quinta-feira, junho 16, 2022

Lembrar Minsk

Estamos muito longe de conhecer os contornos do compromisso com que terminará a guerra na Ucrânia. Mas tenho quase a certeza de que se acaso Kiev tivesse dado os passos a que se tinha comprometido no Acordo de Minsk de 2015, o saldo político final ser-lhe-ia bem mais favorável. Pelo menos, teria retirado à Rússia um importante pretexto que usou para justificar a invasão.

7 comentários:

Luís Lavoura disse...

Vale a pena lembrar os acordos de Minsk por um outro motivo. É que, se é para a Ucrânia voltar a assinar um acordo de paz como o de Minsk, ou seja, assinar contrariada um acordo que no fim não respeitará, então talvez mais valha não assinar acordo nenhum.

Há muita gente que atualmente propugna acordos de paz, sem ter em conta que tais acordos podem somente ser uma forma de adiar os problemas, tal como os acordos de Minsk fizeram.

O facto é que na Ucrânia sempre houve quem não aceitasse a paz de Minsk e não a quisesse cumprir. A prazo, essas pessoas acabaram por ter o poder, de tal forma que a Ucrânia desrespeitou sistematicamente e deliberadamente os acordos de Minsk.

Quando fôr para assinar novos acordos de paz, temos que garantir que todos na Ucrânia (e fora dela!) estarão mesmos dispostos a cumpri-los.

Anónimo disse...

Fernando Neves
E se tivessem aceite negociar as preocupações de segurança expostas por Moscovo dias antes da invasão, em vez de fazer troca deles , tiravam outro argumento Putin , entretanto premiado com as sanções económicas a que prevejo um êxito estrondoso como o do bloqueio a Cuba.

João Cabral disse...

A Rússia arranjaria qualquer pretexto, senhor embaixador.

Anónimo disse...

Mau! Mas, afinal, a guerra não se deve apenas à loucura de Putin?

Anónimo disse...

Fernando Neves
João Cabral, leia o que eu disse

Joaquim de Freitas disse...

A Rússia sempre teve o papel errado. Mesmo depois de derrotar o nazismo. Hoje está pior.

De acordo com pessoas que se contentam com conteúdo informativo pré-mastigado, a Ucrânia está indignada, a Ucrânia está quebrada, a Ucrânia é martirizada pela Rússia, esse país odiado cuja existência apenas sob a condição de ser sem sangue, encharcada de álcool, subjugado e cercado pela NATO.

Para esses pintinhos de boca aberta, alimentados e recheados de propaganda, o passado não existe, os efeitos não têm causas, a história é um nada

Apenas duas verdades permanecem: a Rússia é má e a América está travando uma guerra para defender a liberdade.

O Ocidente decidiu fornecer armas que, obviamente, são capazes de atingir não apenas as áreas fronteiriças da Federação Russa, mas tambémos seus pontos mais distantes. Políticos e legisladores na própria Ucrânia zombam dos EUA, que disseram acreditar na promessa de Vladimir Zelensky de não bombardear a Rússia.

O Sr.Lavoura diz justo: "Quando fôr para assinar novos acordos de paz, temos que garantir que todos na Ucrânia (e fora dela!) estarão mesmos dispostos a cumpri-los."

E vai ser preciso escolher:

As escolhas propostas num referendo provavelmente deveriam levar à criação de quatro estados:

• ficar com a Ucrânia
• [tornar-se] uma região autónoma da Ucrânia
• [tornar-se] um estado independente
• fusão com a Federação Russa

Essas opções determinam os limites políticos. Havia uma zona desmilitarizada em torno de Lughansk e Donetsk, monitorada pela OSCE. A artilharia de grande calibre deveria ser retirada a uma distância prescrita da "linha de contacto". (Isso não impediu que os nazistas matassem 14.000 pessoas com bombardeios, morteiros e franco-atiradores em regiões separatistas durante 8 anos.) Isso foi então. Será diferente desta vez, porque Putine sera intransigente...

Como escreve Luis Lavoura: "O facto é que na Ucrânia sempre houve quem não aceitasse a paz de Minsk e não a quisesse cumprir."

O presidente Putin disse repetidamente, em Janeiro e no início de Fevereiro, que a Rússia não tolerará um modelo de segurança europeu que dependa da NATO como força dominante. Especialmente quando isso acontece à sua porta.

Carlos Antunes disse...

Não tenho a pretensão de contestar o Embaixador, mas não me parece, com o devido respeito, que tenha sido a Ucrânia a única parte a violar os Acordos de Minsk 2 de 2015, e que esta violação tenha sido o pretexto para a Rússia justificar a invasão da Ucrânia.
O Acordo de Minsk 1, proposto pelo Presidente da Ucrânia na altura, Petro Poroshenko, além dos 12 pontos nele estabelecidos, previa um cessar-fogo entre o exército ucraniano e os separatistas russos, que não foi respeitado por ambas as partes, e que depois de pesadas baixas nas tropas da Ucrânia, levou à adopção do Acordo de Minsk 2 de 2015 que entre os seus 13 pontos, previam a descentralização de Donetsk e Lugansk, o direito à “autodeterminação linguística” (restritivo à autodeterminação linguística e nunca à qualquer outro tipo de autodeterminação) à nomeação de procuradores e juízes, e eleições locais.
Em contrapartida, e como elemento decisivo dos acordos, porque se tratava à luz do direito internacional do respeito pela integridade territorial da Ucrânia, esta tinha de retomar o controlo da fronteira com a Rússia, que esta nunca respeitou e, de certo modo, impeditiva da plena realização por parte da Ucrânia dos outros pontos do Acordo, como aliás o demonstrou a persistência do conflito entre as forças ucranianas e as forças separatistas apoiadas pela Rússia
Ou seja, mais uma vez a violação do Acordo de Minsk 2 de 2015, foi de ambas as partes, e parece-me que a mais flagrante violação do mesmo, foi a do Presidente russo ao reconhecer a independência, nela não prevista, dos territórios separatistas pró-Rússia, de Donetsk e Lugansk.
Vou mesmo mais longe, com ou sem violação do Acordo de Minsk 2 de 2015 por parte da Ucrânia, esta seria na mesma invadida pela Rússia de Putin.

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