terça-feira, setembro 05, 2023

Exegese de um comunicado


A reunião de hoje do Conselho de Estado - órgão de aconselhamento do presidente da República, relembre-se - acabou emitindo um texto sobre a Ucrânia:

"Quanto ao tema Ucrânia, foi reafirmada a solidariedade e a admiração pela resistência do povo ucraniano e reconhecido todo o apoio que Portugal – com plena concordância entre os órgãos políticos de soberania - tem prestado, nas suas múltiplas dimensões, nomeadamente política, diplomática, militar e humanitária. Foi, ainda, assinalado o compromisso de Portugal no processo de integração da Ucrânia na União Europeia e na NATO."

Interessante texto. Vale a pena relê-lo, nas suas três dimensões.

1. "... foi reafirmada a solidariedade e a admiração pela resistência do povo ucraniano". Uma afirmação "crystal clear", que exprime um sentimento que se sabe amplamente maioritário no país. Nota-se, contudo, a ausência de qualquer referência aos órgãos de Estado e governo de Kiev, frequentemente destacados e mesmo personalizados nas manifestações de apoio político internacional.

2. "... (foi) reconhecido todo o apoio que Portugal tem prestado, nas suas múltiplas dimensões", referindo-se depois a "fórmula" das quatro dimensões que governo e presidentes da República e da AR sempre repetem. É uma constatação em tom positivo, embora o "reconhecido" não vá muito longe em termos de elogio, sobre uma ação da responsabilidade do executivo, o qual sai, mesmo assim, confortado na valia das decisões que tomou, ao afirmar-se que tal foi feito "com plena concordância entre os órgãos políticos de soberania". 

3. "... (foi) assinalado o compromisso de Portugal no processo de integração da Ucrânia na União Europeia e na NATO." . Esta é a expressão para mim mais significativa. Depois da visita do presidente a Kiev, constatou-se que o "compromisso de Portugal" em cada um dos dois processos tinha ficado declinado, em termos de discurso, por Belém e pelo tandem S. Bento/Necessidades, em tons ligeiramente diversos, quer na sua ênfase, quer, em especial, no voluntarismo político e automatismo de etapas que lhes está subjacente. A expressão saída do Conselho de Estado, na sua relativa economia de entusiasmo, fica mais próxima do modo cuidadoso como António Costa tem abordado o problema.

Há dias em que vale a pena ler o que sai de uma reunião do Conselho de Estado, independentemente desse aspeto, neste caso despiciendo, que é saber o que lá realmente se passou.

Espanhas

Em Espanha, Puigdemont estica a corda. Ao colocar condições dificilmente aceitáveis, pode estar a jogar a cartada de novas eleições, em janeiro de 2024. Com toda esta coreografia, assegura maior visibilidade e tenta mostrar-se como detentor de representatividade regional.

Porto sentido

A Porto Editora, ao publicar o novo livro de Cavaco Silva sobre a "arte" de governar, revela estar a regressar à sua histórica missão de editar manuais escolares.

Clássico

As loas a Cavaco Silva nas redes sociais, a propósito do seu novo livro, representam o implícito reconhecimento de que o seu "hemisfério" político (a imagem é de Marcelo Rebelo de Sousa) vive numa tal orfandade que necessita de recorrer aos "clássicos".

segunda-feira, setembro 04, 2023

Sporting

Lá foram mais dois pontos. Depois, no final da época, andamos a contar o "goal average". É assim todos os anos. É mesmo uma sina?

What if ?

Tive agora de explicar a um amigo estrangeiro que Cavaco Silva, com o seu novo livro, não está, de todo, a querer sugerir-se para entrar no vasto pelotão de pré-candidatos da direita, nas presidenciais de 2026. Mas não sei se ele ficou convencido.

domingo, setembro 03, 2023

Chove na Atalaia ?

"O sol brilhará para todos nós" é um velho lema do PCP. Será que a chuva, que agora caiu aqui no bairro da Lapa, também estará, na festa do Avante!, lá pelo Seixal, a molhar os comunistas e os seus "compagnons de fête"? O clima é um grande "equalizer".

