consigo "ler" tanto na fotografia.

O jornal vai ao ponto de qualificar este intrigante momento como "o mistério da mulher no mausoléu de Kum Su-San". Para o jornalista, confortavelmente instalado a sul do paralelo 38º, apoiado nas investigações do "especialistas" locais e num "rumor transmitido por uma fonte clandestina no local, mas impossível de verificar", "a feliz eleita seria diplomada da prestigiada universidade Kim Il-Sung e seria dois anos mais nova que o 'grande sucessor'", sendo originária de Chongjin, na costa nordeste da península. Cuidando o "safe side" dos desmentidos da História, o jornalista não exclui a hipótese de se tratar, muito simplesmente, de uma filha do falecido Kim Jong-Il, logo, apenas de uma irmã de Kim Jong-Un. Mas essa é uma possibilidade que, por pouco romântica, apenas merece o prudente registo.

Nos tempos em que o comunismo prevalecia em Moscovo, o ocidente criou a "kremlinologia", uma especialidade que lia sinais das posições relativas de dirigentes nos palanques e nos encontros internacionais, bem como no "body-language" das grande figuras, daí extraindo conclusões para as futuras sucessões de poder. À nossa modesta escala, lembro-me de ouvir comentar, em fotos dos "dias da raça", o menor gesto de simpatia de Salazar para qualquer vizinho de fraque, daí deduzindo cumplicidades e hipotética gestação de herdeiros, descontados os imponderáveis da lei da gravidade. 

Esses mistérios constituem a eterna "graça" das ditaduras, coisa que a simplicidade do voto democrático logo destrói. É pena ver jornais com o antigo prestígio do "Le Figaro", onde preponderaram as penas de François Mauriac ou Raymond Aron, a encherem hoje as suas páginas com este tipo de especulações. Talvez isto se faça só até ao dia em que o brilho de melhores fotografias, oriundas de Pyongyang, permita um tratamento mais "profissional" nas colunas "especializadas". É que, verdade seja dita, os verdadeiros dias felizes para a democracia só estarão adquiridos quando o "Paris Match" cobrir um casamento presidencial na Coreia do Norte. Nesse dia, porém, a notícia passará para o "Figaro Magazine".       

quarta-feira, dezembro 21, 2011

A democracia e o "The Economist"

A "Economist Intelligence Unit" (não sei se ainda anda por lá o meu amigo Mark Hudson) do "The Economist" faz este ano a sua tradicional "medição" do estado da democracia e das liberdades em 165 países independentes e dois territórios, atribundo-lhes quatro categorias: democracias plenas, democracias com falhas, regimes híbridos e regimes autoritários. Os critérios são os seguintes: processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do governo, participação política, cultura política e liberdades cívicas.

Este ano, a "bíblia" do neoliberalismo baixou Portugal para 27º lugar (éramos 26º), colocando-nos no grupo das "democracias com falhas". A principal razão, explica o relatório, deveu-se a erosão da soberania e da responsabilidade democrática, associada aos efeitos e às respostas à crise da zona euro. O relatório destaca ainda que, em alguns países, já não são os governos eleitos que definem as políticas, mas sim os credores internacionais, como o Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional. A severidade das medidas de austeridade contribuiu, no entender do estudo, para enfraquecer a coesão social e diminuir ainda mais a confiança nas instituições públicas.

aqui falei, há tempos, desta questão, que é, de facto preocupante. É que, para além de alguma arrogância "patronizing" que subjaz a este tipo de avaliações, o relatório não deixa de tocar nalgumas feridas que a atual situação abriu em várias democracias europeias. Mas também cria uma dúvida: afinal, esta alegada quebra de democraticidade da situação em países como Portugal não é derivada pela adoção de políticas de austeridade e de estrito controlo macroeconómico por parte de entidades internacionais, como aquelas que o "The Economist" sempre defendeu? Em que ficamos? 

sábado, dezembro 17, 2011

Notícias do défice

No "Telejornal", transmitido pela RTP internacional, à hora de almoço de hoje, um importante direto deu-nos o privilégio de ouvir parte do discurso de posse do novo presidente da Federação Portuguesa de Futebol.

Imagino a inveja dos seguidores da BBC World por nunca terem tido - nem nunca irem ter, estou certo - a fantástica oportunidade de assistirem, num justificado direto, às palavras do presidente da britânica Football Association, em idêntica cerimónia.

