sexta-feira, julho 29, 2022

Abrunhosa e Olena

O autor e cantor Pedro Abrunhosa, perante uma questão que todos sabemos que fratura a emoção nacional, como é o caso da invasão russa da Ucrânia, disse algumas coisas fortes sobre Vladimir Putin. 

Era só o que faltava que o não pudesse fazer! Vivemos num país livre onde Abrunhosa, estou certo, interpretou o sentimento de uma grande maioria de pessoas, muitas das quais, porventura, talvez não tivessem usado as palavras que Abrunhosa usou, mas as sentiram como merecidas. Repito, Abrunhosa esteve no seu pleno direito de fazer o que fez. 

A embaixada russa, numa reação de virgem ofendida, a cheirar a tentativa de censura, a lembrar outros tempos deles e também nossos, veio ameaçar Abrunhosa com um processo. Nada mais ridículo! O nosso MNE respondeu-lhe à letra. 

Entretanto, Zelensky e a mulher decidiram fazer umas fotografias para a Vogue. Cada um é livre de ler esse gesto da maneira que lhe apetecer e quiser. Continuamos em Portugal, continuamos num país livre. Um país onde Abrunhosa tem o direito de dizer de Putin o que Maomé não diz do toucinho (como o faz imensa gente, na comunicação social e não só) e onde, da mesma forma, quem quiser pode achar o que muito bem lhe apetecer sobre Zelensky, elogiá-lo ou vilipendiá-lo, além de igualmente ter o direito de achar insensata a exposição que o casal fez na revista. Ou entender exatamente o contrário: considerar que essa atitude foi a atitude certa, para a defesa e visibilidade da sua causa, com elegância e beleza fotográfica. 

A mim, confesso, o que mais me custa, porque revelar bem que, no fundo, somos um país pouco livre e bastante seguidista, é não assistir a defensores da causa ucraniana a considerarem que Abrunhosa foi longe demais, ao dizer o que disse de Putin, lamentando, de igual modo, não ver críticos ferozes da liderança de Kiev, quiçá mesmo simpatizantes da causa russa, a terem a independência de espírito para virem a público defender Olena e o marido, na sua legítima opção de serem fotografados pela lente mágica da Leibovitz. 

Infelizmente, o que por aí vimos foi apenas o óbvio: os pró-russos escandalizados com o palavrão de Abrunhosa sobre o ditador russo e os pró-ucranianos a defenderem a opção fotográfica do casal presidencial de Kiev Ora bolas! Isto assim não tem a menor graça.

19 comentários:

Lúcio Ferro disse...

Já que o abrunheiro faz o que quer e ainda se faz de virgem ofendida face ao protesto não só da embaixada russa, que diferença face aquela moça que o elensli mandou regressar à base, bem como a várias personalidades que merecem imenso respeito, sobre esta matéria, tenho a dizer o seguinte: que o abrunheiro se vá foder, que se vá foder. Saudações cordiais, Senhor Embaixador.

Unknown disse...

Isto revela uma sociedade ainda algo atrasada e politicamente pouco evoluída, no sentido de as pessoas pensarem não tanto pela sua própria cabeça mais mas em função das diversas propagandas ideológicas e mediáticas, a que são muito permeáveis. Paira na sociedade portuguesa ainda uma cultura de esquerda complexada, de que só agora, paulatinamente, nos vamos libertando. Também já começa a ser tempo...

Unknown disse...

Curiosamente, é sob uma maioria absoluta de esquerda, que só agora começo a sentir uma certa libertação da sociedade civil, que começa a pensar mais pela sua própria cabeça e não alinhar tanto em posições ideológicas cristalizadas. Mas ainda vamos no princípio...

Anónimo disse...

Curiosamente, é sob uma maioria absoluta de esquerda algo castradora, que só agora começo a sentir uma certa libertação da sociedade civil, que começa a pensar mais pela sua própria cabeça e não alinhar tanto em posições ideológicas cristalizadas. Mas ainda vamos no princípio.

Lúcio Ferro disse...