Ver os jogos só depois dos 90' já começa a valer a pena!

A decisão de autorizar os árbitros a prolongar o final dos jogos lá para a casa dos 10 minutos, a qual, como é óbvio, terá um efeito irreversível de contágio em todos os apitadores, abrirá caminho a uma imensidão de vigarices, favorecendo os clubes mais fortes e com melhor banco.

... e o lavar dos cestos!

Será a persistência da velha teoria do cesto e dos ovos que faz com que muitos pensem que a área do "centro-direita" ou "não socialista" (como a direita envergonhada se autoqualifica) continua mais próxima de voltar a Belém do que a S. Bento?

Está tudo dito!

Até lá?

Os portugueses já só pensam nas presidenciais? E então?! Ainda dizem que não sabemos preparar o futuro, que não planeamos, que não temos pensamento estratégico. Aqui está o desmentido: olhar em frente, visar o pós 2026, projetar uma visão para o que resta do século XXI. E até lá? Até lá? Até lá, gozem o cafezinho no intervalo.

O Sumol e os meus dias de verde


Há pouco, no Twitter, constatei que o Sumol aparece como o nome da "soft drink" que internacionalmente mais é associada a Portugal. É interessante notar como esta "laranjada" (era assim que se dizia) tem perdurado no tempo e, à sua medida, tem conseguido sobreviver à concorrência das marcas estrangeiras. 

Do mesmo modo, o Sumol pôs de lado muitos refrigerantes locais - de laranjadas a pirolitos e colas - que chegaram a fazer o orgulho bairrista de certas cidades. Recordo-me que, na Vila Real da minha juventude, havia por lá uma certa laranjada Aleo, cuja composição química era um mistério, com a única certeza de a ligação à fruta ser manifestamente bem longínqua. Dizia-se, a gozar, que os chapeiros das oficinas de automóveis usavam a Aleo como decapante, para retirar a tinta...

Tenho uma ternura pelo Sumol. Nos meses da recruta na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, naquelas horas chatíssimas em que nos mandavam em exercícios, pelas traseiras da unidade até ao chamado Alto da Vela, fronteiro à estrada que leva para o Juncal (na imagem), vinha colocar-se estrategicamente junto ao muro uma carrinha, em cujo tejadilho surgia um vendedor de garrafas de Sumol. 

Quando a instrução se suspendia para um descanso, deixada a nossa G3 ao cuidado de colegas, era ver-nos descer, em bandos, de lá de cima, de junto às árvores, para comprar o refresco que nos ajudava a matar a sede e entreter o tédio. Até que o comandante de pelotão dava por fim o intervalo e chamava os "nossos cadetes" para a retoma desses infernais dias "de verde".

Foi há uns exatos 50 anos, mas parece que foi, não digo ontem, mas, vá lá!, anteontem.

sábado, setembro 02, 2023

Jornalismo


A partir da Ucrânia, Sérgio Furtado tem feito, para a CNN Portugal um trabalho notável de reportagem. Sereno e equilibrado, com uma linguagem enxuta, desadjetivada e uma leitura dos factos com o rigor que as circunstâncias permitem, é imensamente justa a atribuição deste prémio.

Isto

 


Domus municipalis


É em Bragança, dentro do castelo. A tradição diz ser um espaço que, na época medieval, era usado para as conversas entre os munícipes, sobre assuntos da urbe. 

A cada dia, sinto o espaço de comentários deste blogue a desempenhar essa função. Eu, como já devem ter notado, quase não me meto... Já pensei mesmo cobrar inscrições!

sexta-feira, setembro 01, 2023

Isto

"Ventura admite apoiar Passos Coelho ou Gouveia e Melo" - no oráculo de uma televisão. É preciso dizer mais alguma coisa?

quinta-feira, agosto 31, 2023

Trabalho em férias...

 


Salut, Paris!


