Desde que me conheço, o none da capital da Ucrânia escreve-se, em português, Kiev. E, na nossa língua, a palavra lê-se, naturalmente, acentuando o “e”. Surgiu agora, por aí, a ideia de, por solidariedade, passar a usar a versão ucraniana do nome da capital, Kyiv, passando assim a dizer-se “kiive”, dado que, aparentemente, os russos leem a palavra como nós sempre a lemos. Temo que, nos dias emocionados que correm, quem continuar a ler o nome da cidade à moda portuguesa antiga possa, policiescamente, ser considerado “a soldo de Moscovo”. É isso? Há limites para tudo, meus senhores! (E espero bem que, ao grafar esta interjeição de duas palavras - “meus senhores!” - não esteja a incumprir com as regras do politicamente correto, talvez porque devesse exclamar, como um edil de lugarejo a falar às massas: “Minhas senhoras e meus senhores!”)
Há mais de vinte anos, estava então de passagem pelo governo, fizeram chegar até mim uma “nota verbal” (um dia explicarei o que isso é) da embaixada da Bielorrússia em Londres, cujo titular estava acreditado simultanemente em Portugal, pedindo expressamente que, de futuro, em língua portuguesa, o nome do país fosse designado por "Belarus" e não por "Bielorrússia". A ideia, ao que parece, era distanciar o país da imagem da Rússia, então dirigida por Yeltsin. Imagino que esperassem que “instruíssemos”, em conformidade, a imprensa e os prontuários. Recordo-me de ter tido o cuidado de mandar explicar ao governo de Minsk que, em Portugal, o Estado não se arrogava o direito de controlar os topónimos. E nunca mais ouvi falar do assunto. (Nos dias de hoje, a tal Belarus está, como se tem visto, cada vez mais Bielorrússia e até o “Bielo” da palavra, pelo andar da carruagem, se arrisca a ir por água abaixo…)
7 comentários:
Não é caso único.
Agora começou a moda de dizer "Moldova", em vez de Moldávia.
E há que lembrar "Myanmar" em vez de Birmânia.
Taiwan em vez de Formosa.
Beijing em vez de Pequim.
Mumbai em vez de Bombaim.
Recordo-me de ter tido o cuidado de mandar explicar ao governo de Minsk que, em Portugal, o Estado não se arrogava o direito de controlar os topónimos.
Então porque é que de repente toda a gente foi instruída de que não se deve dizer "Holanda" mas sim "Países Baixos"? Quem instruiu?
a palavra lê-se, naturalmente, acentuando o “e”
Uma vez perguntei a um ucraniano como se diz na língua deles. Ele disse "Quieife". O "e" lê-se "ei".
Nos endereços e-mail das universidades escreve-se "kiev.ua".
José
Mumbai em vez de Bombaim.
O governo indiano de há muitos anos para cá deciciu pôr as cidades todas com os nomes indianos, retirando-lhes os nomes ingleses por que eram conhecidas. Assim, Bombaim passou a Mumbai, Madrasta passou a Chennai, Calcutá passou a Kolkata, Bangalore passou a Bengaluru, e mais algumas terão também mudado.
Não é coisa recente, quando estive na Índia em 1997 já essa mudança tinha sido feita.
Lavoura, sei perfeitamente disso. Tal como "Beijing" é uma "descolonização" de Pequim, "Mao Ze Dong" substituiu "Mao Tse Tung", Guiza substituiu Gizé, etc. Até o Kadafi passou a Gadafi. E?
Além de que a forma portuguesa é "Quieve", lendo-se da forma óbvia, pelo que não há por onde fugir. Faz lembrar a Costa do Marfim que desde os anos 80 quer que o país se chame Côte d'Ivoire internacionalmente, como se mandassem nas outras línguas. É claro que ninguém fez caso.
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