E mais acrescento, Senhor Embaixador. O abrunheiro é um oportunista de merda a querer relançar uma carreira em queda livre há décadas. Imaginemos o que sucederia se ele tivesse escolhido o senil do biden como alvo de chacota. Faça esse exercício. Upa, upa, tinha sido logo ostracizado, não é mesmo? E a embaixada dos EUA, não teria apresentado protesto? Olhe que talvez, talvez. Sobre a gaja do outro, enfim, com o povo a morrer de fome e com dezenas de milhares de soldados mortos, muito bonito aparecer na vogue, lindo. Um bom dia.

Joaquim de Freitas disse...

Quem é Abrunhosa?,

Confesso que nao sei quem é, nem sei se canta bem ou mal, se diz alguma coisa nos seus textos. Porque no texto duma canção, pode-se dizer muito...ou nada ! Pode-se inflamar um povo com o nome duma terra , morena de preferência! .

Mas segundo o que li aqui mesmo, o Sr. Abrunhosa é um artista. E tem uma opinião politica, sobre a Ucrânia e não só. O que é todo o seu direito.
Tem direito a exprimir-se. Tem direito a apoiar Zelensky e detestar Putine. Sem duvida.
Tem direito a apoiar os nazis dos batalhões de Azov e de Direto Sektor. Tem direito a apoiar os assassinos que durante 14 anos estupraram, mulheres e crianças no Dombass, assassinaram sindicalistas na Casa dos Sindicatos , de Odessa, à qual meteram o fogo, queimando vivos algumas dezenas de ucranianos, porque falavam russo…
E assassinaram 14 000 outros de todas as maneiras, incluindo tortura. Porque eram separatistas. Porque não aceitaram o Golpe de Estado de 2014, que os americanos cuidadosamente prepararam de longa data.

O Sr.Abrunhosa é um artista. E os artistas têm uma alta ideia da democracia. E para eles, e outros, a América seria a Democracia.

Mas a democracia, por vezes não está domiciliada onde pensamos. Ele, como muitos portugueses pensa que é em Kiev, onde a democracia respira. Que importa se os partidos da oposição foram banidos, a imprensa calada, e mesmo a Procuradora da Justiça foi “expurgada” com algumas dezenas de colegas ministros…

Não compreendeu que não é porque os EUA dizem que representam os altos valores da democracia, que os impede de puxar todos os cordelinhos que trouxe a Ucrânia para o desastre actual. Vimos o Iraque, o Vietname, o Afganistao, a Siria, a Libia, etc.. O Chile, o Panamà, o Guatemala, etc.

Por falar de artistas, pensei num, um verdadeiro, cujo nome conheci quando era garoto. O seu talento artístico deu a volta ao planeta.Abrunhoda deve-o conhecer...

Foi um exemplo de combatente da democracia. Os seus textos diziam muito, diziam mesmo tanto que um dia a pátria da democracia, onde vivia, o farol dos direitos humanos , suspeitou-o de se posicionar do mau lado da barricada da liberdade.
Porque nesse país farol, só se pode pertencer a um campo: o do pensamento único.
Ele também creu nos valores da democracia.

Convencido de que Charlie Chaplin estava a soldo de Moscovo, J. Edgar Hoover, o chefão do FBI, nunca deixou de espioná-lo durante trinta anos na tentativa de revelar as suas atividades "anti-nacionais".

Edgar Hoover, director do FBI por 48 anos, racista, sexista, homofóbico, mas acima de tudo visceralmente anticomunista. Ou como hoje, russofobico.
O duelo entre o jurista e o artista é reflexo das correntes ideológicas que então dilaceraram os Estados Unidos. E hoje o nazismo nas ruas de Charlotteburg. Ou em Kiev...

Se nega ser comunista, Chaplin, no entanto, tem opiniões que ofendem o patriotismo americano, como o monólogo final, humanista e pacifista, do "Ditador" (1940). Pacifista ! Quando tantos preferem a guerra!

Em 1952, quando apresentou o seu filme mais autobiográfico, "The Limelights", 'Luzes da Ribalta) em Londres, seu sorriso era tenso.

