Há dias, no Porto, durante um debate a propósito daquele que é o setor produtivo mais relevante nas nossas exportações – não, não é o calçado, os têxteis, o azeite ou o vinho; é a metalurgia e a metalomecânica, sabiam ? – fui interrogado sobre se a nossa diplomacia económica estava a funcionar convenientemente.
Comecei por responder que aquilo a que vulgarmente se chama diplomacia económica é apenas a diplomacia de negócios, isto é, o trabalho dos agentes diplomáticos na facilitação da ação dos nossos empresários – da promoção comercial e turística aos esforços de captação de investimento externo.
Ora é sabido que a dimensão económica da diplomacia não se esgota nisso. Todo o universo de negociação e fixação de instrumentos de regulação económica na ordem externa, nos planos bilateral e multilateral, constituiu, desde sempre, uma tarefa central da diplomacia. Sem esse enquadramento a funcionar de forma otimizada, por exemplo, o regime das trocas comerciais seria hoje muito menos fluído e eficaz, os sistemas de ajudas europeias de diversa natureza muito menos generoso.
Faço parte de uma escola diplomática que sempre entendeu que a expressão “diplomacia económica” acarreta algo de redundante. Uma diplomacia que não tenha no centro das suas prioridades a dimensão económica não é digna desse nome.
Mas temos de ser rigorosos. A diplomacia não se esgota no apoio direto à projeção económica externa do país. A atenção à imagem de Portugal na ordem internacional, o cultivo das redes de interesses políticos e culturais que o nosso bilateralismo histórico justifica, a promoção da língua e a proteção da diáspora são outros, entre tantos, pontos importantes que importa salvaguardar, como decisivo é sabermos potenciar o nosso valor acrescentado nacional de natureza política, como país construtor de pontes e entendimentos, à escala global. E, acreditem, tudo isso acaba por ter inescapáveis decorrências positivas no terreno da economia.
Quando, há bem mais de quatro décadas, entrei para a carreira diplomática, fi-lo pelo setor económico do ministério. Com uma diplomacia que tinha tido décadas de concentração obsessiva na política colonial, a então Direção-Geral dos Negócios Económicos era designada depreciativamente como “as batatas”. Anos depois, quando a alta política europeia passou a dominar a nossa agenda externa, lembro-me de ter chocado alguns nas Necessidades porque, enquanto embaixador, afirmei numa entrevista, o que me deu um polémico título de jornal, que, no MNE, o nosso lema deveria ser “menos Kosovo e mais batatas”. Continuo hoje a pensar exatamente o mesmo.
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