quarta-feira, outubro 28, 2020

Quem ganhou?


Os últimos dias têm trazido o Bloco de Esquerda para a ribalta política. Ao mostrar a sua oposição a um orçamento de crise, contrastando com o sentido de compromisso demonstrado pelo PCP, o Bloco quis sinalizar que, à esquerda, havia quem defendesse um outro pacote de medidas, com forte impacto social, que o executivo havia decidido não acolher.

Com o estrondo mediático da sua atitude, os bloquistas acabaram por transformar o debate orçamental num espetáculo de esquerda vs esquerda, com a direita nas bancadas.

Quem ganhou com esta quase crise?

O PCP não foi, com certeza. Os comunistas nunca se recompuseram da incomodidade de 2011, quando, ao votarem ao lado da direita, ajudaram a abrir caminho a quatro anos que saíram caro aos seus eleitores. Se há coisa que não falta àquele partido é memória e a inédita disponibilidade de Jerónimo de Sousa, em 2015, para a dar a mão ao regresso do PS ao poder, foi disso cabal mostra. Agora, ao ver-se ultrapassado pela esquerda, em matéria de exigência perante o governo socialista, o PCP ganha em sentido de responsabilidade aquilo que perde em imagem reivindicativa. A ver vamos como António Costa os recompensará.

Para o PS, uma Geringonça informal era o cenário ideal, com o PSD a dar a mão em questões “de Estado”. Assim, esta turbulência em torno do Orçamento apenas contribui para adensar a ideia de que o governo terá entrado numa onda de “trapalhadas”. O resultado dos Açores, episódios como o da App, bem como a gestão atribulada da questão presidencial, cria em muita gente a perceção de que o PS está a iniciar o fim deste seu ciclo político. Sendo ou não verdade – e não julgo que o seja, longe disso – essa é uma imagem que pode espalhar-se com facilidade, no contexto de incerteza e de navegação à vista a que a pandemia obriga o governo.

E o Bloco? Como sai disto? Vale a pena refletir num ponto: o Bloco ou tem uma ligação operativa aos socialistas, que lhe permita influenciar, pela positiva, a conduta das políticas públicas, ou arrisca continuar a ser um despiciendo partido de “bate-pé”. O Bloco, fora do parlamento, não é quase nada - salvo na comunicação social complacente que lhe magnifica desmesuradamente a voz política. O Bloco não tem autarquias, não tem implantação sindical significativa, vive dos “sound bites” mediáticos e de agendas sociais excessivas, simpáticas (SNS) ou demagógicas (Novo Banco).

Ninguém, à esquerda, ganhou com esta tensão política. Mas a direita, no estado em que está, nem sequer isso aproveita.

17 comentários:

Jaime Santos disse...

Não é a Oposição que ganha eleições, é o Governo que as perde, Sr. Embaixador. O poder pode bem cair no colo desta Direita sem que ela tenha feito o que seja para o merecer, fruto dos tiros no pé das diferentes Esquerdas (no próprio pé de cada uma e nos pés das outras também). Nunca se substime o carácter autofágico da nossa Esquerda (leia-se, a sua burrice).

Temo só de pensar o que seria uma geringonça de Direita constituída por PSD, CDS, Chega e IL... Faria o Governo de Santana Lopes parecer um exemplo de consistência e competência :) ...

Luís Lavoura disse...

ser um despiciendo partido de “bate-pé”. O Bloco, fora do parlamento, não é quase nada

"despiciendo"??!! Disparate. O Bloco é o terceiro partido em votação, e isso é que interessa. O que interessa é o que o Bloco é no parlamento. É no parlamento que, verdadeiramente, se conta espingardas (quero dizer, deputados). O Bloco não é, de forma nenhuma, um partido despiciendo, na medida em que os muitos deputados que tem no parlamento constituem uma forte força de bloqueio.

(E eu não sou do Bloco, muito longe disso.)

Anónimo disse...

Por cá, estou desconfiado com o alento que os Açores lhe deram, que o Chega em breve vai ser 3ª força política em São Bento.

Anónimo disse...

Demagogia a posição do BE sobre o Novo Banco???? Que disparate!
Arrepia-me a consciência ao imaginar que já foram mais de 20 mil milhões de EUR para a ajuda à banca desde a Troika e até hoje! Você é não é simpatizante do PS é ADEPTO!
Parvoeira de análise! Mas, o que choca é a sua complacência para com as ajudas à Banca, paga pelos contribuintes, que o PS herdou e manteve! E até teve por lá alguns dos seus figurões a ajudar àquelas trapalhadas, como Manuel Pinho e Luís Amado (que deixou o Banif na falência).
a)Júlio D

Anónimo disse...

O BE em 2011 também entregou o poder a direita, a qual governou(?) obediente, sob a tirania da troika que acabou por reconhecer ter sido um erro a experiência que os funcionários subalternos das instituições que mandaram em nós. Obrigaram a deixar cair o BES o que prejudicou mais o país que os dononos. E parece que as pessoas ainda não perceberam que toda a banca internacional cometeu um crime com as práticas ilegais que levaram à crise de 2008, mas que se os estados não tivessem apoiado a banca eram os depositantes que ficavam sem o dinheiro que lá tinham. Por isso não vale a pena comparar essa despesa com nenhuma alternativaf
Fernando Neves

Anónimo disse...

