Era uma figura que recordo pequena, sempre tensa, que levava tão a sério a sua função de responsável pela segurança da personalidade política a quem servia que, não raramente, ultrapassava, no exercício dessa atividade, os limiares do ridículo. Como se sentia ungido de uma autoridade delegada, tornava-se, por vezes, prepotente e desagradável.
Uma noite, em Londres, tive com ele uma troca de palavras, ao telefone, que o levou a queixar-se, superiormente, daquilo que considerou ser a minha impertinência, e que mais não era do que uma ironia que eu não tinha podido evitar perante mais um dos seus manifestos excessos. No dia seguinte, diverti-me imenso com a sua fúria, ao não ver aceite as suas credenciais oficiais, sendo revistado, da cabeça aos pés, pelos seus homólogos da segurança britânica, à entrada para a sala VIP do aeroporto de Heathrow. Cuidei em que lhe não escapasse o meu imenso sorriso de gozo.
Vários diplomatas guardam histórias dos excessos de zelo da personagem. A mais deliciosa, porventura, terá tido lugar em Bruxelas, numa das salas que cabiam a Portugal, na sede antiga do Conselho de Ministros da União Europeia.
A personalidade política estava de costas para uma janela, num intervalo de um Conselho Europeu. De súbito, uma pomba veio colar-se, pelo exterior, ao parapeito da janela, a centímetros do dignitário.
Do outro lado da sala, o olhar prescrutador, vigilante, do guardião-mor da segurança física da personalidade, fixou a pomba, através do vidro. A certo ponto, a ave abalou dali. Porém, minutos depois, regressou e, ao fazê-lo, bateu ligeiramente com a asa no vidro, o que se notou do interior.
O nosso homem, em voz baixa, perguntou então ao embaixador português: “Aquela pomba costuma estar por ali?” Não faço ideia da resposta que o zeloso servidor levou, ou talvez tenha levado apenas com uma merecida gargalhada na cara grave que sempre afivelava .
2 comentários:
"Está na cara" que a pomba era Spy.
eheheh.
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