Felizmente que ainda há países felizes, onde o sentido de serviço público da comunicação social prevalece.

quinta-feira, dezembro 15, 2011

Sortido mediatico

"Deteta-se nas curvas um ligeiro excesso de acontecimentos que sao talvez o sinal da sua presenca, mas tambem nao se pode excluir que se possa tratar, simplesmente, de flutuacoes estatisticas emergentes por azar do ruido de fundo".

Uma algo longa hospitalizacao, com imobilizacao, da-nos tempo para ler sobre tudo. Ao passar ontem os olhos pelo "Le Figaro", dei-me conta de uma pagina dedicada, em exclusivo, ao bosao de Higgs, a famosa particula cuja (possivel) descoberta excita os especialistas, como o demonstra a descricao inspirada de um deles no jornal, que o paragrafo anterior reproduz.

Quando era jovem, havia as vezes la por casa uma revista chamada "Science & Vie", que complementava, julgo que com bastante mais rigor, as novidades cientificas que as "Selecoes do Reader's Digest" tambem nos traziam. Era um tempo em que as maravilhas da ciencia tinham grande popularidade. Nessa fase da vida em que os meus interesses nao estavam estabilizados nem muito priorizados, o tropismo para um conhecimento mais ou menos "renascentista" era frequente. Lia, entao, sobre quase tudo. O que, como vim a aprender a minha custa, foi uma perda de tempo.

As vezes, ainda sinto essa curiosidade residual sobre coisas muito diversas. E o vazio de tarefas, numa cama de hospital, pode criar essa tentacao. Mas so momentanea. O meu interesse por este e outros temas da ciencia (desculpa la, Jose Mariano) e' muito limitado e, decididamente, o bosao de Higgs, por mais importante que seja ou venha a ser (e se acaso existir mesmo), nao mobiliza a minha atencao.

Por isso, passei para a pagina seguinte do "Le Figaro", para a seccao de educacao, onde uma materia se destacava (tal como ja observara no "Le Monde"): as novas regras nos concursos de admissao a Sciences-Po. Ja e' azar! Outro assunto de "sciences" que nao me interessa nada e sobre o qual tambem nada sei.

Sendo assim, afinal vou "'a bola". A tempo de rever, na televisao, a bela vitoria do Chelsea de Villas Boas com um magnifico golo de Raul Meireles.

E mais nao escrevo porque fazer posts por iPhone, sem acentos nem cedilhas, provoca-me dores. De alma, claro.

domingo, dezembro 11, 2011

A importância da política

Todos se recordam do sobressalto público causado, já há uns tempos, pelo facto de um antigo primeiro-ministro português ter visto interrompida uma conversa que estava a ter com uma jornalista, durante um noticiário televisivo, comentando temas do quotidiano da política pátria, para abrir tempo a um curto direto do aeroporto, para onde a estação havia enviado repórteres, há várias horas, à espera de José Mourinho, num contexto de uma qualquer expectativa que então existia quanto ao futuro do famoso treinador. A figura política, enquanto viu o direto, deve ter ficado a matutar e, quando a emissão regressou ao estúdio, fez uma declaração firme, logo seguida de um abandono de cena espetacular, indignando-se pelo facto do seu verbo ter sido interrompido por um motivo tão corriqueiro. Não saiu a meio do direto, que lhe estaria a fazer perder o seu precioso tempo, mas apenas saiu no fim, para poder bem "explorar o sucesso", utilizando uma imagem militar. Foi talvez pena que à jornalista entrevistadora não tivesse ocorrido interrogá-lo sobre o tema do direto, tanto mais que essa personalidade pública era bem conhecida como comentador regular, bem avençado, das coisas da bola. 

Vem isto a propósito da edição das 20 horas do noticíário da televisão pública France 2, um dos mais vistos em França, no dia subsequente ao recente acordo europeu de Bruxelas. A emissão abriu com o jornalista que a conduzia, David Poujadas, a mostrar, ao seu lado, o primeiro-ministro François Fillon, que iria falar mais tarde sobre a necessidade da França, no novo contexto, ter de introduzir ou não planos acrescidos de austeridade, tema que aqui causa algumas naturais ansiedades públicas. O noticiário prossegiu, com um alinhamento que juntava a crise europeia aos novos horários dos comboios, incidentes securitários e eventos regionais a temas diversos de política internacional, com curtíssimos diretos e todas as notícias do desporto, claro! No estúdio, Fillon permaneceu todo esse tempo silencioso, à espera da sua hora, que apenas foi às 20.24, quando pôde finalmente começar a falar. E o telejornal acabou, claro, às 20.30, porque a meia hora de duração é por aqui coisa sagrada.

