terça-feira, maio 01, 2018

Israel e o Irão

Percebo que o programa nuclear iraniano crie sérias preocupações. Por essa razão, deve ser preservado, a todo o custo, o laborioso acordo negociado entre Teerão e a comunidade internacional, que prevê mecanismos de controlo sobre a atividade iraniana nesse domínio. Só irresponsáveis podem defender que mais países possam ter acesso a meios nucleares para fins potencialmente bélicos. 

Acho, contudo, de uma desfaçatez sem limites que Israel surja a mostrar indignação sobre o assunto, sem que o mundo solte uma gargalhada. É um segredo de Polichinelo que Israel mantém um programa análogo e tudo indica que possui já a arma nuclear. Talvez não seja por acaso que Israel se recusa assinar o Tratado de Não Proliferação e que, desde sempre, rejeitou quaisquer inspeções da Agência Internacional de Energia Atómica. As quais, note-se, o Irão tem vindo a aceitar, nos termos em que se comprometeu.

7 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Perfeitamente analisado, Senhor Embaixador. Israel é um mundo de perfídia.

Quando Israel bombardeia a Síria, Israel está simplesmente a simplificar o seu procedimento de engajamento militar. Israel acusa o Irão de se dotar da arma atómica... Claro, Israel é a paz, o amor entre os povos e a luz das Nações. E se pretende um pretexto para um ataque preventivo ?

Porque, entidade metafísica dotada de prerrogativas extraordinárias, tem o direito de bombardear quem ela quiser quando quiser. Para obter esta impunidade, é verdade que o Estado Colonialista colonizou todos: Washington, Paris, Londres e até mesmo as Nações Unidas.

Enquanto isso, este fazedor de guerras bombardeia a Síria, mesmo correndo o risco de provocar uma escalada devastadora. É incrível, mas o disparo de mísseis de 30 de Abril é a centésima operação israelita contra a Síria desde 2013. E ninguém diz nada...

No entanto, ao atacar as instalações militares sírias, os líderes sionistas esperavam que Damasco e Teerão (também alvo) iriam eventualmente replicar. Não lhes escapou que um avião israelita (dois, de acordo com algumas fontes) foi abatido em Fevereiro, e que a DCA síria abateu a maioria dos mísseis lançados em 14 de Abril pelo trio neo colonial.

Em questões estratégicas, mostrar compostura não é um defeito, mas uma qualidade. O provocador está sempre a tentar impor a sua agenda. Replicar sem esperar equivale a aceitar as suas condições.

O mesmo vale para a provocação verbal, e Teerão respondeu com ironia às últimas acusações do seu suposto programa clandestino. Estas "alegações desgastadas", disse o iraniano, são apenas o "bluff repetido" digno de um "menino que grita ao lobo". Quando um Estado que detém 300 ogivas nucleares subtraídas a todo e qualquer controlo internacional quer dar a lição a um Estado sem armas nucleares e sujeito a rigoroso controlo da AIEA, a realidade ultrapassa a ficção.

O que enerva os sionistas e os seus aliados de Washington, é que se o Irão e a Síria não respondem imediatamente, é pela simples razão que não querem um confronto militar com um adversário do qual conhecem a força, o apoio do aliado e a loucura assassina.

Israel prospera fazendo esta guerra perpétua, porque justifica a violência estrutural exercida contra os Palestinos que Israel espoliou e todos aqueles que lhe resistem na região. Em contrapartida, o Irão e a Síria não têm domínio colonial e não atacam nenhum Estado estrangeiro.

Que teriam a Síria e o Irão a ganhar numa guerra total com Israel e os EUA? É bem por isso que não respondem à provocação.

O MNE iraniano disse ontem que o PM israelita é um mentiroso indecente. Basta, de facto, recordar o que este abutre disse nos anos 90 sobre a necessidade de derrubar Saddam Hussein, prometendo uma era de paz e progresso para a região. Todos conhecemos o resultado. Netanyahou quer provocar a mesma catástrofe para o Irão.

