Elisa Ferreira será a sexta pessoa, indicada por Portugal, a integrar a Comissão Europeia, desde a nossa entrada para as então Comunidades, em 1986. Não será a "comissária de Portugal", porque os comissários, embora indicados por cada um dos governos nacionais, não representam formalmente, na sua ação na Comissão, o seu país de origem. Compete-lhes assumir o interesse geral da União Europeia, embora uma regra não escrita acabe por admitir que, na sua presença no colégio de comissários, eles para aí carreiem a "sensibilidade" do país que os indica. Mas é falsa a ideia de que um comissário pode atuar como uma espécie de funcionário do país no seio da Comissão, aí defendendo abertamente os seus interesses nacionais.
Uma visão antiga e ingénua é a de que, a um país, interessa que ao comissário que indicou seja atribuída na Comissão uma "pasta" que corresponda especificamente aos seus interesses nacionais mais relevantes. Se essa perspetiva egoísta pode funcionar, às vezes, para os maiores Estados, é uma completa falácia no que toca aos restantes. Pela experiência de observação da vida europeia nas últimas três décadas, um comissário torna-se relevante quando, pela sua qualidade, consegue ganhar poder de influência pessoal no seio do colégio de comissários e a quem, pela horizontalidade do seu pelouro, os outros sejam obrigados a recorrer com frequência.
Portugal é dos escassos países que tiveram um seu nacional como presidente da Comissão Europeia, com a década de Durão Barroso. Antes, Cardoso e Cunha, Deus Pinheiro e António Vitorino tinham desempenhado o cargo de comissário europeu. Depois de Barroso, foi Carlos Moedas. Em 33 anos de presença na União Europeia, o PSD indicou quatro comissários e o PS apenas um. A "quota" socialista é agora reforçada, embora Elisa Ferreira não seja militante do PS.
Elisa Ferreira é um nome forte e prestigiado na Europa, largamente consensual em Portugal. Com uma passagem marcante pelo Parlamento Europeu, onde se destacou no debate da questão da União Bancária, a sua ida para vice-governador do Banco de Portugal foi uma decorrência natural, como natural seria que viesse a suceder a Carlos Costa, quando este terminar o mandato.
A nova comissária vem do Norte, foi docente na Universidade do Porto, trabalhou na antiga Associação Industrial Portuense e nunca deixou de refletir, em todas as fases da sua vida, a sua ligação regional. Acho extremamente positivo que uma competente mulher do Norte passe a ser o mais visível rosto português na Europa.