A televisão que interrompeu a entrevista do antigo primeiro-ministro português, já há muito fora de funções, era e é privada. A estação que fez esperar vinte e tal minutos um PM francês em pleno exercício é pública. Cada terra com seu uso. Isto não nos ensina nada? 

segunda-feira, dezembro 05, 2011

Andorra

Ontem, ao receber a minha nova colega andorrenha, veio à conversa a importância que teve, para a minha geração, a Rádio Andorra, uma histórica estação que marcou muito do nosso imaginário, nos anos 60 e 70. Com uma seleção musical magnífica, nos seus programas em francês e espanhol, a Rádio Andorra, desaparecida em 1981, foi um marco que muito ajudou à identificação daquele pequeno país no quadro internacional.

A frase "Aqui Radio Andorra!" é uma das memórias fortes que conservo da rádio que muito ouvia na juventude. A certa altura, recordo-me que a Rádio Andorra substituiu a saída do ar da Radio Caroline e da Radio London, as "rádios-pirata" que, a bordo de barcos ao lado da costa britânica, abalaram ao noites, até serem caladas à força, apresentando a grande música anglo-saxónica que iria dominar o mundo.

A minha colega disse-me que o seu governo tem plena consciência do papel desempenhado pela Rádio Andorra, nos auditórios espanhol e francês, havendo já projetos para preservar o seu histórico edifício. Só não contava que, também em Portugal, subsistisse uma memória desse património do seu país. É verdade: nesse tempo, alguns de nós procurávamos estar à escuta do mundo. Até de Andorra!

sexta-feira, dezembro 02, 2011

José Mensurado (1931-2011)

José Mensurado faz parte do cenário de um Portugal televisivo que atravessou as décadas de 60 e 70. Era um homem culto, com um estilo e uma postura muito próprios, produto e fautor de um certo jornalismo televisivo, elegante e conservador. Para muitos portugueses, que seguiam as aventuras espaciais ao tempo em que elas eram entusiasmantes na televisão, José Mensurado era a voz que sublinhou esses feitos, que acompanhou e relatou a memorável noite de 20 de julho de 1969, em que o homem chegou pela primeira vez à lua.

Há já alguns anos, em Lisboa, no bar Procópio, a Alice Pinto Coelho (ela lembrar-se-á, estou certo) disse-me: "Está ali o José Mensurado, que gostava de o conhecer". Mudei de mesa e, durante quase uma hora, falei com José Mensurado, trocando memórias e imagens de gentes cruzadas por ambos, ideias sobre a Europa que lhe mobilizava a curiosidade, bem como sobre a vida internacional em geral, que manifestamente o entusiasmava.

Consegui arranjar a coragem para lhe justificar, num tom bem mais cordial do que utilizara à época, uma chamada telefónica que eu um dia fizera, em direto para um programa de rádio em que ele participava, confrontando-o com a tristemente célebre mesa redonda televisiva que ele em tempos moderara, que passou a ser lida pela História como justificativa da extinção, pela ditadura, da Sociedade Portuguesa de Escritores. Nessa mesa redonda haviam participado, entre outros, Amândio César e Mário António - o poeta angolano que havia sido meu professor de quimbundo e que reagira bastante mal, quando, também um dia, lhe falei no assunto.

Senti também a obrigação imperativa de falar a José Mensurado naquilo que a manhã subsequente ao dia 25 de abril representara para ambos: um dia em que eu estava entre os militares que ocupavam os estúdios do Lumiar da RTP, sabendo que ele estava à porta, impedido de entrar pela nova "situação".

Além destes temas mais sérios, que Mensurado discutiu com assinalável abertura, rimo-nos com a história dos "árabes da Rua do Século", que já aqui contei, em que ele fora involuntário comparsa.

