Morreu Sérgio Rouanet, intelectual brasileiro que foi autor da célebre “Lei Rouanet” sobre o mecenato cultural, que subscreveu em 1991, ao tempo em que era ministro da Cultura, no governo de Collor de Mello. Jair Bolsonaro reformulou, entretanto, esse instrumento de apoio à atividade cultural, de um modo que, segundo leio, anulou muito dos seus efeitos.
Conheci Sérgio Rouanet e a que então era sua mulher, Bárbara, durante um belo almoço, em casa de um grande amigo comum, em Tiradentes, no estado de Minas Gerais, no Brasil. Éramos uma dúzia de pessoas, algumas que antes não se conheciam entre si.
Rouanet era uma figura de uma inteligência fascinante, muito bom contador de histórias. Era uma personalidade muito respeitada no Brasil. Diplomata de carreira durante décadas, foi embaixador e teve um posterior percurso académico e político.
Entre os convivas desse almoço, estava um jovem brasileiro, trazido por alguém, que claramente estava um pouco fora daquele “baralho”. A certo passo, fiquei com a nítida impressão de que a sua atenção estava muito concentrada no que dizia um outro conviva, um religioso.
Numa pausa, consumando a curiosidade que visivelmente o estava a alimentar nos últimos minutos, o tal jovem perguntou ao religioso:
- Você, há pouco, disse que era dominicano. Como é que, sendo dominicano, fala tão bem português?
Toda a sala se olhou, incrédula: o rapaz, ao ouvir o religioso dizer que era dominicano, tinha achado que ele era oriundo da República Dominicana, onde se fala espanhol.
Porque a situação era socialmente constrangente, todos engolimos as gargalhadas que tínhamos vontade de dar. Todos, não. A mulher de Sérgio Rouanet, uma socióloga nascida na Alemanha, que até aí se tinha mostrado muito pouca expansiva em todos os seus comentários, não aguentou o ridículo que estávamos a viver e lançou um sonoro “Não é possível!”, somado a uma imensa gargalhada. O resto dos convivas foram mais caridosos e apenas sorriram.
O religioso, que era, nem mais nem menos, uma grande figura da história da luta armada contra a ditadura militar brasileira, não perdeu a oportunidade para lançar mais uma acha para a fogueira do ridículo em que o jovem, tão brasileiro como ele, se tinha metido. E respondeu-lhe:
- Aprendi no convento…
3 comentários:
Valha-nos São Domingos de Gusmão.
Por falar em Dominicanos, as Irmãs Dominicanas (não relacionadas com a Ordem dos Dominicanos) têm um Hotel em Fátima em cujo o Restaurante se come muito bem.
Não me parece assim tão digno de gozo que uma pessoa não saiba que um dominicano pode ser um membro de uma determinada ordem religiosa católica.
Deve haver atualmente muita gente que não sabe o que seja um dominicano. Os meus filhos, por exemplo, que não tiveram educação religiosa, certamente não sabem o que seja um dominicano. Ou um brasileiro que tenha sido educado noutra religião que não o catolicismo - e atualmente há no Brasil mais protestantes que católicos, segundo creio que já li algures.
Não me parece certamente motivo do riso que a esposa de Rouanet lhe dedicou.
O Luís Lavoura tem um sentido raro de humor: o humor próprio involuntário
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