Deixo aqui uma saudação à cidade de Paris onde, no final do dia de hoje, será posto um ponto final à circulação das famigeradas trotinetes elétricas de aluguer - uma decisão que Lisboa e a generalidade das cidades portuguesas deveriam ter a coragem de tomar, a bem do bem-estar coletivo.

G20

Xi Jin Ping e Vladimir Putin não vão estar presentes na próxima reunião do G20, na Índia. Claramente, querem desvalorizar um encontro de onde não irá sair o menor consenso, dada a expectável intenção dos representantes do mundo ocidental de aí abordar a questão ucraniana.

"A Arte da Guerra"


Nesta sua segunda edição, depois de férias, "A Arte da Guerra" traz uma análise à deslocação de Marcelo Rebelo de Sousa à Ucrânia e uma reflexão sobre o futuro do grupo Wagner na manobra político-militar russa, uma atualização do estado da arte na política espanhola (com o "beijogate" pelo meio) e uma avaliação do papel internacional do Brasil de Lula, dos BRICS à CPLP, passando por Angola e pelas ambições na ONU. 

Pode ver e ouvir aqui.

"Vocês sabem lá..."

Acabo de ver um vídeo em que um jovem participante na "universidade de verão" do PSD trata o presidente da República por "você". 

Nada de novo: trata-se do conhecido virus do "você" - essa cada vez mais difundida praga, para a qual ainda só há a vacina da boa educação, mas que se não vende nem nas farmácias nem nos bares de "shots".

Adieu, Françafrique !

Por décadas, Paris habituou-se a ver a sua influência "respeitada" em África, embora a "Françafrique" tivesse vindo a dar, nos últimos tempos, sinais de um crescente declínio. 

Agora, quase de um momento para o outro, Paris vê a "sua" África sub-saariana começar a cair como um castelo de cartas. A isto há que somar o degradado estado atual das relações com Marrocos, a Tunísia e a Argélia. 

Emmanuel Macron pode vir a ficar, na história francesa, como o titular de um inédito tempo de afastamento com a África, que já não parece ser recuperável. 

De Gaulle e Foccart devem estar a dar voltas nas tumbas.

"A Arte da Guerra"?


Vem aí em breve um novo "Blake & Mortimer", da já longa série feita "d'après Edgar P. Jacobs". Escusavam era de copiar o nome - "A Arte da Guerra" - do nosso podcast no "Jornal Económico"! Já bem bastava ter aparecido um (recente) chinês chamado Sun Tzu a fazer o mesmo...

quarta-feira, agosto 30, 2023

Que dias!


Por que será que, nestes dias de regresso a Lisboa, arrasado de férias, me invade uma insuperável moleza que me trava qualquer tentativa de escrita decente, que me impele a uma sesta depois de almoço e a um copo de branco antes do jantar? Por este andar, qualquer dia, tenho mesmo de pensar em me reformar.

terça-feira, agosto 29, 2023

Isto!

 



 

Aa férias já eram ! (13)

 


As férias já eram ! (12)

As férias já eram ! (11)

 


As férias já eram ! (10)


As férias já eram ! (9)


As férias já eram ! (8)

 


As férias já eram ! (7)



As férias já eram ! (6)

 


As férias já eram ! (5)

 


As férias já eram ! (4)

 


As férias já eram ! (3)


As férias já eram ! (2)

 


As férias já eram ! (1)

 


segunda-feira, agosto 28, 2023

Qual é a pressa?

De um momento para o outro, em meados de 2023, a direita decide discutir o nome do seu candidato a umas eleições que terão lugar em janeiro de ... 2026! 

Não têm mais nada que fazer?

João da Câmara


Quando, há quase 25 anos, convidei o João da Câmara para ser meu chefe de gabinete, ao tempo que era secretário de Estado dos Assuntos Europeus, "esqueci-me" de lhe perguntar o que é que ele era politicamente. Quem, durante esses cinco anos e meio, trabalhou no meu gabinete - e estamos a falar de quase quatro dezenas de pessoas - pode testemunhar que essa pergunta nunca foi colocada a ninguém. 