O José Mensurado que encontrei no Procópio era um homem sereno, uma personalidade interessante, que ganhara uma tolerância de ideias e um modo digno e sério de as afirmar. No final dessa conversa, que acabou na promessa mútua, nunca cumprida, de um jantar futuro, fiquei com a sensação de que teria bastante gosto em vir a conhecê-lo melhor. Isso não aconteceu. Morreu ontem, com 80 anos.

segunda-feira, novembro 07, 2011

A opinião do "Público"

O "Público" decidiu mudar alguns dos seus colunistas, o que é sempre saudável e refrescante num órgão de comunicação social. E assume que o faz para garantir a "necessidade de respeitar o equilíbrio e pluralidade das várias sensibilidades e tendências de opinião na sociedade portuguesa". Como jornal privado, o "Público" está no pleníssimo direito de convidar quem quiser para nele escrever. Até podia, se assim apetecesse a quem o dirige, escolher apenas colaboradores de uma única lateralização ideológica. O "Público", apesar do nome, não tem o dever de se sujeitar às regras de pluralismo do "serviço público". Mas fá-lo e isso é louvável.

A liberdade, que não o direito, que assumo pela minha qualidade de leitor e admirador do jornal desde a primeira hora (embora já nele tenha havido bem melhores dias, devo confessar), que sou e continuarei a ser, leva-me a dizer que a continuação da insistência na presença, como "colunistas", de figuras no exercicio ativo de funções político-partidárias (algumas das quais meus amigos, outras pessoas que muito respeito, pelo que estou mais à vontade para dizer o que digo) é um fator que, não só pouco acrescenta ao jornal, como é mesmo um pouco redutor, independentemente da indiscutível qualidade pessoal, intelectual e de escrita, dos eleitos. É óbvio que muitas dessas pessoas não são, nem serão, meros "porta-vozes" partidários, que algumas delas até podem não estar em consonância constante com as direções das forças políticas a que pertencem, mas, na minha opinião, que não é, pelos vistos, a opinião do "Público", estaremos sempre perante perfeitamente dispensáveis "tempos de antena" partidários. Ainda por cima, pagos.

E, de passagem, num outro contexto similar, permitam-me que lembre o que escrevi aqui.

domingo, outubro 16, 2011

Negar a mentira

Há muitos anos que leio, publicadas em jornais, "cartas ao diretor", destinadas a retificar escritos. Tanto quanto me lembro, só por duas vezes me senti motivado a utilizar essa figura: uma primeira vez em 2002 e outra hoje. O que não deixa de ser curioso. Em ambos os casos, para denunciar coisas flagrantemente falsas, sem o menor apoio em factos. Nada de particularmente grave ou preocupante, atenta a notória falta de credibilidade daquilo que foi publicado. Mas apenas porque achei importante "to set the record straight". Para desmentir. Etimologicamente: para negar a mentira.

sábado, outubro 15, 2011

Pedro Rosa Mendes

Pedro Rosa Mendes é um dos grandes escritores da nova geração da literatura portuguesa. Esta semana, foi-lhe atribuído o prémio narrativa do Pen Club, pelo seu livro "Peregrinação de Enmanuel Jhesus".

Pedro Rosa Mendes era também o correspondente da agência noticiosa Lusa em Paris. Porque acompanho, de há muito, a atividade dos jornalistas que a Lusa tem (cada vez menos) pelo mundo, posso testemunhar que, do trabalho de Pedro Rosa Mendes em França, resultaram algumas das melhores e mais equilibradas "peças" que alguma vez vi escritas em trabalho de agência.

A Lusa, com certeza, não quis ficar atrás do Pen Club e decidiu também "premiar" Pedro Rosa Mendes, cancelando o seu contrato. Não terá sido a "troika" a sugerir, mas já agora...

sexta-feira, setembro 30, 2011

FT

Já por aqui confessei, por mais de uma ocasião, que aprecio bastante o "Financial Times", o diário financeiro britânico, um dos jornais mais bem escritos e construídos do mundo.

Um tarde de sábado, nos anos 90, em Londres, fui ao mítico e já desaparecido estádio de Wembley ver um jogo de futebol. De jeans e camisola, apanhei o metro, metido na fauna dos apoiantes das duas equipas, que, por essa hora, ainda viviam o tempo de relativo sossego que antecede as partidas. O ambiente era galhofeiro, sem agressividade, embora com muitas "bocas", a maioria num intraduzível "cockney". 

