terça-feira, julho 26, 2022

Brasil


No Brasil, entrou-se já numa longa reta final para as presidenciais de outubro. Veremos, nos próximos dias, se o recente lançamento, com estrondo, da recandidatura de Jair Bolsonaro, fará reduzir o seu “gap” nas sondagens face a Lula da Silva, o qual, até agora, se mantem elevado, embora longe, pelo menos por ora, de poder prenunciar uma vitória do candidato “petista” à primeira volta. O presidente cessante, que se entregou nos braços de um “centrão” partidário, a quem encheu de benesses financeiras em troca de apoio político, à revelia de tudo quanto tinha anunciado na sua anterior candidatura, entrou num frenesim público que está a ser lido por muitos como uma disposição, “à Trump”, de poder vir a contestar o resultado eleitoral - se este lhe for desfavorável, bem entendido. O patético encontro que organizou com o corpo diplomático estrangeiro em Brasília - o Brasil é um dos países do mundo onde há mais embaixadores estrangeiros residentes -, aos quais transmitiu dúvidas sobre o sistema eleitoral em vigor e sobre a independência do mais alto poder judicial do país, é mais bizarra iniciativa política, com impacto na ordem internacional, que me recordo de alguma vez ter sido titulada por um chefe de Estado de um grande país democrático. Acresce que, em vários setores do mundo ocidental, está instalada uma dúvida sobre se os membros na reserva das forças armadas brasileiras que acompanham Bolsonaro desde antes da sua eleição, e que muitos consideram co-responsáveis por muitas das suas atitudes de cariz anti-democrático, representam o pensamento da hierarquia militar em funções. Esta sombra que Bolsonaro faz pairar sobre a vitalidade da democracia brasileira é talvez o mais nefasto aspeto da sua presidência. E há muito por onde escolher.

5 comentários:

Luís Lavoura disse...

Lula tem 77 anos de idade. É triste que a disputa presidencial no Brasil - que até é um país relativamente jovem - se resuma à escolha entre Bolsonaro e um ancião. Diz bem da decadência geriátrica dos sistemas políticos em boa parte do mundo.

Lúcio Ferro disse...

Muito preocupante o que aqui informa Senhor Embaixador. Se o Brasil cair numa deriva de contestação de resultados eleitorais à la trump, pode rapidamente descambar para uma ditadura, eventualmente apoiada pelo aparelho militar. Esperemos que Lula dê uma cabazada eleitoral, o Brasil e o mundo precisam muito disso.

carlos cardoso disse...

Esta competição entre um destrambelhado e um velhote mostra bem o desinteresse das pessoas sensatas e competentes pela política. Em quase todos os países europeus a qualidade dos responsáveis políticos também tem vindo manifestamente a diminuir e os candidatos à sucessão de Boris Johnson são disso mais um exemplo. Esse desinteresse é bem claro nos crescentes níveis de abstenção na generalidade das eleições. Será que a afirmação de Churchill sobre a democracia ainda é verdadeira ou estaremos na altura de começar a pensar em inventar - porque até agora não existe - um modelo menos pior?

Unknown disse...

Que exagero! "Ancião" aos 77 anos"!

Carlos disse...

Não consigo suster o sorriso ante a classificação de Lula com 77 anos como “velhote” face ao “ jovem” Bolsonaro de 67 anos com uma história clínica acidentada desde a facada de que foi vítima na campanha de 2018. A propósito deste debate geriatrico gostaria de recordar que o ex-presidente Michel Temer com 81 anos tem estado bastante activo nas manobras de bastidores sobre a disputa eleitoral que se aproxima.

Igualmente curioso, embora não inspire qualquer sorriso é a postura de uma série de militares, que não estão assim tão distantes do serviço activo, como é o caso do general Braga Netto (sim com dois t), sobre as eleições. Outra anomalia que tem sido menos falada é o repetido assédio ao Tribunal Superior Eleitoral por parte dos militares a propósito da fiabilidade do voto electrónico no Brasil, que assumiu proporções inauditas numa recente intervenção do Ministro da Defesa general Paulo Sérgio. Felizmente teve resposta á altura por parte da deputada Perpétua Almeida.

Vamos acompanhar …

Sai um Kennedy!

Kennedy na equipa de Trump! Ouviram-no durante a campanha? Tudo isto pode vir a ser dramático, mas lá que vai ter piada de observar, lá isso...