Lembrei-me do nome de uma velha revista do Parque Mayer ao passar, ao final tarde de ontem, na Ribeira da Naus, com um sol deslumbrante e uma multidão descontraída de turistas de todo o tipo. A sensação de uma cidade de bem-estar, com segurança e acolhimento simpático, é algo que, como português, só me conforta.
Na passada semana, organizámos na Gulbenkian uma conferência de dois dias, sobre temáticas internacionais. Poucos acreditarão se disser que trouxemos - da China e dos EUA, da Índia, da Rússia e de vários outros países europeus – convidados muito qualificados, que se voluntariaram para se deslocar até nós, imagine-se!, sem a menor retribuição. O nosso evento era atrativo, mas Portugal e Lisboa são muito mais.
Às vezes, numa snobeira muito portuguesa, ouço pessoas a reagir contra a “invasão” de estrangeiros. E vejo confundir a presença de turistas com o surto de aquisição imobiliária que, em Lisboa, está visivelmente a descaraterizar alguns bairros antigos. Estamos, contudo, a falar de coisas muito diferentes, embora ambas concorrentes para aquilo que, por décadas, foi um. objeto central da nossa atividade de promoção externa: captar turismo e atrair investimento.
Não podemos ter “sol na eira e chuva no nabal”.
É claro que os preços andam mais altos nos restaurantes, que não se encontra um lugar sentado num elétrico, que não pode passar pela cabeça de nenhum indígena lembrar-se de ir visitar a Torre de Belém ou comer um pastel na casa deles ali perto. Porém, se queremos que o país, como um todo, beneficie do impacto dos visitantes sobre as contas do Estado, com rendimentos que abatem o défice e facilitam o exercício das políticas públicas, não podemos incorrer no erro de diabolizar a onda que inunda as nossas cidades – e Lisboa, onde vivo, é apenas um exemplo forte, como o será igualmente o Porto. O turismo poderá ser pontualmente incómodo, alguns “sofrê-lo-ão” mais do que outros, mas é, em termos globais, uma benesse que nos caiu em sorte. Sabe-se lá por quanto tempo.
Os impactos sobre o mercado imobiliário terão, com certeza, de ser melhor medidos, controlados, mas nunca desestimulados. O surto de renovação de edifícios que este influxo de capital externo provoca é algo que, a prazo, beneficiará profundamente a vida das cidades. Os estrangeiros que compram apartamentos não “levam consigo” as casas. Elas “ficam” por cá e, renovadas, são ativos imobiliários para o nosso país do futuro.
Nestes dias de Eurovisão, em que a RTP, com imenso profissionalismo, leva o melhor de Portugal pelo mundo, acho quase uma obrigação “patriótica” deixar de lado o catastrofismo cético e ficar orgulhoso pelo país aberto e acolhedor que por aí anda.
9 comentários:
Discordo do Francisco. Acho que a compra de casas por estrangeiros não-cidadãos da União Europeia deve ser resringida ou, pelo menos, não deve ser incentivada. Em especial, acho que se deve acabar com os "vistos gold" para quem faça compras de imobiliário no país.
Naturalmente que o país precisa de dinheiro estrangeiro a entrar, mas isso não deve ser feito em ativo prejuízo da qualidade de vida de muitos cidadãos portugueses, cada vez mais afetados por preços e rendas exorbitantes no centro das cidades.
a Ribeira da Naus, com um sol deslumbrante e uma multidão descontraída de turistas de todo o tipo. A sensação de uma cidade de bem-estar
Todas as cidades que se prezam têm espaços de bem-estar como a Ribeira das Naus. Lisboa não é diferente de todas as outras. Hamburgo tem o Alster, Zurique tem a beira do lago, Londres tem o Hyde Park.
Uma cidade não pode ser qualificada "de bem-estar" somente por ter um ou dois lugares aprazíveis, aliás pouco frequentados pelos seus habitantes.
o surto de aquisição imobiliária que, em Lisboa, está visivelmente a descaraterizar alguns bairros antigos
A descaraterização de bairros antigos não é preocupante. Não queremos bairros eternamente de varinas com canastras de peixe à cabeça. O que é grave é que essa aquisição está a fazer subir os preços de todo o imobiliário em Lisboa, não somente nos bairros antigos, e não somente os preços de compra mas também os de aluguer. Isso é que é grave.
Anedota socialista:
Uma vez, num clube de natação frequentado por forças partidárias, o director do equipamento chamou o Partido Socialista e disse-lhe:
– Caro PS, o senhor vai ser expulso por fazer xixi na piscina.
– Mas, Sr. Director – respondeu o PS –, todos os partidos fazem!
– Talvez, mas da prancha de saltos você é o único.
Senhor Embaixador, nascido no Norte, só faltou acrescentar aquele tom rosado do fim da tarde de Lisboa de céu limpo e azul... Espelhado nos vidros... E até o laranja dos cacilheiros parece acabado de pintar... Por exemplo, Roma e Barcelona têm céu azul, mas não essa beleza, ao fim da tarde.
Há uns anos acompanhei um jornalista alemão, num encontro com um Ministro nessa época, cujo gabinete ficava mesmo no Terreiro do Paço. O jornalista, de Economia, fazia um trabalho sobre todas as empresas alemãs, que não tinham fugido de cá no 25 de Abril, na grande Lisboa e no grande Porto. O Ministro nortenho e, ao que dizem, menino família, bem criado, depois de nos oferecer um bom chá e óptima conversa, disse-lhe «Agora vai à minha cidade, óptima, mas não vai lá encontrar esta vista de fim de tarde, única. Nem apetece trabalhar!» e abre a janela e ali estivemos a gozar esse belo fim de tarde.
Senhor Embaixador, a “prazo” estamos todos mortos, como dizia o outro. Quanto à “snobeira”, acho que são os velhos snobs de Alfama e da Mouraria e outros bairros do centro que mais se queixam de os empurrarem de lá para fora ;) Fadistas ;)…
Às vezes penso que não vivo na mesma cidade que o comum dos lisboetas vive.
Não me passa pela cabeça hoje em dia ir ao Chiado. Não me passa pela cabeça ir aos pastéis de Belém.
Não me passa pela cabeça andar no eléctrico 28. etc etc. Usei de mais o 28 quando ainda não tinha carta de condução,até 1965. Em tempos fui ao Chiado todos os dias e tive todos os benefícios de lá ir.
Mas tudo isso hoje em dia é folclore. Se há quemm goste e que paga bem é deixa-los socegados.
Há tanto para fazer noutras regiões de Lisboa.
Os restaurantes também nunca vou aos que estão "a dar". Não tenho necessidade de ser visto nesses locais para existir e bem.
Finalmente nunca circulo nas regiões invadidas por turistas. Faço como os parisienses que não vão aos "Champs" porque já viram aquilo e não precisam de ver mais. Passam por lá talvez mas nunca a horas de movimento com filas imensas de turistas asiáticos a quererem comprar tudo.
São gostos................
O sucesso do turismo, que espero continue, foi um bom trabalho do governo de Passos Coelho, de Adolfo Mesquita Nunes e do responsável pelo Turismo de Portugal. Antes só me lembro daquela incrível "campanha" Allgarve do agora famoso Pinho que deu um resultadão.
gostei da apresentação da Eurovisão !
as portas típicas portuguesas, e os interpretes das canções estrangeiras a entrar e sair por elas, assim passam para a dimensão de "uma casa portuguesa" hospitaleira :)
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