quinta-feira, novembro 20, 2014

O escândalo "Michelin"

Toda a imprensa se apressou a comemorar o facto do "Guide Michelin" ter selecionado, pela primeira vez, 14 restaurantes portugueses, como dignos de usufruírem as suas badaladas estrelas.

Com "duas estrelas" continuam dois restaurantes do Algarve - "Ocean" e "Vila Joya" - e passa agora a integrar o grupo o lisboeta "Belcanto", de José Avilez.

Com uma estrela continuam figuram 11 restaurantes: "Casa da Calçada" (Amarante), "Eleven" (Lisboa), "Feitoria" (Lisboa), "Fortaleza do Guincho" (Cascais),  "Henrique Leis" (Almancil), "Il Gallo d'Oro" (Madeira), "L'And Vineyards" (Montemor-o-Novo), "São Gabriel" que recupera estrela perdida (Algarve), "Willie's" (Algarve), "Yeatman" (Gaia) e, este ano, o "Pedro Lemos" (Porto).

Conhecendo quase todos, acho que é um ato mínimo de justiça e um reconhecimento mais do que adequado à crescente qualidade dos chefes que operam no nosso país. Mas esse reconhecimento fica à porta do que seria devido.

Há um escândalo - e meço a palavra - que urge notar e que as autoridades turísticas portuguesas deveriam empenhar-se em denunciar: nenhum dos inspetores que o "Guide Michelin" enviou aos nossos restaurantes é de nacionalidade portuguesa, sendo que a esmagadora maioria são espanhóis. O "guia dos pneus", com bem o qualifica o grande José Quitério, cuja edição ibérica é sempre - repito, sempre - lançada numa cidade espanhola, continua a seguir esta inaceitável discriminação, que desprotege a cozinha portuguesa e a deixa "nas mãos" de avaliadores que se regulam por critérios muito próprios e largamente tributária da cultura gastronómica para além do Caia.

Ninguém põe em causa a grande qualidade da restauração espanhola, mas alguém acha normal que Portugal tenha apenas 14 restaurantes "estrelados" (e nenhum com três estrelas) e a Espanha bem mais do que decuplique esse número, com 169 ?! São 8 restaurantes com 3 estrelas, 18 restaurantes com 2 estrelas e 143 com uma estrela. E, no tocante aos "Bib Gourmand" (restaurantes com boa cozinha a preço moderado), justifica-se que haja apenas 33 restaurantes portugueses para 229 (!) espanhóis? Acho inaceitável que, ano após ano, esta situação discriminatória se prolongue, sem uma reação da nossa parte.  

quarta-feira, novembro 19, 2014

Bazar Diplomático

 
É uma tradição anualmente renovada. A Associação das Famílias dos Diplomatas Portugueses promove, com as missões diplomáticas estrangeiras em Lisboa, mais um bazar de Natal, com fins beneficentes.
 
Na sexta-feira dia 21 e no sábado dia 22, no edifício do Centro de Congressos de Lisboa (antiga FIL), à Junqueira (tem estacionamento), em Lisboa, entre as 11 e as 19 horas, pode encontrar produtos nacionais (continente e ilhas) e internacionais a preços muito acessíveis. Esta é uma excelente oportunidade para antecipar as compras de Natal e, ao mesmo tempo, contribuir para uma tarefa muito meritória. Ah! e há uma zona gourmet! No meu caso, também costumo vir carregado de sacos...

Tive uma amiga que foi jornalista

Tive uma amiga que foi jornalista. Tinha nome e mundo, as portas abertas, a graça do verbo ágil, a questão felina e inventiva, mas sempre cordial. Cresceu na sua carreira, em notoriedade e também na escrita. Nunca escondeu onde o seu coração pertencia, na vida como na opção cívica. Em ambas, cultou os seus heróis, viveu deles as saudades, por eles enlevou-se em entusiasmos, caiu em alguns "trompe l'oeil". Na profissão, o viés parecia equilibrado pelo desejo de compreender o outro, de se colocar na sua pele, de sempre o respeitar. E, assim, também foi respeitada. Um dia - terá data? - mudou. Crispou o verbo, acidulou o comentário, verrinou a crítica. Encandeou-se então com fogos fátuos, perdeu-se pelo facciosismo, tornou-se pena oficiosa da obsessão. Para tal, patriotou a sua escrita ao absurdo, lateralizou o olhar, deixou de ver, de vez, a paisagem do mundo. Hoje, essa amiga que tive e que foi jornalista está reduzida a mera observadora, contemplativa deslumbrada, não do sol, mas da lua, cujo brilho, como se sabe, é emprestado. E, mesmo esse, antes do eclipse que aí virá. 

terça-feira, novembro 18, 2014

"Não merecíamos ganhar!"

