domingo, julho 10, 2022

Mortos & mortos

Na tragédia ucraniana, para a nossa comunicação social, há mortos civis ”bons” e “maus”. Se o ataque é feito pelos russos, as vítimas são tratadas com imenso carinho mediático. Se se trata de uma ação militar ucraniana, os civis são “casualties” que estavam no sítio errado.

12 comentários:

Anónimo disse...

Devagarinho, as pessoas vão abrindo os olhos!

Um Jeito Manso disse...

Caro Embaixador,

Permita que lhe pergunte se se esqueceu que a Rússia invadiu a Ucrânia e que é Rússia que está em território alheio a destruir pessoas e património.

Claro que, em guerra, nada do que acontece é bom. Mas quem desencadeou a guerra e continua implacavelmente a atacar a Ucrânia é a Rússia.

Por isso, lamento, não consigo perceber o que escreveu.

João Cabral disse...

A exposição dessa dicotomia relativizadora teria sido engraçada no enfrentamento Alemanha Nazi vs. Aliados, senhor embaixador...

josé ricardo disse...

É melhor o sr. Embaixador dizer essas coisas baixinho, caso contrário deixa de ser convidado para o comentário televisivo e jornalístico.

Francisco Seixas da Costa disse...

A Um Jeito Manso. Acha normal tratar os civis mortos de forma diferente?

Um Jeito Manso disse...

Caro Embaixador,

Acho normal que se faça de tudo para que a Rússia se retire e pare de tentar destruir a vontade ucraniana para mais facilmente ocupar e anexar a Ucrânia.

Enquanto a Rússia persistir neste atentado ao direito internacional e persistir nos actos criminosos que vem levando a cabo muitos civis morrerão. Mas quem é o causador da guerra é quem a iniciou e quem nela persiste. Só quando deixar de haver guerra deixaremos de assistir a estas mortes (civis ou não civis). Todas as mortes causadas pela guerra são absurdas e tristes.

Mas só a Rússia pode parar a guerra pois foi a Rússia que a começou. Obviamente não defendo, nem por um segundo, a rendição da Ucrânia. A liberdade de opção de um povo e o direito internacional são valores, para mim, inquestionáveis.

Joaquim de Freitas disse...

Um Jeito Manso: Tem a certeza que foi a Rússia que desencadeou a guerra ?

Dois factos históricos :

1°- O oligarca da Ucrânia que foi presidente da Ucrânia de 2014 a 2018 e participou da fabricação dos acordos de Minsk que deveriam trazer de volta a paz e estabilidade.
Falando a jornalistas alemães... Petro Poroshenko admitiu que o cessar-fogo de 2015 no Donbass, que ele negociou com a Rússia, a França e a Alemanha como presidente da Ucrânia, foi apenas uma distracção destinada a dar tempo para Kiev reconstruir o seu exército.
Ele fez os comentários em entrevistas com vários média esta semana, incluindo a televisão alemã Deutsche Welle e a filial ucraniana da rádio estatal norte-americana Radio Free Europe. “
"Conseguimos tudo o que queríamos”.
“Nosso objectivo era, em primeiro lugar, acabar com a ameaça, ou pelo menos retardar a guerra, – obter oito anos para restaurar o crescimento económico e criar forças armadas fortes.”

2°- O segundo, como um eco sob o sol escaldante da Cimeira da NATO, em Madrid:

Uma declaração do Secretário-Geral desta organização, explicando gentilmente o papel que a NATO tem desempenhado em relação à Ucrânia (e a Rússia) desde 2014.
O americano Robert Bridge apresenta comentários extensos sobre esta declaração, em 3 de Julho de 2022:

O Chefe da NATO vende o segredo: “o bloco liderado pelos EUA 'preparou-se desde 2014' para utilizar a Ucrânia para um conflito por procuração com a Rússia.”.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, tirou o diabo da sua caixa [dizendo] em voz alta o que deveria ter [talvez continuado escondido], quando disse a repórteres que o impulso da NATO na Europa Oriental desde 2014 havia sido feito especificamente com [uma guerra contra] a Rússia em mente.

E isto toda a gente sabia. Quando Madame Nuland mandou a Europa ..."Fuck the UE" em Maidan, estava tudo preparado.

A equação Poroshenko + Stoltenberg completou definitivamente a destruição, como se diria de uma arma de comunicação de massa, da narrativa americanista-ocidental.

Eles dizem portanto:: nós, projectamos tudo desde o início e, portanto, assumimos a responsabilidade quase total, se não absoluta, pelos eventos que se seguiram, desde o bombardeio de civis de língua russa do Donbass, pelo exército de Kiev até à "Operação Militar Especial" dos Russos de 24 de Fevereiro de 2022...

Tanta destruição, tantas mortes para isto...E o que vamos pagar nos próximos meses, na Europa, no campo da economia...A Alemanha jà paga, O Euro jà està a pagar...O resto virá no Inverno ...

Joaquim de Freitas disse...