Charlie Chaplin acaba de saber do cancelamento de seu visto de retorno pelo procurador-geral dos Estados Unidos, James McGranery.Exilado, por ser um ARTISTA lIVRE.

Joaquim de Freitas disse...

SUITE Abrunhosa:


Junto com alguns outros, incluindo Orson Welles e o escritor Pearl Buck, Prémio Nobel de Literatura em 1938, Charlie Chaplin acha que a Rússia deve ser aliviada na sua luta contra o nazismo abrindo uma segunda frente.

Hoje, um pequeno actor insignificante , apoiado pelos mesmos nazis, e a América, exige na Europa que o Mundo marche para o Apocalipse, para esquartejar a Rússia.

Chaplin, ele mesmo se tornou explícito em 1941. Convocado para substituir o embaixador dos Estados Unidos na URSS durante uma reunião organizada pelo Comité de Apoio Americano ao Alívio de Guerra na Rússia, Chaplin convocou 10.000 simpatizantes com um vibrante "Camaradas".

A sua queda de popularidade nos Estados Unidos é sem precedentes. Só na década de 1960 que seus filmes recuperaram o favor dos olhos do público e 1972 para Hollywood ser perdoado por lhe conceder um Oscar honorário.

A ovação de pé durou doze minutos, foi a mais longa da história da Academia. Chaplin não pisava o solo americano há 21 anos.

O seu combate contra o fascismo e o nazismo fizeram de Charlie Chaplin, a consciência da Humanidade.

Abrunhosa esqueceu que é este o combate dum verdadeiro ARTISTA.

Jbraga disse...

Tem graça recordar o que Abrunhosa disse em tempos idos sobre o primeiro ministro Cavaco Silva e o presidente da câmara do Porto Rui Rio e quem na altura o apoiou e comparar com a atual situação! Haja memória e coerência. Cumprimentos Sr. Embaixador

Anónimo disse...

O Embaixado está a esquecer um "detalhe": PAbrunhosa não se limitou a mandar foder-se o Putin ; continuou por aí adiante mandando os russos foderem-se. Veja o episódio na integra e depois gostava que me dissesse se mantem a narrativa.

MRocha

Francisco disse...

Mais um "post" estimulante, justiça seja feita a quem o escreveu. Assim e quase linha por linha, tanto que haveria a dizer. Desde logo e sobre a liberdade e as suas declinações. Diz-se (e bem) que vivemos num país livre. Contudo, é preciso reconhecê-lo, há nas múltiplas expressões da liberdade (política, social, económica, cultural), tal como nas condições objectivas do seu exercício, uma tremenda assimetria. O Pedro Abrunhosa (que não conheço, sobre quem nunca me interroguei e de quem não tenho opinião boa nem má), resolveu tomar a posição que tomou. Fê-lo num inquestionável exercício de liberdade pessoal. Objectivamente, tendo exercido a sua liberdade do modo que o fez, juntou-se ao ulular da populaça que, domesticada, vai por estes dias transformando a mudança cósmica que vivemos, numa jogo maniqueísta dos bons contra os maus, sob a vigilância sem tréguas de um sistema (o capitalista, no nosso caso, na sua declinação euro-nacional) de que a comunicação social e outras TIC constitui uma verdadeira força avançada, através da qual tenta ocupar todos os espaços da consciência, garantindo que não há desvios ao pensamento único que se tenta impor de modo absoluto. Quem, como eu, assistiu ontem ao espaço de comentário partilhado por um oficial (major-general) e por uma senhora que foi apresentada como professora de ciência política e relações internacionais, ficou claro, mais uma vez, que o grau zero já foi ultrapassado há muito. De facto, quando alguém que surge no écrã, rodeado pela aura credibilizadora da academia, verbaliza todos os seus dogmas de fé - o que também é de certo modo coerente, dado que, segundo dito, leccionará na U. Católica do Porto - dispensando-se de quaisquer premissas metodológicas ou relação com factos documentados, está tudo mais ou menos dito quanto à vergonha que se perdeu e ao modo como a liberdade (aqui voltamos a ela), de uns, não se confunde de modo algum com a liberdade de outros, nem nos pressupostos do seu exercício nem nas consequências do seu exercício. Por tais razões, a posição do sr. Abrunhosa tem interesse, não por ela em si mesma considerada, mas por aquilo que sob o seu véu diáfano, acaba por nos revelar: é muito mais fácil deixar-se levar pela corrente, do que bater pernas e braços, para nadar contra ela.