Mas pus-lhe uma questão: "Você gosta de fado?". Ao contrário de mim, que adoro fado e do castiço, constatei que o João não apreciava. Logo ele, que era filho de Vicente da Câmara (esse mesmo, o das "Tranças Pretas"), sobrinho de frei Hermano da Câmara e irmão de José da Câmara, para além de primo dos inúmeros Câmara Pereira! Mas o João, pelos vistos, não era muito de fados.

Conheci o João nos anos 80, então um jovem diplomata, recém-entrado para a carreira Era um homem sereno, educado e atencioso, com um sorriso bom e uma imensa capacidade de diálogo, com uma conversa que encantava as mulheres. Convidei-o para chefiar o meu gabinete num período bem complicado - a presidência portuguesa da União Europeia, em 2000. Viajámos imenso, pela Europa e não só, com ele, discreto e extremamente eficaz, a aturar-me algumas impaciências, a organizar as minhas agendas e a resolver (bem) muitos problemas, a montante de eu ter de os enfrentar. 

No final desse exercício, exausto como estava pelo trabalho executado, o João foi merecidamente colocado em Londres. Por lá o fui encontrar, meses mais tarde, num jantar em sua casa, em Wimbledon, quando me confessou: "Bons tempos foram os seus aqui por Londres, Francisco, quando o salário dos diplomatas portugueses permitia viver no centro da cidade. Agora, só dá para estar na periferia ..." Era verdade.

Com os ciclos profissioniais e as distâncias a separarem-nos, fomo-nos perdendo de vista. Íamos tendo notícias um do outro, através de amigos comuns. Soube das suas estadas como embaixador no Zimbabué, em Angola, na Índia e no Canadá, que foi o seu último posto, onde me desafiou a ir fazer umas palestras, ideia que as circunstâncias vieram a tornar inviável.

Um dia, tive o gosto de recomendar o seu nome para uma delicada função oficial, que ele veio a cumprir com o rigor e a imparcialidade do grande servidor do Estado que sempre foi. Na ocasião, perguntaram-me:"Tem, por acaso, ideia do que é que ele é, politicamente?" Não sei se acreditaram, quando respondi que não fazia a menor ideia.

Há poucos meses, jantámos, num grupo de amigos. O João dava evidentes sinais dos efeitos de uma grave doença de que padecia, desde há vários anos. Acabo de saber que morreu. Os meus sinceros sentimentos à família do meu amigo João da Câmara.

domingo, agosto 27, 2023

Almoço na Catedral

 


Academia Socialista


Fui convidado a intervir na Academia Socialista, promovida pelo Partido Socialista, pela Juventude Socialista e pelo Grupo dos Eurodeputados Socialistas Portugueses, destinada a 80 jovens entre os 18 e os 30 anos.

Na minha intervenção, que terá lugar no dia 8 de setembro, em Évora, abordarei o papel do Multilateralismo no atual contexto geopolítico internacional.

sexta-feira, agosto 25, 2023

Grande Caminha!


É extraordinário encontrar, numa terra como Caminha, uma variedade de oferta de imprensa como a da Tabacaria Gomes. Sem contar com a também clássica Tabacaria Atenas. Viva o papel!

Prigozhin

Não iremos saber tão cedo quem matou Prigozhin. E, quando surgir a versão oficial, muitos não acreditarão nela. Uns por mero viés anti-Rússia. Os mais sensatos porque é hoje evidente a falta de independência e, por essa razão, de credibilidade das atuais instituições russas.

Bolas!

Agora a sério: passa pela cabeça de Luis Rubiales, presidente do futebol espanhol, que tem alguma hipótese de se manter no cargo? Há cada cromo!

Turismo

Hoje deu-me para ir ao estrangeiro. Fui a Tuy, para ver se havia manifestações contra ou a favor de Luis Rubiales, o beijoqueiro presidente da liga da bola de lá. Mas estava tudo a fazer a sesta. Meti gasolina (desculpa, Fernando Medina!) mais barata e regressei logo a Valença.

