terça-feira, julho 05, 2022

Acima e abaixo


Conheci, há muitos anos, um velho embaixador que tinha uma máxima: “If you are not one point up, you are one point down” (se você não ficar um ponto acima, você ficará um ponto abaixo). Contava-me ele que nunca dizia a ninguém que se sentia doente: “Nunca revele a outra pessoa que lhe dói a cabeça ou está indisposto. Na maioria dos casos, a pessoa com a qual você está a falar está saudável e, no instante em que você confessa a sua doença, ele fica logo numa situação de superioridade”.

Nunca tinha pensado nisso e achei bizarríssimo o lema, o qual, na realidade, parece ser, em si mesmo, um sintoma de inferioridade. Eu, mesmo que o tentasse seguir, nunca o conseguiria: sendo hipocondríaco, falar das minhas doenças é um hóbi que, às vezes, não dispenso… mesmo que, por essa razão, me arrisque a ficar logo um ponto abaixo de alguém que, “são como um pero”, me esteja a ouvir!

7 comentários:

Luís Lavoura disse...

Há muitas pessoas que agem assim. Na minha aldeia é mesmo a forma normal de atuar: as pessoas quando estão doentes não dizem às outras ou, se não puderem ocultar a doença, pelo menos não dizem em que ela consiste.

Lúcio Ferro disse...

Bom, pensemos sobre o assunto; por um lado, concordo com o seu amigo, por outro, revelar, enfim, problemas de saúde, pode também causar empatia da outra parte, se esta estiver de boa fé e aí, a sua "fraqueza" pode ser usada como leverage para obter benefício. Adoro lê-lo Senhor Embaixador, já lhe tinha dito? Um bom dia, sem problemas de saúde. :)

Francisco disse...

A perspectiva é curiosa e, pensando bem, talvez muitos de nós a tenhamos já assimilado, mesmo que apenas de modo subliminar. Pela minha parte por exemplo e por estes dias, nunca reivindico a paz como desfecho para o conflito que tem a Ucrânia por palco. A Paz? Era o que faltava. Com tantas e tão boas armas e tantas e tão boas perspectivas geo-estratégicas, a que agora somamos esse inefável Plano Marshall II (e daí que a coisa não está mal pensada, já que também o primeiro foi o reflexo dos interesses e necessidades dos EUA, então, como também agora, vertidos em território europeu), tudo razões para que os defensores da paz (para além de Putinistas e de mais uma série de epítetos a condizer), fiquem logo e assim de rajada, one point down. De modo que e por estas razões estratégicas e tácticas (ninguém quer de facto ficar one point down, como todos sabemos), da minha boca ninguém ouve a palavra tabu. Até porque e como é facto público e notório, os Russos de há muito que perderam os manuais de instruções daquelas ogivas ou não sei quê que para lá têm guardadas, e que, como tudo o que é Russo (digam soviético, digam soviético que causa sempre mais impacto) funciona mal e é obsoleto. Por isso, não tardará nada que voltem todos para casa com o rabo entre pernas, que o "mundo ocidental" (whatever it is...) não é coisa com que alguém se meta de modo impune. De modo que é apenas deixar correr o tempo, que os ventos da História, sopram todos a nosso favor.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Está giro!
Essa dos outros se acharem numa condição de superioridade é daquelas coisas que é para o lado que durmo melhor.

Nuno Figueiredo disse...

quando estás fraco, mostra-te forte. Sun Tzu

Nuno Figueiredo disse...

2. Magritte,

Jaime Santos disse...

Por uma vez concordo com o Lúcio Ferro (e também relativamente ao gosto que é lê-lo). Quem está doente é normalmente objeto de simpatia, desde que não se queixe muito, senão passa ao chato que só fala de doenças...

Estou como o outro, 'I like to be misunderestimated' ;) ...

Ai Europa!

E se a Europa conseguisse deixar de ser um anão político e desse asas ao gigante económico que é?