Alguns escassos viajantes liam tablóides, tipo "The Sun", "Today" ou "Daily Mail". Eu, distraído, recostei-me num banco e deliciava-me com o FT do dia. Não me tinha dado conta que, naquele ambiente, ler aquele imenso jornal cor-de-rosa era quase tão natural como ler "O Diabo" num "centro de trabalho" do PCP.

A certo ponto da viagem, dou-me conta que muitos olhares convergiam sobre mim. E algumas "bocas" também. Até que um grandalhão, vestido a rigor de apoiante de clube, me espetou o dedo no jornal e inquiriu: "Hey, pal! What the hell are those pink sheets you're reading?" A situação não era fácil. Dar explicações era descabido, recolher o jornal seria cobardia. Já havia um público para a cena. Com um sorriso amarelo, saiu-me: "Wanna see the weather forecast?". Não estava seguro de ter sido a melhor deixa, mas foi o melhor que me surgiu. Para meu imenso alívio, o grandalhão sorriu. E lá seguimos para mais uma "Cup Final". No regresso do jogo, com metade do metro zangado com o mundo, viajei prudentemente com o FT debaixo do braço.

Os sábados do FT trazem, nos dias de hoje, um imenso suplemento, para cujo título alguém, há dias, chamou a minha atenção: "How to spend it". Para sintetizar: trata-se de uma revista para quem tem dinheiro e gosto. Esse amigo dizia-me: "Não achas obsceno e provocatório um título como este, num tempo como o que atravessamos?". Tive de concordar. Mas se esse amigo lesse alguns textos do "The Spectator", como se sentiria?  

quarta-feira, setembro 28, 2011

BB e David

O franceses habituaram-se a interpretar BB como as iniciais de Brigitte Bardot*. Bertolt Brecht, o genial escritor e teatrólogo alemão, usou as mesmas iniciais no seu magnífico poema "Do pobre BB", que Jorge Palma cantou num álbum de 2005. E, no mesmo registo, há que lembrar BB King, esse génio do jazz que tive o privilégio de ouvir ao vivo, por mais de uma vez.

Portugal tem também o seu BB - as iniciais pelas quais fica identificado Baptista Bastos. Conheci-o pessoalmente há quase 40 anos, quando, pelas tardes, nos encontrávamos num café e bar no topo da então livraria Opinião, na rua da Trindade - eu saído do meu emprego na Caixa, ao Calhariz, ele acabado o seu trabalho no "Diário Popular", também por ali perto. Esse era então um espaço aberto de conversa onde eu me imiscuíra, por via de amigos comuns. Por lá paravam jornalistas, escritores e outros que, como eu, eram meros espetadores atentos da vida intelectual de Lisboa. Com a sua voz bem caraterística, não abandonando a marca pessoal que é o seu laço, Baptista Bastos confirmava, em pessoa, a frontalidade opinativa a que sempre nos viria a habituar no futuro. Passei a lê-lo com regularidade e, depois sempre à distância, a apreciar o seu sentido crítico e a sua postura ética, muito em especial a independência com que sempre preserva a amizade por cima das ideologias. E, também, a sua rara maestria no domínio do português, uma "arma" que utiliza como poucos poucos e cuja "bala" mordaz tem criado engulhos em muitos.

A que propósito lembro BB agora? Porque acabo de ler a magnífica crónica que ele hoje publica no "Diário de Notícias", sobre esse outro grande senhor da literatura portuguesa, que se chamou David Mourão-Ferreira.

Nestes dias de uma "Lisboa contada pelos dedos", em que há cada vez mais "Gaivotas em terra", haveria grande proveito em que se lesse e relesse esses dois grandes escritores.

* que hoje faz 77 anos

sábado, setembro 24, 2011

Sodade

Cesária Évora sofreu um AVC e está internada aqui em Paris. O "Le Monde" dedica-lhe, na sua edição de hoje, uma merecida página.

A certo ponto do texto, a jornalista autora do texto destaca o papel de José da Silva, o empresário da cantora, que, pela primeira vez, "no final dos anos 80, em viagem a Lisboa, encontrou Cesária num bar", lançando a partir daí a sua carreira internacional. Mas a jornalista não se fica por aqui: ao notar o modo chocado como José da Silva se viu agora obrigado a relatar à imprensa que as condições de saúde de Cesária lhe não permitem continuar a cantar em público, assinala que foi este empresário "quem a fez sair fora das suas fronteiras lusitanas e colonialistas". 

