segunda-feira, maio 14, 2018

E se a pala cai?




Anteontem, ao entrar no Pavilhão de Portugal, a anteceder o espetacular “barulho das luzes” a que depois assisti no Pavilhão Atlântico, na final da Eurovisão, recuei 20 anos, lembrando-me da imensa aventura que por ali foi a Expo98.

Por um instante, com toda aquela genta à volta, recordei o banho de entusiasmo desses tempos, a romaria nacional e internacional em que tudo se transformou, a impressionante recuperação que o projeto operou numa zona degradada da cidade - embora nos possamos perguntar se não houve muito de especulativo na volumetria de construção que foi permitida após o evento.

Mas esta nota destina-se apenas a fixar aqui, duas décadas depois, uma memória grata às pessoas que tiveram ideia da Expo: Vasco da Graça Moura e António Mega Ferreira, duas figuras intelectuais de exceção que, um dia, numa mesa do Martinho da Arcada, gizaram um projeto cuja concretização o tempo europeu de “vacas gordas” viria a permitir. O primeiro já não está entre nós, o segundo permanece uma figura ativa e criativa na nossa vida cultural. É justo não os esquecermos.

Ontem também recordei, numa das minhas várias idas oficiosas à Expo (quase dezena e meia, pelas minhas contas, para acompanhar governantes estrangeiros, nos seus dias nacionais), ter passado por um grupo onde uma senhora de aldeia, em alta bem voz, se mostrava renitente em atravessar o espaço do Pavilhão de Portugal, interrogando-se: “Ó filha! E se aquilo nos cai na cabeça?” No fundo, as dúvidas sobre a fiabilidade da obra de Siza Vieira não eram muito diferentes das que, no século XV, questionavam a arte de Afonso Domingues, no Mosteiro da Batalha.

13 comentários:

Anónimo disse...

A pala não caiu, a pala não cairá!!!!
I. Azevedo

Anónimo disse...

Até o Siza admite demolir a construção por falta de função!
Quando tomam a Arquitetura (como por ignorância, o Marcelo) pelo desenho do desenhador é o que dá!... e tem dado...

Anónimo disse...

Siza apenas teve a ideia. Quem tornou aquilo possível foi Segadães Tavares, ilustre engenheiro.

Luís Lavoura disse...

Embora o problema da pala seja o mesmo que o problema do mosteiro, há uma diferença substancial entre os dois: enquanto que o mosteiro serve para alguma coisa (quanto mais não seja, a malta pode-se abrigar do mau tempo dentro dele), a pala não serve para nada.

Assim se distingue a boa arquitetura de Afonso Domingues da má arquitetura: enquanto que a primeira faz coisas arrojadas e úteis, a segunda faz coisas arrojadas mas inúteis - e, não raras vezes, positivamente prejudiciais.

Anónimo disse...

Edifício lindo e, que se saiba, totalmente desaproveitado... Podia passar a ser um local fora de série, para portugueses e estrangeiros de bom gosto. Nem sei a quem pertence hoje em dia, porque vieram em tempos notícias nos jornais de que teria sido vendido... Para estar normalmente sem uso?

Chegou a fazer-se lá o evento do Peixe vários anos. Por ali se estava a provar os petiscos dos nossos chefs e depois, naquela varanda espantosa sobre o rio, até ao fim da tarde, linda, porque não apetecia mesmo ir embora. Transferiram o Peixe para o Páteo da Galé, onde é horrível, sem espaço nem «respiro», como diz um escultor e pintor conhecido.

Reaça disse...

Se fosse humanamente possível fazer as contas ao desperdício desmersurado e irresponsável, quer financeiro, quer arquitectónico, em 96,97 e 98, com aquelas construções "à lista"quem ia para prisão perpétua era Cavaco que iniciou e Guterres que terminou.

Aquela obra faraónica deve ter inspirado gente como Sócrates e grandes empreiteiros e banqueiros.

Anónimo disse...


A segurança da pala deve ser creditada ao Eng. António Segadães Tavares, responsável pelo seu projecto de engenharia, creio eu.

O que não significa qualquer menor apreço pelos méritos do arquitecto.

Cumprimentos

antónio m fernandes

dor em baixa disse...

Estes "prolongamentos" de edifícios que são caros e não têm utilidade mas servem para satisfazer a vaidade e o exibicionismo provocam-me urticária. Posteriormente surgiram mais casos em Lisboa, como na EDP da 24 de Julho e no MAAT em Belém. Talvez também se possa incluir nesta doença o acrescento feito no Caleidoscópio, ao Campo Grande. Tanto barulho para nada, perdão, tanto cimento para nada.

Luís Lavoura disse...

Reaça

Se fosse humanamente possível fazer as contas ao desperdício desmersurado e irresponsável, quer financeiro, quer arquitectónico, em 96,97 e 98, com aquelas construções "à lista"quem ia para prisão perpétua era Cavaco que iniciou e Guterres que terminou.

Muito bem. Subscrevo.

A pala do Pavilhão de Portugal é um desperdício horroroso. Pior ainda é a estação de metropolitano das Olaias, que serve pouquíssimos passageiros mas é uma espécie de catedral subterrânea. O dinheiro que aquilo deve ter custado ao erário público (sobretudo aos contribuintes da UE) para um benefício minúsculo, é pura e simplesmete criminoso.

Anónimo disse...

Andar a embirrar com o desperdício da pala é próprio das pessoas para quem qualquer coisa serve, que não têm qualquer tipo de sensibilidade para com a beleza, para com a noção de espaço, de património, etc. Gostaria de saber se essa gente se vira para as respetivas caras metade e lhes diz "Mudaste de roupa? Pintaste-te? Que desperdício! Só interessas é nua!" - é o mesmo tipo de mentalidadezinha.

Anónimo disse...

Pronto, ainda que não sirva para grande coisa, em termos funcionais, chamemos-lhe um "monumento ao engenho humano" ;) Já agora, o engenho não é o risco do arquitecto, mas o cálculo de engenharia da estrutura, portanto a louvação deve ser para o engenheiro.
Mas ninguém é sequer obrigado a arriscar a vida debaixo da pala, se o medo é esse (injustificado). Ponham antes os olhos na Gare do Oriente, ali ao lado, onde as pessoas são obrigadas a esperar o comboio num local absolutamente desagradável, ao frio, à chuva e ao vento, ou no Estádio do Braga, que parece projetado por quem nunca pôs os pés num jogo de futebol.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Mas que conversa quadradona que para aqui vai, que cinzentinhos...
Viva a pala do Pavilhão de Portugal e toda a expressão criativa!

Anónimo disse...

Os “artistas” têm a “arte” de chamar quadrados ao povo para continuarem o embuste, designando por arte o que não é, nomeadamente a arquitetura!

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