sábado, junho 04, 2022

Cavaco


Cavaco Silva é o político mais óbvio de Portugal. 

Porque raramente alguém surge a defender o seu legado governativo, ele promove-o despudoradamente, sempre que pode, metendo debaixo do tapete o medíocre segundo mandato, que o país, em 1995, puniu com a derrota do PSD que levou o PS ao poder e, em 1996, com a derrota do próprio Cavaco Silva, infligida por Jorge Sampaio. 

Com as suas cíclicas e cirúrgicas aparições, procura tentar ser recordado como referência histórica de um partido que vive esmagado entre o mito Sá Carneiro e o saudosismo sebastiânico em torno de Passos Coelho. 

Cavaco Silva pressente que não deixou uma marca afetiva forte e, por isso, fala muito do partido, para que este o não esqueça. Não parece que vá ter muita sorte.

6 comentários:

João Cabral disse...

Certa esquerda faz mais por manter viva a lembrança de Cavaco e Passos do que o próprio PSD, senhor embaixador.

Jaime Santos disse...

Ó João Cabral, mas isso é óbvio. E fá-lo pela mesmíssima razão pela qual uma certa Direita se esforça por manter viva a memória de Sócrates...

Só que, enquanto o PS se despegou da memória do ex-PM como o diabo foge da cruz (por razões que não carecem de explicação), a Direita ainda se agarra à dos seus dois paladinos, não percebendo que ela é, se bem que de uma forma diferente e obviamente não comparável, igualmente tóxica para o povo (note-se que se já poucos se lembram dos anos dourados de Cavaco como PM, todos ainda se lembram do seu segundo mandato como PR).

A declaração de Montenegro, de que o País estava melhor, mas os portugueses não, é bem exemplificativa da incapacidade em perceber o que se passou de 2011 a 2015. É uma frase trivial que queria dizer que as finanças públicas estavam em melhor estado, à custa do sacrifício das pessoas (que a PàF não se cansava de elogiar, esquecendo que não tinha prometido nada disso na campanha de 2011), mas soou cruel então e ainda soa cruel agora... Acho que Costa ainda vai gozar muito com Montenegro por causa dela.

Um bocadinho de humildade, que a Direita, a começar por Cavaco, não tem nem nunca teve (a Pátria dela é melhor que a do resto dos Portugueses), era capaz de ajudar. Time to move on...

Corsil disse...

O que faz falta é animar a malta...!
Ainda há gentinha que adora peixeirada política!!!!!!

Unknown disse...

A dimensão de Cavaco mede-se pela sua não carreira internacional ou qualquer convite vindo de fora. E mesmo cá dentro tem que ser ele a pôr-se em bicos de pés para fingir que ainda está vivo. É uma espécie de alma penada. Ele já morreu há muito tempo, só que, por piedade, ainda não o avisaram.
MB

António Ladrilhador disse...

Para que a ironia o seja, verdadeiramente, e produza algum efeito, necessário se torna que o autor seja senhor de algumas qualidades de cuja falta outros, notoriamente, padecem. O défice de sentido de estado de alguns políticos aparece, por outro lado, como apanágio da boa parte de quantos se propõem reger os os nossos destinos nos tempos que correm.
Elaborei um pouco hoje sobre o assunto em https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2022/06/sentido-de-estado.html, que tenho o gosto de o convidar a comentar.
Votos de uma excelente semana.

Jaime Santos disse...

Meu caro MB, não diga isso, olhe para a 'dimensão' do seu delfim, Durão Barroso, e o número de cargos internacionais que exerceu ou exerce.

Entre ele e Cavaco, eu apesar de tudo preferiria o Professor de Economia armado com todo o seu ressentimento... Pelo menos ele não ajudou a promover uma guerra ilegal.

A mesma coisa que tantos Barrosinhos agora andam a fazer, inclusive nestas páginas, sendo que esses até se dizem de Esquerda.

Espero que vão todos morrer longe de morte eleitoral súbita, a começar naturalmente pelo PCP mais a sua pequena hipocrisia...

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