Sei muito pouco do restaurante de que hoje falo. Não faço ideia de quando nasceu, não sou amigo dos donos, nem outras coisas que criam intimidade com o lugar e nos ajudam a escrever sobre ele.
Nasci para este restaurante há já uns bons anos, fruto de um convite de um primo que sabe da poda e não mora longe. Desde esse longínquo jantar (a “tertúlia dos primos”, uma das minhas favoritas, amesenda ali muitas vezes), fiquei com o Raposo no radar.
O Raposo fica no 58 da rua Passos Manuel, uma artéria que desemboca no Jardim Constantino e na Pascoal de Melo, que liga a Almirante Reis à Estefânea. Antes, apenas me lembro de ir por ali à Assírio & Alvim e a um clássico chamado Vaskus, um restaurante que, há muitos anos, chegou a estar na moda (passei lá há meses, já depois de reabilitado: estava apenas “assim-assim”).
O exterior do Raposo sofreu, há tempos, um toque de elegante modernidade europeizante. No interior, a decoração é mais despretensiosa, com as clássicas garrafas no balcão (que sempre passo em revista). O serviço é simpático, sem ser mesureiro, o ambiente é solto, bem disposto.
Sinto que estão a desaparecer os restaurantes do género do Raposo. E qual é o “género” do Raposo? Ora bem, são restaurantes populares “ma non troppo”, de sólida cozinha portuguesa, com qualidade e generosas quantidades, com uma oferta de pratos não exagerada, lista de vinhos competente e gente para nos aconselhar coisas novas no meio dela. E com preços razoáveis e não especulativos.
Contrariamente a muitas outras casas do género, no Raposo não nos sentimos num restaurante já “cansado”, com pessoal antigo mas displicente, com notas de regular desatenção culinária, como se já não valesse a pena fazer um esforço de brio. No Raposo (que eu tivesse dado conta!) não se pratica o erro mais comodista da mediocridade restaurativa lusitana: servir pratos diferentes com exatamente o mesmo acompanhamento. Ah! E os guardanapos são de pano, imaculados (guardanapos de papel excluem-me, em regra, do futuro de um qualquer restaurante que pretenda ser mais do que uma tasca).
O Raposo parece ter uma clientela fiel, feita de pessoas que ali sabem bem ao que vão e o que querem.. Se acaso levarem carro (aviso: continuarei a cometer sempre esse erro, para todo o lado onde vá, e prometo nunca me corrigir), preparem-se para dar algumas voltas “ao bilhar grande”. Reservem mesa (213 531 059), porque, com alguns bloguistas linguareiros a gabar o local, aquilo está muitas vezes cheio. Mas o Raposo é ainda, nos dias de hoje, um segredo bem guardado.
Uma curiosidade: o Raposo está situado naquele que é o maior quarteirão de Lisboa! Façam a experiência, vão por mim!
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