Joao Cabral: Para os nazis, os civis alemães mortos sob as bombas em Dresde, Hamburgo, etc., eram infelizes vítimas da barbárie terrorista anglo-saxónica. Mas os civis russos vitimas dos alemães, eram simplesmente bolchevistas…

Exactamente o que aconteceu no Donbass durante oito anos, de 2014 a 2022: As vitimas de estupro, incluindo crianças, os civis russófonos, vitimas dos nazis de Direct Sector e Azov , esses civis eram comunistas…Os outros civis ucranianos de Kiev são vitimas da barbárie russa…

E quando penso que em Portugal se rezou nas igrejas e mesmo nas ruas pelos nazis de Azov, encurralados em Mariupol… E que o Papa recebeu em audiência as esposas desses nazis...que vinham pedir a sua ajuda !

Conheço alguém que nao quer voltar a Portugal comigo. Alguém que os nazis expulsaram de Lorraine, onde vivia com a familia, porque eram franceses de origem, falavam francês e nao se chamavam Schneider ou Wagner...E o Pai foi "poupado" porque era um veterano, piloto de caça da primeira guerra mundial,
Nao, a minha Esposa nao quer voltar a Portugal. Que milhares tenham rezado pelos nazis, é demais !

Francisco Seixas da Costa disse...

A Um Jeito Manso. Desculpe lá, mas não é dos culpados da guerra que o meu post falava. É do modo sectário como os diferentes mortos civis (nem sequer militares) são tratados na imprensa. Só isso.

Um Jeito Manso disse...

Percebo-o, Embaixador. A questão é que observações 'inocentes' como a sua são a porta aberta para que os Joaquins de Freitas desta vida entrem com o propósito de culpar a Ucrânia pela invasão e devastação que estão a ser vítimas. Há pessoas que não perdem uma oportunidade para culparem as mulheres por terem sido violadas ou os países para terem sido invadidos.

Por isso, penso que não nos devemos desfocar nem dar facilitar manifestações de apoio aos invasores e criminosos.

Joaquim de Freitas disse...

O Jeito Manso disse: …observações 'inocentes' como a sua são a porta aberta …

Eu sei, li atentamente o que escreveu. Distingo perfeitamente a ideologia que o caractérisa: proibir toda opinião contrária à sua, se esta nao coloca tudo na conta de Vladimir Putin. O que é um pouco curto. Portanto, Senhor Embaixador feche a porta !

Se Gorbachev não tivesse sido enrolado na farinha e se tivesse sido respeitado o acordo de não estender a NATO aos países do ex-Pacto de Varsóvia, provavelmente nunca teria havido uma invasão da Ucrânia.

A NATO alegou que “tal acordo nunca foi concluído” e a “grande imprensa” endossou esta tese sob o pretexto de que não haveria acordo escrito. Mas, além do facto de ser indecente considerar que um acordo verbal não vincularia as partes – promissio est servanda – uma nota do arquivo nacional britânico publicada em 18/02/2022 pela Der Spiegel elimina qualquer ambiguidade . “Há muito estava claro que a expansão da NATO levaria à tragédia.

Agora a Ucrânia paga e estamos pagando o preço da arrogância dos EUA.
E o desprezo da UE pelos EUA. O "Fuck the UE" de Madame Nuland, para justificar o Golpe de Estado de Maidan, nao o insultou, como europeu?

Tudo considerado, a extensão da NATO foi para a Rússia o que o "diktat" de Versalhes foi para a Alemanha, setenta anos antes: uma provocação.

PS) Quanto à sua frase: "Por isso, penso que não nos devemos desfocar nem dar facilitar "manifestações de apoio" aos invasores e criminosos". Estava a pensar no Vietname? Iraque, Siria? Libia, Afeganistão, Somália? Sérvia, Libano? Grenada? Panama? etc; etc.

Carlos disse...

Este viés informativo é bem patente nas homilias quase diárias da SIC notícias protagonizadas pela dupla Rogeiro - Milhazes. Não está em causa o facto de a Rússia ter invadido a Ucrânia ao arrepio do direito internacional após um braço de ferro que fatalmente acabaria por ser desfavorável a parte mais vulnerável. Mas o ostensivo viés informativo protagonizado por esta dupla é duplamente prejudicial. É que do lado ucraniano não há só bondade e democracia e para além da brutalidade protagonizada pelas tropas russas e os seus aliados (incluindo um número não dispiciendovde ucranianos) seria importante reflectir sobre a forma como a invasão é vista pelos russos.

Entretanto poderiam parar com o espectáculo patético das queixas dos Europeus sobre as quebras de fornecimento do gás russo. Depois dos muito celebrados 6 pacotes de sanções contra a Rússia esperavam o quê? AUE está a conduzir uma guerra económica contra a Rússia e acha que os russos não vão retaliar?

Ai Europa!

E se a Europa conseguisse deixar de ser um anão político e desse asas ao gigante económico que é?