Anónimo disse...

«Só irresponsáveis podem defender que mais países possam ter acesso a meios nucleares para fins potencialmente bélicos. »

Absolutamente !

E só hipócritas podem pactuar com o facto de continuar a haver países com esse poder.


MRocha

Anónimo disse...

Difícil lobrigar diferenças ente Israel e Irão neste cenário.
Ambos têm dirigentes que na prática não permitem inspeção dos seus programas nucleares.
Ambos têm dirigentes que publicamente afirmam a sua vontade de destruir, arrazar, o outro.
Esta mutuamente belicosa atitude tem séculos.
A diferença é que hoje em dia, com armas de devastação maciça, a situação está no limite.
Sabemos que cão que ladra não morde, mas.
Os respectivos povos, hebrews e persas -e a comunidade internacioal- deviam pensar mais do que duas vezes, e agir. Mas podem?.

Anónimo disse...

Meu caro Francisco,
Brilhante Post! Subscrevo inteiramente! Em poucas palavras você disse aquilo que - há muito - se vem mencionando, em vários corredores da Diplomacia internacional.
Apercebi-me disso mesmo quando em tempos presidi à ANPAQ. O fluxo de informação que então se tinha e imagino que se mantém, obviamente, deu-nos essa percepção. Até mesmo no que respeita à Síria. Aquela "demonstração" do PM israrelita não passou de uma manipulação da realidade, no que respeita ao Irão.
Quanto aos EUA e até invocando um conhecido Senador Republicano numa entrevista que deu recentemente, a verdade é que já estão em guerra no Médio Oriente há mais tempo do que aquele somado na Grande Guerra, na 2ª Guerra Mundial e na do Vietname, sem dali terem extraído qualquer sucesso militar. Dá que pensar.
Abraço!

Anónimo disse...

@Anónimo 2 de maio de 2018 às 12:24

Uma pequena correcção.

"Ambos têm dirigentes que na prática não permitem inspeção dos seus programas nucleares. "

O Irão ao assinar o acordo passou a permitir a visita de inspectores bem como auditorias e camaras de vigilangia nas instalacoes designadas pela agência Internacional de Energia Atómica, bem como, segundo as entidades que fiscalizam o referido acordo desfez-se do seu material nuclear e tem cumprido o acordo.

Agora quem manda em Israel é ja ha muito tempo que mais parece interessado em incendiar o medio oriente. Ou tornaram-se completamente loucos ou esta situação é-lhes favoravel pois caso contrario ja teriam resolvido as coisas de outra forma.

Uma curiosidade.... alguem reparou que o daesh, isis, al nusra, al quaeda nunca atacaram Israel nem nunca falaram nisso? E que Israel nunca demonstrou preocupacoes com esses grupos terroristas tendo apenas demonstrado com o governo Sirio , com o Irao e o Hezbola? ;)
Porque sera ? sera do guarana?

Anónimo disse...

"... na prática ..." menciona a frase.
Realmente "O Irão ao assinar...".
Só que hoje constata-se que assinar, é assinar.

Os próprios Obamistas já reconhecem:
" ... Obama administration officials also admitted recently that promises for "anytime, anywhere" inspections of Iran’s nuclear sites were a rhetorical flight of fancy.

"I think this is one of those circumstance where we have all been rhetorical from time to time," lead U.S. negotiator Wendy Sherman told reporters...". Sorry. JS

Anónimo disse...

@Anónimo 3 de maio de 2018 às 15:10

Assinou e cumpriu.
Acredito nas informações dadas pela Agência Internacional de Energia Atómica.


Em quem eu ja nao nao acredito de maneira nenhuma é nos artistas desta especie

https://staticv3.972mag.com/wp-content/uploads//2016/09/Powell-anthrax-vial.jpg

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