Toda a imprensa se apressou a comemorar o facto do "Guide Michelin" ter selecionado, pela primeira vez, 14 restaurantes portugueses, como dignos de usufruírem as suas badaladas estrelas.
Com "duas estrelas" continuam dois restaurantes do Algarve - "Ocean" e "Vila Joya" - e passa agora a integrar o grupo o lisboeta "Belcanto", de José Avilez.
Com uma estrela continuam figuram 11 restaurantes: "Casa da Calçada" (Amarante), "Eleven" (Lisboa), "Feitoria" (Lisboa), "Fortaleza do Guincho" (Cascais), "Henrique Leis" (Almancil), "Il Gallo d'Oro" (Madeira), "L'And Vineyards" (Montemor-o-Novo), "São Gabriel" que recupera estrela perdida (Algarve), "Willie's" (Algarve), "Yeatman" (Gaia) e, este ano, o "Pedro Lemos" (Porto).
Conhecendo quase todos, acho que é um ato mínimo de justiça e um reconhecimento mais do que adequado à crescente qualidade dos chefes que operam no nosso país. Mas esse reconhecimento fica à porta do que seria devido.
Há um escândalo - e meço a palavra - que urge notar e que as autoridades turísticas portuguesas deveriam empenhar-se em denunciar: nenhum dos inspetores que o "Guide Michelin" enviou aos nossos restaurantes é de nacionalidade portuguesa, sendo que a esmagadora maioria são espanhóis. O "guia dos pneus", com bem o qualifica o grande José Quitério, cuja edição ibérica é sempre - repito, sempre - lançada numa cidade espanhola, continua a seguir esta inaceitável discriminação, que desprotege a cozinha portuguesa e a deixa "nas mãos" de avaliadores que se regulam por critérios muito próprios e largamente tributária da cultura gastronómica para além do Caia.
Ninguém põe em causa a grande qualidade da restauração espanhola, mas alguém acha normal que Portugal tenha apenas 14 restaurantes "estrelados" (e nenhum com três estrelas) e a Espanha bem mais do que decuplique esse número, com 169 ?! São 8 restaurantes com 3 estrelas, 18 restaurantes com 2 estrelas e 143 com uma estrela. E, no tocante aos "Bib Gourmand" (restaurantes com boa cozinha a preço moderado), justifica-se que haja apenas 33 restaurantes portugueses para 229 (!) espanhóis? Acho inaceitável que, ano após ano, esta situação discriminatória se prolongue, sem uma reação da nossa parte.