Tenho o "vício" de ser rigoroso a ver futebol. Já me ia saindo caro. Um dia, numa bancada de Alvalade, acabado o jogo, disse, alto: "Não merecíamos ganhar!". De "lampião" a expressões que se pretendiam ofensivas da minha família, levei então de tudo um pouco em cima. Só a alegria coletiva da vitória leonina - que eu partilhava, caramba! - me salvou. Ou, como me dizia um transmontano ao lado de quem tinha visto o jogo, "safaste-te por um fio de levar uma boa carga de porrada". E era verdade.
 
Hoje, no remanso do lar, a utilização da mesma expressão apenas foi recebida com um olhar patrioticamente severo. Nada mais.

Leonor Xavier


A Leonor escreve com a alma e a alma dela é feita de uma imensa alegria na aventura da vida. O seu "Passageiro Clandestino" é como que um diário de um período durante o qual a Leonor passou a ter consigo a doença. Essa mesma. Mas este não é um livro melancólico, "doentio". Longe disso! É uma obra cheia de vida, de graça, da aprendizagem de saber olhar os outros de uma outra forma, com pequenas e deliciosas notas de um quotidiano que se tornou novo, porque passou a ser diferente, talvez apenas um pouco mais urgente. Quem conhece a Leonor não se surpreende com o que ela própria decidiu: "Mais do que nunca, uso e abuso da palavra e do conceito de descoberta". E fá-lo com a deliciosa escrita a que sempre nos habituou, cultivada sem ser chata, inventiva sem ser pretensiosa, solta sem cair na vulgaridade. Este é um livro do qual não se sai triste.
 
No dia 24 de novembro, pelas 18.30 horas, no jardim do Teatro de S. Luis, os amigos da Leonor - o livro também é dedicado "a todas e a todos que me querem bem" - vão estar no lançamento. Vão ser ser muitos, estou certo. Nessa data, por razões profissionais, estarei no estrangeiro. Mas irei dar um beijo à Leonor uns dias mais tarde, no "jantar da Dois", do "Procópio". E então beberemos também um copo pelo Raul que, lá onde estiver, estará a ordenar-nos o seu "façam favor de ser felizes!".  

Snob


O mais jornalístico bar de Lisboa, o "Snob", fez ontem 50 anos. Numa cidade onde este tipo de espaços tende a desaparecer ou a descaraterizar-se, é obra!
 
O "Snob" não é o meu bar - eu sou de outra "freguesia", do "Procópio". O seu bife pode não ser melhor do que o do "Café de S. Bento", mas não deixa de ter a sua graça passar ao fim da noite por esse lugar "cosy", ligeiramente decadente, onde se arrulha, se conspira ou, muito simplesmente se bebem uns copos. Dele já desapareceu o cheiro a fritos que, durante décadas, a D. Maria não conseguia evitar que saísse da cozinha e que nos acompanhava bem para além da saída. O "Snob" é como aqueles amigos que não vemos com frequência, mas que ficamos sempre contentes por reencontrar e que, nem por isso, deixam de nos ser íntimos. 
 
Deixo aqui um abraço ao Dr. Albino, alma da casa, portista dos quatro costados.

"Crónicas das minhas teclas"

Vou ter o gosto de apresentar o livro de Henrique Antunes Ferreira, "Crónica das minhas teclas", no dia 26 de novembro, no Palácio da Independência, no largo de S. Domingos em Lisboa, pelas 18.30 horas.

segunda-feira, novembro 17, 2014

Gold

Há pouco, na vizinhança ocasional de uma esplanada em Paris, ajudei um jovem casal chinês a traduzir o menu para inglês. Quando se deram conta de que era português, em lugar de falarem de Fernando Pessoa ou Ronaldo, tomaram de imediato a iniciativa de mencionar a existência dos "golden visa" no nosso país. Confesso que não tive coragem de os atualizar face aos últimos desenvolvimentos do mecanismo entre nós.

Good morning, Vietnam!

Há segundos, como se pode verificar na consulta dos países visitantes deste blogue, na coluna da direita, houve um visitante do Vietnam (país nº 83).