Viram ontem os tipos do "o outro lado" na RTP3? Aqueles gajos falavam em "geringonça" nos Açores e... no Continente. Aqueles tipos passaram um programa a falar como se a AR fosse o parlamento do Continente. Incrível!

Luís Lavoura disse...

Júlio D

A posição do Bloco sobre o Novo Banco é demagógica, porque o Estado mais não tem feito do que cumprir escrupulosamente, como é seu dever, o contrato de venda do NB à Lone Star.

O Estado tem-se limitado a ressarcir, como estava previsto no contrato, a Lone Star por menos-valias efetuadas na venda de alguns ativos do NB, ativos esses que estavam sobreavaliados no contrato de venda (certamente com o objetivo precisamente de obter mais dinheiro da Lone Star aquando da venda, ficando os prejuízos diferidos para mais tarde, isto é, para agora).

O Bloco de Esquerda sabe perfeitamente que a gestão do Novo Banco tem sido correta e idónea. Se O NB tem tido "prejuízos" na venda dos seus ativos, isto deve-se somente ao facto de esses ativos terem sido sobreavaliados para "enganar" a Lone Star.

aamgvieira disse...


"O melhor governo é aquele em que há o menor número de homens inúteis."

Nunca se aplicará a nenhum governo de Costa.....

Anónimo disse...

Discordo das opiniões dos Leitores Fernando Neves e Luís Lavoura, embora, naturalmente as respeite.
O que penso é que a partir do momento que um Governo, qualquer que seja, intervém num Banco para sobretudo proteger os seus depositantes e de algum modo evitar uma implosão da Banca, que teria efeitos sísmicos financeiros potenciais (se não reais), esse Governo deve colocar o Estado como accionista desse Banco intervencionado, ou ajudado, na proporção daquilo que ali injectou, em nome dos contribuintes e por respeito a eles.
O que se fez, sobretudo no que respeita ao NB, foi o Estado ficar com as dívidas e vender o activo bom a um Fundo Abutre, o Lone Star (que aliás está interdito de actuar nos EUA)e continuar a fazê-lo.
Isto para já não falar de outros casos, BPN, Banif, etc, etc, etc, que a lista é longa!
a)Júlio D

Carlos Diniz disse...

Está enganado senhor embaixador. O que saiu caro ao portugueses foram as trafulhices do inominável Sócrates que por si não é aqui chamado à colação.

Sintomático, não acha?

efege disse...

Os bloquistas não governam uma simples junta de freguesia, não respondem por funções executivas e por isso estão sempre na situação privilegiada de apontar o dedo a todos, com grandes discursos sem serem confrontados com a sua ação. O Parlamento permite-lhes tratarem das suas carreiras pessoais, sem a "chatice" de ter de gerir o que quer que seja. E a geringonça alcandorou o BE a partido que risca nos negócios do país, deixando de ser apenas um partido de protesto. Tem um espaço e aceitação nos media desmesurados. E fala com uma arrogância incrível. Veja-se como Catarina e Mariana se exprimiram no Parlamento em contraste com um João Leão em tom sereno, civilizado.

João Cabral disse...

«O Bloco, fora do parlamento, não é quase nada - salvo na comunicação social complacente que lhe magnifica desmesuradamente a voz política. O Bloco não tem autarquias, não tem implantação sindical significativa, vive dos “sound bites” mediáticos e de agendas sociais excessivas, simpáticas (SNS) ou demagógicas (Novo Banco).»

Subscrevo, senhor embaixador. O BE é a terceira força do Parlamento com... 500 mil votos (não nos esqueçamos de que a abstenção nas últimas legislativas foi de 50 %).

Anónimo disse...

A frase referida pelo aamgvieira é androfóbica e sexista.

JFM disse...

Ao contrário de outros o BE é um partido sem responsabilidades e pior sem ideologia.
Em 2011 todos nos lembramos como agiu, em 2020 querendo ser diferente não foi capaz de justificar minimamente o voto contra, melhor dizendo o voto com a direita.
Mencioná-lo como terceira força talvez já não seja, de seguida poderemos confirmar com os resultados das presidenciais.
É muito mais importante fazer parte da solução...

Anónimo disse...

A direita efectivamente subtil de Rui Rio não é a direita avassaladoramente ingênua de Passos Coelho.
Vai daí as coisas desta vez provavelmente não irão desenhar-se como então, como ocorreram nos idos de Cavaco.

aamgvieira disse...

Anónimo das 20:38 de 28/10/20:

O Sr.é um pândego, uma citação de Voltaire, que assenta que nem uma luva ao Costa & companhia.

Nota: Voltaire não joga no PSG !

José Figueiredo disse...

Embaixador,
Concordo inteiramente com o seu penúltiplo parágrafo sobre a falta de corpo do BE. Não concordo é que se diga que está à esquerda do PCP. Este continua a ser o último e único defensor da revolução proletária, seja isso difícil de compreender no nosso tempo e inútil. O Bloco é apenas um partido esquerdista na procura de um lugar no espectro partidário e que se liga sobretudo às classes médias urbanas que vivem confortavelmente.
José Figueiredo
Braga

Maduro e a democracia

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