sexta-feira, julho 22, 2022

Um dia estranho

Hoje, foi um dia estranho para a União Europeia.

Desde há muitos anos, fomos habituados a ver surgir a União Europeia em quase todos os cenários que, direta ou indiretamente, se ligassem aos seus interesses geopolíticos.

Como “honest broker” ou como “soft power”, os enviados de Bruxelas tinham sempre uma espécie de lugar cativo em momentos políticos de crise ou de tentativa de resolução de conflitos. Da União esperava-se sempre apoio, intermediação e uma atuação que, sem descurar interesses, carreasse o seu peso político: com afirmação de princípios, com clareza de posições, mas sempre com sentido de compromisso e, em especial, com uma linguagem serena e sem histerismos jingoístas.

Hoje, em Istambul, naquela que é uma tentativa de entendimento, pontual mas muito relevante, entre dois Estados da sua vizinhança, em aberto conflito armado, a União Europeia não teve lugar na sala. Nem como simples observador. Vale a pena perguntar porquê, embora todos saibamos a resposta.

11 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Isso diz muito da personalidade dos dirigentes da UE, do seu nível e da sua imagem na União.

Mas ensina muito do erro de avaliação da EU do dirigente da Ucrânia, que soube sugar os europeus mas que como um vulgar “voyou” não tem um mínimo de reconhecimento e de respeito por aqueles a quem tanto deve.

Quanto ao sultão de Ancara já mostrou várias vezes , em diferentes situações, o que pensa dos mesmos, a quem não ofereceu, mais uma vez, uma cadeira à mesa…

Mal por Mal disse...

A Europa já foi, já "era" há muitos anos.
Já pouco conta, os museus contam pouco.
Viva o Abrunhosa, um caso sério nesta Europa sem armas.

Carlos disse...

ha algum tempo atrás tive oportunidade de estar numa reunião colectiva com o Sr que actuamente tutela a diplomacia da UE e não guardei da pessoa uma memoria especialmente impressiva ... nem no plano pessoal (não escondeu o enfado e a falta de interesse pelas pessoas com que se reunia) nem no que respeita a sua argucia diplomatica (embora se possa dizer justamente que a minha opinião não é relevante para o efeito)

Luís Lavoura disse...

Muito pior que isso. No acordo assinado, a União Europeia fica obrigada a levantar parcialmente as suas sanções à Rússia no sentido de esta poder exportar os fertilizantes e os cereais que produz. A União Europeia não esteve presente nas negociações, mas fica obrigada no acordo final. Agora vamos ver se e como a União Europeia cumpre o acordado.

manuel campos disse...


Preciasamente como diz - e bem - todos saibamos a resposta, talvez seja melhor não perguntar porquê, às vezes ficamos muito incomodados com as atrapalhações alheias quando elas, de uma forma ou outra, também nos envolvem a nõs.

Jaime Santos disse...

Como sabemos, a UE está a apoiar materialmente a Ucrânia na sua defesa contra a agressão russa, enquanto impõe igualmente sanções à Rússia. Não se esperaria que atuasse de outro modo.

Confesso que ainda não percebi que espécie de posição o Sr. Embaixador desejaria que a dita UE tomasse que não fosse esta. Não pode haver neutralidade nesta matéria.

Se a Turquia joga com uma certa ambiguidade, enquanto continua a vender drones à Ucrânia, é lá com ela. A UE não pode dar-se a esse luxo...

Não é certamente a linguagem da UE que irrita a Rússia. Em 2014, os russos encolheram os ombros perante a timidez da resposta à invasão da Crimeia, agora estão mais do que chateados porque as sanções e as armas podem bem ajudar a dar-lhes cabo do arranjinho.

E depois, para ter estado naquela sala a fazer a figura que a Turquia e a ONU fizeram, à luz do ataque russo ao porto de Odessa, é preferível não ter estado lá de todo, digo eu.

Eu até compreendo que um diplomata espere contra toda a Esperança que mais uma última tentativa (a redundância é intencional) possa finalmente trazer os russos para a mesa, mas para isso seria preciso que Putin tivesse o mínimo de boa vontade. Sucede que para o líder russo, boa vontade é sinónimo de fraqueza, até porque ele tem contas velhas a ajustar com o Ocidente e não esquece (só que a Ucrânia calha de não ter culpa disso).

A assinatura da Rússia não vale por estes dias o papel em que está escrita. E os russos sabem e não se importam, estão a dizer à Ucrânia e à comunidade internacional que fazem o que querem porque podem.

E perante isto, a resposta só pode ser militar, fazer a Rússia pagar um preço elevado de modo que, tarde ou cedo, faça o que todos os impérios exauridos em guerras coloniais, antigas e recentes fizeram, peguem nas malas, e vão para casa.