Gostava muito de saudar esse longínquo leitor, lançando-lhe um fraternal "Good morning, Vietnam!"

No sebo

Era um sebo (nós por cá, em Portugal, chamamos-lhes alfarrabistas) muito conhecido em S. Paulo, ali perto do largo de S. Francisco, junto à universidade. O jovem estudante percorria as várias prateleiras, com o olhar curioso de quem descobria o seu novo mundo académico através daquelas relíquias do passado. Embora novato, tinha já a cultura de quem sabia ao que andava. Num certo momento, tomou nas mãos um livro de Aureliano Leite. Sentiu, de súbito, que acabara de descortinar uma obra bastante rara. Aureliano Leite era uma figura muito respeitada, um famoso advogado e político, com estudos sobre a história contemporânea que faziam escola.

Terá sido a coreografia do seu entusiasmo que, a curta distância, chamou a atenção de dois cavalheiros, que claramente se mostraram atentos ao volume que o estudante tinha entre mãos. Um deles, com ar seco, autoritário, como que ordenou:

- Me dê esse livro! estendendo a mão para o volume que o jovem descortinara nas estantes.

A grande diferença de idades quebrou, mas apenas por segundos, a determinação do jovem em querer guardar para si a obra que descobrira. Mas resistiu. Firme, embora sem saber o que dizer, fechou o livro junto ao peito, cioso do seu direito de adquiri-lo.

A voz do cavalheiro subiu de registo e assumiu mesmo um tom agreste:

- Seu muleque! Você não sabe o que tem entre mãos! Nem conhece o autor dessa obra! Me dê esse livro, já!

O momento anunciou-se tenso. Um pouco intimidado, o estudante ousou ainda colocar as suas razões:

- Sei muito bem o que é este livro, é um estudo histórico da "revolução de 32". É escrito por Aureliano Leite. que participou na Revolução e que esteve exilado por causa dela. É um advogado de grande mérito e é amigo de meu Pai, acrescentou, como derradeiro argumento para credibilizar o seu empenhamento.

O cavalheiro, frio, continuava impenetrável:

- Me dê esse livro!

O seu braço continuava estendido, intimidatório, reclamando a obra. O jovem olhou o dono do sebo e este, num discreto assentimento da cabeça, aconselhou-o a entregar o livro. Contrariado, mas sentindo-se impotente para travar o ambiente que rapidamente deslizava para o seu desapossessamento da obra, passou o volume para as mãos do cavalheiro. Intimamente, sentiu uma imensa revolta, mas resignou-se então a perder o livro, que os últimos minutos tinham tornado ainda mais precioso aos seus olhos.

A cara pesada do cavalheiro distendeu-se um pouco, no momento em que, finalmente, tomou posse do volume:

- Então seu pai conhece Aureliano Leite? Como se chama seu pai? E você? 

O jovem, no limite da humilhação, cedeu e declinou o seu nome e do seu progenitor.

O cavalheiro colocou então o livro sobre uma mesa, puxou de uma caneta e começou a escrever algo numa das suas páginas iniciais. Ao fundo, o jovem viu no rosto do livreiro desenhar-se um leve sorriso. Não entendia a cena, ou melhor, só percebeu o que tinha acontecido quando o cavalheiro, sem uma palavra, lhe entregou o livro de volta. Abriu-o e leu: "Ao jovem Eros Grau, de um velho amigo de seu Pai, com a estima de Aureliano Leite".

Este episódio foi-me contado há minutos, na Brasserie Lipp, aqui em Paris, pelo meu amigo Eros Roberto Grau, eminente jurista brasileiro, professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, juíz aposentado do Supremo Tribunal Federal do Brasil. E membro da Academia Paulista de Letras, título que Aureliano Leite, desaparecido em 1976, também possuiu. Diz-me o Eros que, por vezes, ainda cruza o olhar, em espaços da Academia, com o autor do livro, que ainda hoje guarda com carinho. Esse, porém, é apenas o lado borgiano desse meu grande amigo gaúcho. O que não é pouco.

domingo, novembro 16, 2014

A "esquerda da esquerda"

Eduardo Ferro Rodrigues, na sua entrevista de hoje ao "Público" disse uma frase que é muito mais do que uma simples declaração: "Nós não sabemos o que vai acontecer à esquerda entre aspas - digo sempre entre aspas porque não acho que haja forças mais à esquerda que o PS".