Vamos então a isto!


quinta-feira, agosto 24, 2023

O efémero

A intensidade dos comentários televisivos que faço sobre a guerra na Ucrânia está a criar em mim uma insuperável retração a escrever seja o que for sobre o tema. Fico com a sensação de que já disse tudo o que queria dizer e que, acabado que seja qualquer texto, factos novos o tornarão rapidamente irrelevante. Tenho de pensar melhor sobre isto.

quarta-feira, agosto 23, 2023

Adeus, Linda!

Telefonei hoje para um (bom) restaurante em Viana do Castelo, a marcar uma mesa para sábado: "Só marcamos às 19:30 ou depois das 21:30, mas na condição de poder ter de esperar". Não janto à hora do lanche nem pago caro para ter de esperar. Desejo muito boa sorte à Tasquinha da Linda. Sem mim, claro.

É assim!

Em Espanha, a história da agressão sexual a uma jogadora de futebol não apenas diluiu o que deveria ter sido o júbilo nacional pela conquista do título mundial como está a marcar a agenda pública de tal forma que quase compete com a discussão sobre a formação do governo.

Sorry!


Eu sei que estou em atraso na publicação da minha última lista de restaurantes, a que refere Lisboa e arredores - localidades como Moscavide, Estoril, Queijas, Cascais, Linda-a-Velha e lugares assim. Peço um pouco mais de paciência. A vida, no Minho, tem sido dura...

A cor dos meus dias

 


terça-feira, agosto 22, 2023

Lá por Vila Real...


Com esta temperatura, a minha mãe punha-me mais dois cobertores, dava-me sumo de laranja e mandava chamar o dr. Tibúrcio.

É só para saber!

Se o presidente da federação espanhola de futebol, que deu um beijo na boca da jogadora, fosse uma mulher, será que se tinha levantado todo este escarcéu?

Saída?

 


Será mesmo esta a saída?

segunda-feira, agosto 21, 2023

Ainda há o VAR, claro!

Com todo o respeito, institucional e pessoal, que (com toda a sinceridade) me merecem o presidente da República e Marcelo Rebelo de Sousa, acho que ainda há muito de João Galamba no veto presidencial de hoje. O país assiste a um jogo Costa-Marcelo que só espero não vá a penaltis.

Quando...


 .... for grande, quero ser magistrado!

Guerra é guerra

Hoje, a guerra muda de terreno. De Zaporizhzhya e Bakhmut, passa para a habitação e para os professores. À noite, no comentariado, Zelensky e os F16 serão substituídos por Marcelo e os decretos. Ambos irão ter oportunidade de falar, daqui a dias, sobre as respetivas guerras.

domingo, agosto 20, 2023

Sérgio Vieira de Mello - 20 anos


“Você sabe, Francisco, só me aparecem desafios que não consigo recusar!” – foi a frase que retive da última conversa com Sérgio Vieira de Mello, quando lhe telefonei, de Viena para Genebra, a desejar sucesso para a sua nova missão em Bagdad. Ironizámos então com o facto de Paul Bremer, o primeiro "administrador" americano no Iraque, com quem Sérgio teria que se articular, ter coincidido comigo em posto diplomático na Noruega, nos idos de 70: prontifiquei-me para "meter uma cunha", se ele precisasse…

Só conheci pessoalmente Vieira de Mello em Setembro de 1999, quando o protocolo nos sentou lado-a-lado, num almoço em Nova Iorque. Acabara, há pouco, a sua missão nos Balcãs e entre nós passou, de imediato, uma corrente de empatia luso-brasileira, logo cimentada pelo mútuo culto do humor. Recordo-me de termos falado da possibilidade de ele chefiar a nova missão da ONU em Timor, ainda semanas antes de Kofi Annan lhe propor o lugar. Eu não tinha a pretensão de estar a ser presciente: limitava-me a ecoar o nome prestigiado que circulava já por alguns corredores, afirmando-lhe a certeza antecipada de que o Governo português o acolheria com muito agrado. Na altura, Sérgio retorquiu-me, com o seu sorriso confiante, que não, que “ia precisar de algum tempo para descansar”. Felizmente, isso acabou por não acontecer.