Dir-se-à que Putin joga mais do que o seu próprio futuro nesta guerra, joga o futuro da própria Rússia porque se voltar para casa com uma derrota, a seguir terá inúmeras nacionalidades na Rússia, que odeiam os russos, a começar pelos tchetchenos, a reclamar independência. Pois joga, mas isso é um problema dele e dos russos, podia ter escolhido ficar em casa a 24/2.

E quanto às ameaças nucleares, soam ocas, de tão repetitivas. A oligarquia russa gosta demasiado das suas mansões pirosas, dos seus iates e das suas amantes para se sacrificar pela Santa Rússia e acabar a sufocar ou a morrer de envenenamento radioativo num bunker após um Holocausto Nuclear (nós teríamos sorte por comparação).

O fanatismo, para ser convincente, requer uma vida ascética e desprendida...

Lúcio Ferro disse...

Ó Jaime Santos, esta sua sentença é toda ela um tratado sobre o que não é uma visão racional e portanto diplomática da realidade: "Não pode haver neutralidade nesta matéria.".

E continua:

"a resposta só pode ser militar, fazer a Rússia pagar um preço elevado".

O Senhor está tolinho, Jaime Santos?
Espere mais uns meses e logo verá o quão tolinho é o seu pensamento sobre a matéria em apreço (graças a nosso senhor e a josé sócrates que temos o pipeline argelino e as renováveis e que o pedro sanchez está em sintonia com o antónio costa).
O mundo mudou, Jaime Santos, a falência da Europa é evidente. Todo o mundo, menos os eurocêntricos como os otários que nos desgovernam perceberam que o rei vai nu. América do Sul, África, Ásia, até o Biden cai da bicicleta e de caminho diz que tem cancro. Vá, diga o Jaime Santos comigo: a guerra está perdida, é necessário negociar.

Anónimo disse...

Fernando Neves
Apenas reflecte a real influência da UE na cena intencional e a confusão das funções dos3 líderes, que insistem em esbracejar a sua insignificância. Logo fiquei alarmado quando a Reidente da comissão anunciou uma “Comissão geoestrategica”. Era melhor ler o Tratado

Anónimo disse...

O paleio do Jaime Santos fez-me lembrar o meu primo Ramiro. Todo ele era "Angola é nossa", "para Angola rapidamente e em força", e quem não fosse era cobarde, traidor, comuna, etecetera e tal. Até ao dia em que lhe incorporaram o primogénito, recém-licenciado em agronomia. Corria o ano de 73 quando o primo Ramiro se deslocou propositadamente à capital para montar uma "espera" ao meu pai à porta das instalações do Ministério da Defesa, sob as arcadas do Terreiro do Paço. Era aí que o sargento ajudante de infantaria estava em trâmites de terminar a sua carreira depois de oito ( leram bem: oito ) comissões em teatros de operações ultramarinos. Objetivo da emboscada: o Ramiro pagava o que fosse preciso para evitar a mobilização do rapaz, adiantando desde logo como sinal e principio de pagamento um envelope recheado de duzentos contos!
Resumindo e concluindo: qualquer convicção tem um preço. Resta saber quanto estaria o Jaime Santos disposto a pagar pelas suas se fossem os seus filhos quem estivesse na linha da frente.

MRocha

manuel campos disse...


Caro MRocha

Pessoas como o Jaime Santos ou não têm filhos ou só falam assim porque, tendo-os, acham que estas coisas só tocam aos filhos do outros.
Isto tem um nome mas eu não o digo aqui, a "casa" não é minha.

Salvo erro, lembro-me de aqui há uns anos o nosso anfitrião Dr. Seixas da Costa ter contado aquela situação do filosofo francês Bernard Henri-Levy ter feito um discurso inflamado a estudantes incitando-os a uma luta qualquer e terminando com um "IDE" e não um "VAMOS".
Penso mesmo que o comparou com um padre que conhecia e tinha tido o mesmo tipo de conversa nos anos 60.

Conhecemos todos muita gente assim, cheios de "ideologia" desde que sejam os outros a morrer e a sofrer (isto até tem um certo lado "onanista").
Normalmente são pessoas que nunca na vida tiveram que tomar decisões que implicassem a vida ou o futuro de outros que deles dependessem pois deles nunca depende habitualmente ninguém.
O deles já é outra conversa mas como o consideram garantido até à reforma...

A guerra está por definição perdida, como todas, quem vai perder mais não sei mas todos já perderam muito e a conversa do "foi aquele menino que começou", por mais certa e justa que seja, não me traz de volta os dentes partidos.

Nuno Figueiredo disse...

claro que sabemos.

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