Esta frase é significativa de uma ideia muito clara: as forças que, em Portugal, se situam à esquerda do PS, por muito que estejam convencidas da justeza das suas posições e estas mereçam ser respeitadas no diálogo político, não configuram, nos seus projetos, modelos que verdadeiramente possam corporizar uma política de esquerda para Portugal. 

Sem pretender minimamente sugerir-me como intérprete daquilo que Ferro Rodrigues possa ter querido dizer, parece-me evidente que apenas o PS pode hoje apresentar-se como a força política que consegue, simultaneamente, assumir as grandes bandeiras do pensamento progressista contemporâneo, respeitando em pleno o quadro político-institucional, interno e externo, onde elas sejam exequíveis e - o que é muito importante e a "esquerda da esquerda" esquece muitas vezes - passíveis de compatibilidade com o espetro político alargado de sensibilidades da sociedade portuguesa atual. Quero com isto dizer, de forma muito clara, que qualquer política portadora dos valores de esquerda, dos modelos de solidariedade social e de ética de cidadania, que são o património orgulhoso de quem se considera "de esquerda", tem forçosamente de se colocar num patamar de aceitabilidade democrática por parte de quantos não partilham esses valores e que, por essa razão, dão, com toda a legitimidade, o seu voto a outras formações políticas - mais à direita ou mais à esquerda. 

Ora olhando-se para os programas da "esquerda da esquerda", a tal "esquerda entre aspas" de que fala Ferro Rodrigues, fica claro que uma sua eventual execução significaria um processo de violentação política e económica de outros setores da sociedade portuguesa (inclusivé dos que votam PS), em alguns pontos dificilmente conciliável com o sistema democrático e, em todo o caso, sempre indutor de graves tensões, que poriam em risco o próprio regime.

Por essa razão, não por qualquer sectarismo mas por um meridiano realismo, o PS surge em Portugal como a única força de esquerda com condições de ser portadora de um projeto político-económico exequível, moderado e suscetível de funcionar como polarizador de um compromisso nacional que conjugue os valores da liberdade e de uma visão solidária do paìs.

Digo hoje isto com o à vontade de quem já pensou de forma diferente. E naturalmente, não pretendo, com o que escrevi, convencer quem acha que "essa coisa de esquerda e direita" são categorias políticas ultrapassadas, atitude que, não por acaso, é assumida, sempre e sem exceção, por quem se situa mais ou menos à direita.

Abuso de poder

Tenho o dr. Luís Marques Mendes por uma pessoa de bem. O antigo ministro e líder do PSD é uma personalidade que fez o seu caminho político ao longo de vários anos, com mérito e inteligência. E, que eu saiba, sem "casos". O seu modelo de crónica televisiva, aos sábados na SIC, podendo não ter a graça "marota" de Marcelo Rebelo de Sousa, tem, contudo, uma regular cumplicidade com o poder que faz com que nos traga algumas novidades e a antecipação de notícias do mundo político. Podemos questionar se será legítimo que alguém que é pago para comentar o quotidiano possa ter acesso, antes do cidadão em geral, a notícias sobre o curso da governação. Mas isso é um problema que não é dele. Essa é uma questão ética do poder político que, até ver, vamos tendo.

Dito isto, há uma questão que me parece um pouco mais complicada.

Há meses, o nome do dr. Marques Mendes surgiu envolvido com uma empresa relacionada com umas "trapalhadas", relacionadas com uma ONG que causou problemas ao primeiro-ministro. Vimos então o dr. Marques Mendes usar o seu espaço televisivo para afastar as suspeitas, aliás menores e residuais, que sobre si impendiam. Não foi uma coisa óbvia e "bonita". Mas passou, pronto! 

Ontem, depois das novas "trapalhadas" dos "vistos gold", o dr. Marques Mendes aproveitou uma vez mais o seu espaço televisivo para se justificar pessoalmente, face a notícias que pareciam envolvê-lo com alguns dos acusados.

Não me parece bem! Por que diabo uma pessoa, que por uma circunstância do acaso, tem um programa de larga audiência televisiva, tem o ensejo de explicar as suas razões perante o país e um qualquer outro cidadão, nesse ou em qualquer outro processo, não tem o acesso aos mesmos meios? Trata-se ou não de uma discriminação positiva, que funciona em objetivo privilégio do dr. Marques Mendes? 