Sérgio Vieira de Mello fez em Timor um trabalho notável, como várias vezes tive ocasião de referir, em nome de Portugal, em intervenções no Conselho de Segurança da ONU. E – confesso – fi-lo com uma sinceridade que nem sempre é regra nos discursos oficiais. Com ele combinei, nas derradeiras fases do processo pré-independência, o tom comum das nossas intervenções em Nova Iorque, por forma a garantir o apoio que o secretário-geral da ONU e o Governo português entendiam necessário que fosse dado aos timorenses pela comunidade internacional, nos difíceis anos que se seguiriam. Recordo também os pedidos que fez, por meu intermédio, para que Portugal “deixasse cair”, a nível adequado, palavras de acalmia e bom-senso junto de responsáveis políticos de Timor, a fim de atenuar alguns litígios menores, mas que ameaçavam a estabilidade do processo interno.

Em Novembro de 2002, convidei Sérgio Vieira de Mello para ir a Viena, falar ao Conselho Permanente da OSCE, já na sua qualidade de Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos. Foi uma sessão memorável, que gerou um debate interessantíssimo, em que o à-vontade diplomático de Sérgio sublinhou o seu profundo conhecimento da situação internacional. Mas que também revelou a firmeza das suas convicções. No almoço em minha casa que se seguiu, e perante uma observação mais tensa avançada pelo meu colega americano, não deixou de lhe recordar que os prisioneiros de Guantanamo “não vivem na Lua” e que, também a eles, se deviam aplicar, em pleno, “todos os Direitos Humanos devidos aos cidadãos da Terra”.

Foi em 19 de Agosto de 2003 que Sérgio Vieira de Melo morreu, de forma violenta, em Bagdad.

sexta-feira, agosto 18, 2023

"Já não é o que era..."



Sei que a alguns poderá parecer uma mania algo masoquista. Desde há anos, decidi ir dormir, de quando em vez, a unidades hoteleiras que um dia já estiveram no topo do imaginário turístico português e que, por uma razão ou por outra - sendo o tempo e o uso intensivo as principais dentre elas -, entraram num processo de decadência. 

Claro que só visito unidades que ainda conservam alguma qualidade e charme, com pormenores arquitetónicos ou de decoração que guardaram memória dos velhos e mais gloriosos tempos. E, obviamente, só hotéis que nunca desceram abaixo das "4 estrelas"; é que já não tenho idade para sacrifícios...

Não farei aqui a lista nominativa dessas históricas unidades hoteleiras, por razões de simpatia para com o esforço que, nos dias de hoje, é feito para a sua manutenção. Umas mantêm ainda algum brio residual, outras deixaram-se cair, por falta dele. O serviço, em algumas, ainda é esforçado e cordial, em outras é penosamente burocrático, quase "de Leste", sem estímulo nem estamina, quiçá devido a salários menos apelativos. É a vida!

Não tarda muito que eu conclua o meu percurso por esse Portugal hoteleiro da série "já não é o que era...". No dia de hoje, estou precisamente numa dessas unidades.

quinta-feira, agosto 17, 2023

As Festas!


Com pena o digo: este ano não vou às Festas! Vou ter de faltar àquela que é, lá por Viana do Castelo, a maior e a mais animada romaria do país. Vai-me fazer falta o ruído dos bombos na Praça e aquela agitação pelas ruas. Mas a vida é assim. Num passado recente, até já fui presidente de honra das Festas de Nossa Senhora da Agonia - e nem imaginam o prazer e a honra que tive em aceitar o convite. Quem não conhece as Festas de Viana não sabe o que perde! 

Deixo-os com o cartaz da primeira romaria da Senhora da Agonia a que "assisti": 1948.

quarta-feira, agosto 16, 2023

Noticias da minha rua


Há uns tempos, o meu bairro entrou em estado de sítio, com o pretexto de umas filmagens. Já não era a primeira vez que isso acontecia, mas nunca com aquela dimensão. Numa das noites, a minha rua entrou em ebulição: motores a rugir, tiros de pólvora seca, embates metálicos e coisas assim. Horas depois, regressou o silêncio, ou melhor, só passaram a acelerar por ali os habituais cromos da noite.