Reaça disse...

O exagero de Abrunhosa tornou-se escandaloso por dizer que representa todos os artistas.

Mas ainda há alguns "artistas" que se dizem daquela esquerda que vive ainda em 1917.

Abrunhosa não representa esses dinossauros.

Nuno Figueiredo disse...

legítima?

Anónimo disse...

É que o Embaixador alinha na narrativa da "liberdade de expressão " como se todos tivessem o seu fair-play. Ora as coisas na realidade não se passam assim. Á boleia de posições publicas como as do senhorito Abrunhosa acontecem coisas concretas a pessoas concretas. Há portugueses de ascendência russa ( filhos de emigrantes russos já nascidos em Portugal ) a serem vitimas de ostracismo. Seja na escola seja no trabalho. Pessoa próxima que é prof do secundário tinha uma aluna de ascendência russa que deixou de ir à escola por não suportar o bullying pro-ucraniano. Eu próprio frequento pastelaria de simpaticíssimo casal luso-russo que perdeu mais de 2/3 da clientela e está fartinho de ouvir "bocas" desde que isto começou. Pelo caminho que as coisas levam começo a perguntar-me se não chegaremos ao ponto de trancar os cidadãos com qualquer tipo de vinculo à federação russa em campos de concentração, à imagem e semelhança do que fizeram os americanos ( esses enormes defensores das liberdades...)com os seus cidadãos de origem nipónica (ao tempo da WWII...), com o argumento óbvio: era para garantir a "sua segurança"!

MRocha

Olindo Iglesias disse...

Se somos um pais livre, explique-me o senhor embaixador o que teria passado com o Abrunhosa se ele tivesse dito o mesmo em relacao ao presidente da republica do bacalhau, perdao, portuguesa, considerando o seguinte decreto lei?: Aguardo o seu esclarecimento

Código Penal

LIVRO II - Parte especial

TÍTULO V - Dos crimes contra o Estado

CAPÍTULO I - Dos crimes contra a segurança do Estado

SECÇÃO II - Dos crimes contra a realização do Estado de direito

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Artigo 328.º - Ofensa à honra do Presidente da República



1 - Quem injuriar ou difamar o Presidente da República, ou quem constitucionalmente o substituir, é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa.
2 - Se a injúria ou a difamação forem feitas por meio de palavras proferidas publicamente, de publicação de escrito ou de desenho, ou por qualquer meio técnico de comunicação com o público, o agente é punido com pena de prisão de seis meses a três anos ou com pena de multa não inferior a 60 dias.
3 - O procedimento criminal cessa se o Presidente da República expressamente declarar que dele desiste.

MANOJAS disse...

O senhor embaixador também pensa que o Abrunhosa disse o que disse (não classifico) porque começou a pensar pela sua cabeça? E que foi por pensarem pela sua cabeça que toda esta gente, não só no nossa país, anda a endeusar o Zelensky, que sacrificou, vergonhosamente, o seu país, o seu povo, à sua vaidade, à sua ambição, à sua vilania? Ó senhor embaixador, não acredito, não quero acreditar.

afcm disse...

Não vem mal ao mundo em o Abrunhosa poder exprimir-se como se exprimiu; não vem mal ao mundo em a Embaixada da Rússia intentar um processo judicial, se assim o entender .
Qual a admiração ? qual o assunto ?
Liberdade de expressão é isso - falar vernáculamente e também intentar um processo.
Porquê fazer-se de vítima, o abrunhosa ?
porquê fazer-se de vítima, a Rússia ?

Flor disse...

"Não havia necessidade" de usarem aqui tanto vernáculo. Fica feio!

Reaça disse...

A liberdade de expressão na Russia processa-se por meios científicos.

AV disse...

Confundir o insulto e o palavrão com liberdade de expressão … enfim …

Livro