sábado, outubro 24, 2020

“Geographia” do Portugal colonial


Na sua imperdível página de crítica gastronómica - uma permanente bússola para mim - na revista do “Expresso”, Fortunato da Câmara faz hoje uma análise a um dos restaurantes da minha vizinhança próxima, o “Geographia”.

O “Geographia” situa-se na rua do Conde, numa das alas laterais ao chafariz que dá para o Museu Nacional de Arte Antiga, junto às Janelas Verdes.

De quando em vez, passo por lá, embora sem uma regularidade que faça a devida justiça à qualidade da casa. A oferta do “Geographia” é muito interessante e original, porque deliberadamente percorre os sabores do percurso da expansão portuguesa pelo mundo. Isso mesmo é sublinhado por invejáveis mapas antigos que ali estão espalhados pelas paredes.

No seu texto, Fortunato da Câmara refere, a propósito, que a sensibilidade do “politicamente correto” terá inviabilizado uma referência à palavra “colonial” na designação de outro recente projeto restaurativo em Lisboa. A palermice que por aí anda não tem limites!

Ao ler isso, veio-me à memória o “Colonial”, um clássico café da Almirante Reis, nos Anjos, a que um dia cheguei, no final dos anos 60, pela mão do meu amigo portuense (mas, portista, nunca!, ele é do Leixões!) Manuel Amorim de Carvalho, um eterno “expert” em locais exóticos - desde um endereço que não revelo, na Alferes Malheiro, no Porto, até coisas lisboetas como o “Calhau”, “Rancho Grande”, o “Cabeça de Touro” ou um snack-bar abrilhantado por uma tal Marta de la Cranche. Com ele, com o Alexandre Chaves e o Daniel Polónio, aportei algumas tardes ao “Colonial”, na transição dos anos 60 para 70, tentando estudar mas acabando sempre numas cervejolas com tremoços, a meio da tarde.

No “Colonial” comia-se, por esses tempos, um bacalhau à braz que o José Cardoso Pires me disse um dia ser “único, em Portugal & colónias”. O Zé, noutros tempos, tinha parado por lá e alimentava a tese de que o café “estava sempre infestado de fascistas”, pelo que uma ida ali era “apenas para comer o bacalhau e zarpar”. Nunca percebi se tinha razão, mas ele normalmente tinha.

As colónias já se foram, o Cardoso Pires e o “Colonial” também. Existe agora o “Geographia”, que “vaut le détour”, posso garantir, como dizem os guias verdes da Michelin.

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