Tratando-se de uma pessoa que, repito, tenho por uma pessoa de bem, o dr. Marques Mendes seguramente concordará comigo em como o seu procedimento neste caso, bem como no que anteriormente referi, configura um abuso de poder mediático, que afeta a equidade da nossa justiça.


sábado, novembro 15, 2014

O 1º de Dezembro

A Associação dos Antigos Alunos do Liceu Camilo Castelo Branco, de Vila Real, e no âmbito das comemorações do “1º de Dezembro”, vai promover, em Vila Real, um debate sobre a "Importância Histórica do Dia da Restauração na Identidade Nacional".
                             
O debate será moderado pelo Reitor da UTAD, Fontainhas Fernandes e conta com o professor Adriano Moreira, o general Loureiro dos Santos, o professor Joaquim Silveira Sérgio, o professor António Barreto, o professor Eurico Figueiredo e o "dono" deste blogue.

O evento terá lugar no dia 29 de Novembro, no Grande auditório do Teatro de Vila Real.

O XX Congresso

Será talvez uma reação geracional, mas olhando, na manhã de ontem, para um grande cartaz de rua que anuncia o XX Congresso do Partido Socialista, em acentuados tons de vermelho, fiquei com a sensação de que o ou os autores do "outdoor" não foram insensíveis à marca histórica que a expressão  "XX Congresso" tem ainda hoje.

Com efeito, o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética foi um dos momentos decisivos para a evolução da URSS e é um indiscutível marco na História universal. Nele foi feito um decisivo corte "epistemológico" com o passado estalinista. Foi nessa histórica reunião que Nikita Krutchev pronunciou o seu famoso discurso (tido por "secreto", até extratos serem conhecidos quatro meses depois, aparentemente por uma indiscrição dos "camaradas" italianos), onde fez um elenco das barbaridades cometida pelo "pai dos povos". Até então, Stalin era o "guia e farol da humanidade" para o mundo comunista internacional e, naturalmente, para o sempre ortodoxo Partido Comunista Português. Não foi sem uma penosa evolução doutrinária que o mundo comunista se adaptou aos novos tempos. Foi dessa tensão que nasceu o cisma sino-soviético, que deu origem à proliferação dos movimentos maoístas que vieram, a partir de então, a considerar "revisionista" a linha comunista do PCUS. 

António Costa avança para o XX Congresso do PS. Nenhuma rutura essencial se espera, nenhum drama ou denúncia de passado, recente ou mais longínquo, deverá surgir deste encontro. O seu discurso não será "secreto". Definitivamente, este é "outro" XX Congresso. Mas ninguém me convence que não houve "mãozinha" da memória na construção do cartaz!

Em tempo: afinal, não fui só eu a notar!

sexta-feira, novembro 14, 2014

Uma carta

Há pouco recebi uma carta diferente, definitiva. De um amigo, estrangeiro, que está a morrer, do outro lado do Atlântico e que decidiu, dessa forma, despedir-se dos seus amigos. Não é uma carta triste, salvo para os que a receberam. Saúda a existência que teve, as amizades que nela fez, a magnífica família de que está rodeado, o modo sereno como se preparou para o momento que aí vem. Lembra as boas coisas que se tinham atravessado na sua vida, os projetos que conseguiu concretizar, os ideais que manteve. E, sempre, as pessoas, que estiveram no centro de tudo por que viveu. Nunca me foi tão difícil responder a uma carta, mas talvez nunca o tenha feito de uma forma tão sincera, porque quem a vai ainda poder ler merece a verdade da nossa amizade. Sei que nunca teria a coragem de escrever uma carta como a que recebi, mas, por mais paradoxal que isso pareça, invejo muito a fantástica força deste amigo que nunca mais verei.  

O novo ouro

 
A questão dos "vistos gold" foi sempre vista com alguma suspeição pela opinião pública portuguesa. De facto, "comprar" a livre circulação pelo espaço Schengen por uns milhares de euros, quase sempre aplicados em áreas não produtivas, nunca foi uma operação muito popular entre nós. Verdade seja que outros países europeus procedem de forma idêntica e, tratando-se de um modelo que abrange a generalidade da zona europeia de livre circulação, a sua legalidade e até a sua legitimidade político-económica estavam, e continuam a estar, garantidas. Por isso, num tempo em que tentar trazer dinheiro a todo o custo para Portugal tem sido a palavra de ordem, este passou a ser um "negócio" como qualquer outro, apenas coreografado, de forma insólita, por algum "teatro" triunfalista que o envolveu.