Ontem, numa (rara) passagem pela Netflix, apeteceu-me ver um filme, "Stone" qualquer coisa, que se anunciava cheio daquelas cenas "jamesbondianas" de violência implausível, que sempre me divertem. E lá vejo surgir a minha rua, no meio de mais de cinco minutos de uma fantástica perseguição automóvel por Lisboa, onde se colam cenários geográficos díspares, do elevador da Glória ao Terreiro do Paço, de Alfama à Junqueira, da estação do Rossio à zona do Chiado. Tudo termina, numa cena de tiros, no chafariz junto ao museu de Arte Antiga. 

Talvez valesse a pena avisar o mundo que Lisboa, em regra, não é bem assim!

terça-feira, agosto 15, 2023

As minhas mesas


Nas listas que têm vindo a ser publicadas aqui, com alguns restaurantes que conheço e aprecio - que não devem ser confundidos com "os melhores restaurantes" - falta aquela que se refere a "Lisboa e arredores". Espero que os meus amigos do Estoril e Cascais não venham a ficar ofendidos pelo facto de irem ficar ao lado de Moscavide e de Queijas... Peço dois dias de tolerância para a sua preparação.

Ontem, chegou-me uma versão informática daquelas minhas listas, que circula pela net. Ainda sem o Porto e Lisboa! Que pressa! Ainda vou pensar nos "copyrighs"! 

Os desventurados

O líder oficial da extrema-direita lusa escreveu ao papa a arrepender-se pelo facto de ter faltado com a sua presença durante a jornada católica. Antigamente, chamava-se a este tempo "silly season".

Notícias medievais


Quando, nos dias que me restam de férias - e elas acabarão antes do mês acabar -, me cruzar, no norte do país, com as inevitáveis feiras medievais, com os seus terreiros de luta, prometo vir a lembrar-me das interessantes "espadeiradas" que, nos dias de hoje, andam pela caixa de comentários deste blogue. 

As minhas mesas - (8) Porto e arredores


Aqui ficam algumas das casas do Porto e arredores por onde passo com gosto. Muitas outras poderiam ser citadas, reconheço.

AMARANTE
- Quinta do Outeiro
- Filhos de Moura (Aboim)

BAIÃO
- Pensão Borges

CARVALHOS
- Mário Luso

GAIA
- Vinum

LEÇA
- António

MATOSINHOS
- Gaveto

PAREDES
- Cozinha da Terra

PEDRAS RUBRAS
- Fernando

PENAFIEL
- Sapo (Irivo)

PORTO
- Cafeína
- Cozinha do Manel
- Líder
- Terra
- Rogério do Redondo
- Al Mare
- Nanda
- Adega Vila Meã
- Moinho de Vento

segunda-feira, agosto 14, 2023

No meio da ponte


É miserável a demagógica campanha em curso contra o cardeal Manuel Clemente, que não pediu para ter o seu nome numa ponte e que é uma pessoa honrada e respeitável. Lamento muito os silêncios comprometidos de quem tinha obrigação de já se ter pronunciado sobre isto. Não vale tudo!

domingo, agosto 13, 2023

Já tem barbas


Um amigo, que me viu há pouco com uma incipiente barba na televisão, perguntou: "É para homenagear o 97º aniversário do comandante, que hoje faria anos?", 

Nunca fui um grande fã do senhor, embora isso desse um belo alento à acusação de "putinista" que, no dia de hoje, recebi abundantemente no Twitter e tanto me fez rir.

Em 2016, na minha coluna no "Jornal de Notícias", escrevi isto sobre Cuba: https://duas-ou-tres.blogspot.com/2016/10/marcelo-e-fidel.html . A embaixadora cubana em Lisboa, muito popular nos círculos diplomáticos e que, até então, para mim era só sorrisos, zurziu-me e insultou-me em várias plataformas. Elegantemente, chamou-me "velho". Felizmente, Fidel não era...