Caramba! "Colonialistas"? No final dos anos 80, quando Cabo Verde é independente desde 1975? Para além da iliteracia político-cultural - outros diriam, simplesmente, estupidez - que esta referência traduz, o lapso é bem revelador da persistência, num certo imaginário cultural europeu, de restos de uma lusofobia que a duração temporal do nosso colonialismo, para além da de outros congéneres europeus, acabou por enraizar. Há um preço que, acreditem!, continuamos ainda a pagar por isso, no "retrato" externo do nosso país. Para a semana, vou também referir esse facto, num seminário em Lisboa onde abordarei o tema bem atual da imagem de Portugal e da sua economia.

Cesária Évora, na sua genialidade, abordou em canção a questão dos caboverdeanos que foram trabalhar para S. Tomé e Príncipe e que por lá ficaram. Esta era uma realidade até então muito pouco conhecida em Portugal.

Eu havia-me defrontado com ela em inícios de 1976. Estava de visita a S. Tomé, enviado por Lisboa, para tentar resolver uma greve dos professores cooperantes que Portugal para aí tinha destacado. Um dia, em conversa com uma empregada da residência do nosso embaixador, a senhora revelou-me que era caboverdeana e que estava há muito tempo em S. Tomé, para onde o marido, já falecido, tinha vindo trabalhar nas roças do cacau. Perguntei-lhe se, entretanto, já tinha voltado à sua terra ou se tinha intenção de fazê-lo definitivamente, agora que o seu país era independente. Nunca esqueci o olhar intensamente triste com que me disse: "Ó doutor? Como? Nunca tive dinheiro nem nunca vou ter para voltar a ver Cabo Verde!". Foi nesse instante que acordei para o drama imenso dessa gente, expatriada dentro do Portugal da ditadura, para quem - para essas pessoas, sim! - o sistema colonial não morreu com o 25 de abril.

Cesária Évora cantou, para sempre, como ninguém, em morna num melódico crioulo, a tragédia dessa sua gente que foi para S. Tomé, no inesquecível "Sodade". 

quinta-feira, setembro 15, 2011

Origens

Desde há uns meses, a Renault tem como seu diretor-geral delegado, correspondente a nº 2 da empresa, mas a quem cabe a gestão executiva, o português Carlos Tavares, um reputado quadro internacional, vindo da indústria automóvel americana.

A revista económica "Challenges" dedica-lhe hoje quase duas páginas, desenhando o seu perfil e entrevistando-o sobre o que pretende vir a fazer naquela que é uma das "jóias" identitárias da indústria francesa, recentemente abalada por alguns problemas.

No passado, quando o nome de Carlos Ghosn, o PDG da Renault, era citado na "Challenges", recordo-me de aparecer uma frequente referência à sua nacionalidade brasileira. Agora, ao falar-se de Carlos Tavares, um homem que sei que tem grande orgulho nas suas origens lusitanas, nem uma palavra sobre o país e a cultura de onde é oriundo.

Curioso, não é? Tanto mais que Carlos Tavares, como bem sabemos, está longe de ser o primeiro português a trabalhar na Renault...

quarta-feira, setembro 07, 2011

Jornalismo televisivo

Hoje, durante a hora de almoço, "zappei" entre os telejornais da RTP e da SIC. Em cerca de 45 minutos deste exercício, apenas as palavras de Lula da Silva deixaram um leve registo de otimismo. Os telejornais portugueses, antes de chegar a sua hora gloriosa do desporto, são construídos em torno de uma agenda quase exclusivamente negativa, seja no plano nacional, seja no quadro internacional. Às vezes, a medo e a contra-ciclo, lá surge uma nota sobre uma iniciativa pontual positiva, quase sempre como contraponto a uma circunstância negativa.

É verdade que há cortes orçamentais, que os preços sobem, que há mais desemprego, que há empresas a encerrar, escolas e hospitais com problemas, ameaças de greve, incêndios, desastres nas estradas. E que, no estrangeiro, há bolsas a cair, bombas a explodir, guerras, inundações, cataclismos e outras maleitas, feitas pelo destino ou pelos homens. Mas não haverá, de facto, mais nada? 