Os acontecimentos de ontem enterraram definitivamente, entre nós, a bondade do modelo dos "vistos gold". Por muito que o sistema passe a estar mais blindado - "casa roubada"... - aposto que nunca mais veremos os políticos a incensá-lo, e só em imagens de arquivo veremos o dr. Paulo Portas em agitadas mãozadas com figuras tiradas dos álbuns das "Raças Humanas" - e quem disser que isto é xenofobia pode ir dando uma volta. A continuarem, os "vistos gold" vão rarear, pelo que presumo que os anúncios imobiliários em chinês, em que o meu bairro é fértil, com o tempo, vão perder os acentos.

Resta o processo de corrupção que, a confirmar-se, é da maior gravidade, tanto mais que nele surgem acusadas de envolvimento figuras da alta administração do Estado. Só não desejo que os eventuais culpados sejam "exemplarmente" punidos porque aprendi que a exemplaridade na Justiça é um conceito populista. Quem for culpado deve pagar, plenamente, por aquilo que fez, mas na medida exata que a lei prevê e não magnificada para gáudio mediático ou susto público. Não posso senão crer que aqueles que ontem foram indiciados como corruptos, ou cúmplices de outros crimes conexos, o foram por sólidas e sustentadas razões, isentas de qualquer competição entre corporações, sem o que o opróbrio público a que foram sujeitos seria de uma imperdoável crueldade. A honra das pessoas é o seu bem mais precioso e a nódoa na sua imagem, que a comunicação social sempre potencia, é hoje um labéu praticamente irrecuperável. Por essa razão me chocou muito ver, ontem, um canal de televisão que faz do crime & ofícios correlativos o seu "fond de commerce", anunciar em parangonas "gordas" que um determinado ministro havia sido "detido" para, minutos depois, corrigir para "investigado", como se a diferença dos conceitos fosse um mero detalhe. Isto tem um nome, mas não é jornalismo!

quinta-feira, novembro 13, 2014

Juncker

 
Não é uma boa notícia a fragilização do novo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, logo no início das suas funções. A natural polémica, que tudo indica que se vai prolongar por algum tempo, não ajuda à criação de um ambiente de reforço da autoridade da nova Comissão, elemento da maior importância para um desejável retoque no equilíbrio interinstitucional de poderes para o qual o programa de Juncker parecia apontar.

Dito isto, "à quelque chose malheur est bon". Se desta crise puder nascer uma nova vontade política, assumida a nível europeu, para se caminhar para uma aproximação - já não serei tão otimista para falar de harmonização - dos regimes fiscais dos diferentes Estados, isso seriam muito boas notícias para a Europa. Logo veremos.

Timor-Leste e as Necessidades

Por regra e por experiência, confio no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Uma prática e uma reflexão caldeadas ao longo de muitos anos, uma consciência atenta daquilo que é o interesse nacional na ordem externa e um sentido da oportunidade e da medida, que muitas vezes falta à chamada classe política, sempre ajudou a que as relações de Portugal com o mundo tivessem, no corpo profissional que são os diplomatas, excelentes intérpretes. Costumo mesmo ironizar, dizendo que, em Portugal, à frequente falta de uma política externa, a nossa posição internacional vive de uma diplomacia reiterada.

Mas a resultante de ação diplomática dentro do MNE não nasce de geração espontânea. Ela só surge depois do isolamento daqueles (e daquelas) que "fervem em pouca água" e têm posições quase militantes, bem como dos cultores obsessivo do imobilismo, dos convictos de que "o tempo tudo cura" e de que o melhor é não fazer nada. Arredado o peso de influência destas duas "escolas", está criado o espaço de afirmação para as posições serenas, ponderadas e com sentido de equilíbrio. Quando a "diplomacia da canhoeira" (ou, no outro extremo, o tropismo "pró-causas") e o atentismo bovino conseguem ser neutralizados, o "output" do MNE é geralmente de grande qualidade. São muitos anos de claustros do convento de Nossa Senhora das Necessidades que mo ensinaram.