"Pica-Pau" (Lisboa)


Cansado dos nomes tradicionais, num domingo a derreter de calor, decidimos experimentar um restaurante na Rua da Escola Politécnica, de que vinha a ouvir falar, há uns tempos. Embora seja sempre perigoso comer por aquelas bandas: com a Livraria da Travessa ao lado, a conta pode subir...

O nome - "Pica-Pau" - era bem português, embora anote que é cada vez mais raro o restaurante lisboeta que oferece um bom pica-pau. Reservei de véspera. Reservo sempre, em toda a parte. Entrámos e quase só havia estrangeiros.

O espaço é interessante, pequeno, com uma área aberta atrás, bem agradável neste tempo. A casa não terá mais de 50 lugares. O serviço era jovem e delicado.

A lista, surpreendentemente para a clientela que por ali se via, era mesmo portuguesa, sem concessões à moda, bem construída e equilibrada. Há um prato de referência para cada dia da semana. Os preços, para a zona da cidade e para a qualidade do que se provou, eram muito razoáveis. Surgiu uma boa lista de entradas, permitindo aí assentar uma refeição de petiscos, para quem tiver essa tentação, "à espanhola". E ninguém nos tentou impingir "couvert" e coisas cumulativas (que, aliás, pedimos). Nos pratos de "resistência", uma boa escolha era possível, suficientemente variada. Apenas a lista de sobremesas pareceu demasiado curta. Os vinhos tinham boas opções de defesa pessoal - "if you know what I mean".

Gostei do " Pica-Pau".

No adeus à praia


Há onze anos que por ali paro. Com imenso gosto, nunca tive vontade de mudar. É uma praia não muito longe de Lisboa, quase sem comércio, quase sem restaurantes nas imediações, sem a menor vida social "pública", sem gente sonante, sem "Caras" nem "Flash" nem nada que se lhes assemelhe. Os amigos, bons, e os conhecidos são quase sempre os mesmos. As conversas são, como o espírito da época recomenda, serenas e redondas. A areia é espaçosa, só o mar é que tem dias em que recordo o frio do Cabedelo da minha juventude, lá por Viana. Este ano, contudo, a água esteve a preceito. Verdade seja que os meus banhos de mar são cada vez mais raros. A preguiça tomou conta de mim. E aquele é o local para a cultivar.

A única atividade comercial pela praia é o homem das Bolas de Berlim (com creme, porque o pecado, a sê-lo, nunca deve ser só assim-assim), com aquelas caixas, que imagino pesadíssimas, penduradas nos braços. No passado, por muitos anos, era o Senhor João, que anunciava o produto sossegando dieteticamente: "não engorda, só alarga". O Senhor João, entretanto. desapareceu, constando que anda por outras praias. Ninguém decorou ainda o nome dos seus substitutos. Há dias, encontrei esta sua memória numa pequena roulote, num parque de estacionamento. Não pode haver maior consagração.

As minhas mesas - (7) Algarve


Vou muito pouco ao Algarve. Em termos de cozinha tradicional - que aqui nos ocupa - recomendo apenas alguns restaurantes que considero com qualidade. Dos restantes que conheço, entendo não dever destacar nenhum. Mas que fique muito claro: há outros magníficos restaurantes no Algarve. Só que eu nunca os visitei!


ANCÃO
- 2 Passos

ARRIFANA
- Paulo

BARRANCO VELHO
-Tia Bia

CABANAS DE TAVIRA
- Noélia & Jerónimo

CACELA 
- Costa (Fábrica)

FÓIA
- Luar da Fóia

MEXILHOEIRA GRANDE
- Adega Vilalisa

VALE DO GARRÃO
- António Tá Certo

VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO
- Sem Espinhas

Ridículo e grave

A acusação de traição à pátria dirigida a Marcelo Rebelo de Sousa é, para além de completamente ridícula, de uma extrema gravidade. Os parti...