Por que será que, quando observo telejornais da França, da Espanha, do Reino Unido ou dos Estados Unidos, onde também há crise, nunca encontro nada que se pareça com este obsessivo tropismo para a tragédia, para apenas sublinhar o que corre mal, para a criteriosa escolha, como comentadores, de aves agoirentas que apenas prenunciam dias piores? Num tempo em que as coisas são difíceis para os portugueses, não seria importante - eu sei que não se usa, mas arrisco: e patriótico - que a comunicação social ajudasse a "puxar" pela nossa auto-estima, por aquilo que corre bem, pelos efeitos positivos que se esperam dos esforços coletivos que estão a ser feitos, pelas empresas que estão a tentar firmar-se no mercado internacional, pelos saltos na investigação científica, pelo muito que tantos estão a fazer para que o país ande para a frente? Ou será que existe uma censura, nas redações televisivas, para evitar publicitar as coisas positivas?

Como embaixador de Portugal, confesso a minha revolta pela imagem que as televisões portuguesas, na tabloidização medíocre em que caiu grande parte da sua informação, transmite do nosso país às nossas comunidades pelo mundo. 

Agora volto a perceber melhor aquilo que um dia, ouvi a uma criança, filha de portugueses residentes na Suíça, a quem perguntavam o que gostava mais de ver na TV:  "os desastres". Com um jornalismo televisivo deste quilate, estamos a criar uma cultura geracional de depressão.

sábado, setembro 03, 2011

Notas de fim de semana

1. É muito bem escrita, como sempre, a crónica de ontem de Ferreira Fernandes, no "Diário de Notícias". Esta é sobre o estilo de discurso do professor Vitor Gaspar, o novo ministro das Finanças. Já conhecia o tempo e modo desse estilo quando, há já bastantes anos, fiz com ele parte de um júri, no Ministério dos Negócios Estrangeiros. O que a mim mais me impressiona, na forma da sua expressão, que agora é algo de verdadeiramente inédito na política portuguesa, é o ritmo desarmante que sustenta, impávido, perante os estímulos provocatórios dos interlocutores. 

2. Sei que vai chocar algumas pessoas que se diga isto. Mas a revolução líbia só ficará consagrada, na plenitude das suas credenciais de tolerância, no dia em que puder haver rádios, jornais e partidos políticos que critiquem abertamente, sem sentirem o medo de quaisquer represálias, as novas autoridades, ainda que transitórias, que vierem a assumir o poder em Tripoli. E isto, claro, antes de quaisquer eleições.

3. Recomendo vivamente o texto (não tem link livre) de Pedro Mexia, no "Expresso" de ontem, intitulado "Os Alfonsos Guerras". E, mais ainda, recomendo o já antigo livro de Jorge Semprún, que serve de pretexto à crónica - "Frederico Sanchez vous salue bien" -, no qual ele conta a sua experiência de homem do mundo da cultura inserido na política. Só não o recomendo a Francisco José Viegas porque sei que ele já leu tudo.

4. É excelente a notícia de que os trabalhos fotográficos de Gérard Castello-Lopes, de cerca de meio século de atividade, vão ser apresentados no novo Centro Cultural Gulbenkian, em Paris, em abril de 2012. A partir de última semana de outubro, a Gulbenkian de Paris abandonará as instalações da avenue d'Iéna e passará a estar aberta num prédio no boulevard de La Tour-Maubourg.

segunda-feira, agosto 29, 2011

Regresso

Este é um tempo de regresso, em que muitos portugueses, nomeadamente os residentes em França, voltam das suas férias. Para aqueles que escolhem a estrada, esperamos que, ao contrário de outros anos, a prudência e uma condução sábia evitem a ocorrência de acidentes, tanto mais que o clima não tem ajudado muito.

É justo, nesta ocasião, sublinhar a realização, uma vez mais, pela associação de jovens luso-descendentes "Cap Magellan", de um programa de prevenção rodoviária, que teve como objetivo alertar os portugueses que se deslocaram ao país para as medidas de precaução que devem ser tomadas nas viagens. 

A organização, liderada pelo eleito de Paris Hermano Sanches Ruivo, edita também, com regularidade, a excelente revista "Cap Mag". Aqui fica a capa do seu último número.

Hoje, aqui na Haia

Uma conversa em público com o antigo ministro Jan Pronk, uma grande figura da vida política holandesa, recordando o Portugal de Abril e os a...