Espero, assim, que os diplomatas portugueses, neste difícil momento que atravessam as nossas relações com Timor-Leste, possam dar provas de estar à altura do dever de aconselhamento aos titulares dos cargos políticos dentro da Casa, municiando-os com sugestões sobre os passos a seguir, sobre os contactos a efetuar, sobre as atitudes a assumir. É que urge garantir uma unidade na expressão das posições do Estado português face às autoridades timorenses. Como sempre acontece quando se percebe que alguma fragilidade afeta a "mão" das Necessidades, surgem por aí governantes de áreas sectoriais a permitir-se mandar "bocas", agitando o estado dos seus dossiês técnicos específicos e os seus projetos para eles, esquecendo que só se implantaram e progrediram porque houve um quadro político geral que foi desenhado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. E que, se esse quadro geral for "por água abaixo", o mesmo destino terão os seus "brinquedos".

A minha preocupação perante esta situação só é atenuada pelo facto dos timorenses nos conhecerem "de gingeira". Não é impunemente que se foi colónia deste atípico país europeu. No fundo, por mais que conjunturalmente se agitem, os novos Estados saídos da nossa aventura imperial "leem-nos" melhor que ninguém, conhecem os calendários de vitalidade política de quem por aqui está no conjuntural poder, percebem as nossas dificuldades, estão bem cientes das nossas qualidades e dos nossos defeitos. Aliás, cada um deles, à sua maneira, herdou umas e mas também os outros. Isso mesmo ajuda a explicar alguma coisa do que aconteceu em Timor, mas também nos permite ter esperança em que as feridas irão sarar. Mas todos temos de ajudar, não cometendo asneiras precipitadas e, sobretudo, evitando a empolgação mediática. Dos dois lados.

quarta-feira, novembro 12, 2014

Fazer o bem sem olhar a quem

Vejam o que acabo de receber no meu mail. São frequentes ofertas destas, desinteressadas, altruístas... Que diabo de reserva me leva a não correr já para a Costa do Marfim, como dizia o João da Ega ao Palma Cavalão, "a recolher o bago"?

Assalam Alaikum,
Dearest One, I am Mrs Chandni Ali from Kuwait but now undergoing medical treatment in Ivory Coast .
I am married to late Dr.Aasif Ali, who worked with Oil Company in Ivory Coast for Eleven years before he died in the year 2010, after a brief illness that lasted for few days.
We were married for Eighteen years without a child. After the death of my lovely husband i vowed to use our wealth for the down trodden and the less privileged in our society.
Recently, My private Doctor and others told me that i may not last for the next seven months due to cancer problem, though what disturbs me most is low BP. Haven known my condition i decided to donate all my wealth to the less privileged and charity work.
When my late husband was alive we kept the sum of $2.800 000 USD. Which i promised Allah to be use for Charity works. Having known my condition now i decided to give out this fund to an individual or Organisation that have the fear of Allah who will use it the way i instructed.
Beloved one, Send me your Full contacts so that i will donate this fund to your care as soon as you promise to keep my vow to Allah.
1. Your Names......................................................
2. Address..................................................................
3. Phone Number........................................................
As soon as you send me all these information's i will give you the contact where the fund is being kept here in Ivory Coast and all the papers that prove it.
Allah bless you,
Mrs Chandni Ali.


Há muitos anos que este tipo de emails circula pela internet. Quase sempre é uma "fortuna" africana que é "posta à disposição" dos destinatários. No primeiro ou no segundo contacto, é solicitado um número de conta bancária e a vigarice começa por aí, às vezes por um adiantamento que é solicitado. Achei graça a esta tentativa, porque traz uma componente islâmica que não é habitual.

Restos de uma conversa

- Os teus textos são, cada vez mais, um problema para mim. Concordo com imensas coisas que neles dizes mas, de súbito, em alguns deles, deparo com algo que me abertamente me desagrada. É estranho porque, no passado, as coisas não eram assim. O que escrevias era mais facilmente aceite, no seu todo. E olha que não sou a primeira pessoa a notar isto! Fazes de propósito?

- Faço e não faço. Até posso perceber que te sintas assim, ao ler o que vou escrevendo. A questão é que, com o tempo, optei por ser mais transparente, de não procurar ser consensual a todo o custo. É que, na vida, nem tudo é a-preto-e-branco. Há sempre aspetos das coisas que não "rimam" com o resto. Por isso, digo o que penso, doa a quem doer - e já vi que dói a alguns amigos, como tu. Mas quero fugir àquela frase do Sérgio Godinho: "estar de bem com os outros e de mal contigo". É só isso. 

PGR (3)

Seria importante o parlamento revisitar a questão da composição do Conselho Superior do Ministério Público, bastando para tal que o PSD recu...