"Este governo, que agora se apresenta
remodelado perante os portugueses, tem mais ministros do que antes. Só posso
lamentar a opção que fiz, em 2011, ao criar um executivo muito pequeno. Tenho
de reconhecer que tinham razão todos quantos, à época, consideravam tal modelo
insensato e impraticável. Sou também
responsável pela decisão, que hoje constato que teve bastante maus resultados,
de criar dois "mega-ministérios", unidades que se verificou não serem geríveis, política e tecnicamente. Durante estes dois anos, várias outras coisas não correram bem no tocante ao modelo do nosso governo, pelo que entendi
ser chegado o momento de as corrigir. Assim, de retorno à lógica tradicional, o
Emprego voltou ao lugar de onde nunca devia ter saído, isto é, junto com a
Segurança Social e com o Trabalho. Não nego que pode ter havido algo de ideológico nesta nossa opção, mas os factos foram mais fortes e mostraram que ela era profundamente incorreta. Com o tempo, também ficou claro que não foi adequado colocar o Ambiente juntamente com a Agricultura, tal como a Energia no seio da Economia. A nossa inexperiência - porque é disso
que se tratou, há que assumi-lo - levou-nos a cometer esses erros, de que agora
sinceramente me penitencio perante o país. Uma última nota para a AICEP. Uma má avaliação fez
também com que pensássemos que a tutela da diplomacia era o lugar certo para
esta agência. Novo erro! Ao final destes dois anos, chegámos à conclusão que o seu lugar natural é sob o "chapéu" da Economia, embora articulada com o MNE, como já antes acontecia. Peço assim perdão aos portugueses pelo facto
de ter feito este conjunto de más avaliações, que fizeram perder tempo ao país
e afetaram seriamente a capacidade de execução das políticas do governo. Vamos
agora tentar corrigir o que fizemos de errado. Mas, repito: uma palavra
especial de desculpas é devida a quantos, em especial nos partidos da oposição, mas também em setores da
maioria, me alertaram então para a inconveniência de tais decisões. Não lhes dei ouvidos. Fiz mal, reconheço."
Um papel com o texto acima publicado caiu há pouco de um automóvel, junto à calçada da Estrela. Parei o meu "Smart" e apanhei-o, movido pela curiosidade. À primeira leitura, fui levado a suspeitar de que se
tratava de parte do discurso que o primeiro-ministro iria fazer esta semana,
aquando da apresentação do novo governo na Assembleia da República. Mas, no segundo seguinte, pensei melhor: nós estamos em Portugal! Nenhum primeiro-ministro - de
direita, centro ou esquerda - confessará, alguma vez, que se enganou. Ou, para
usar uma expressão de um antigo chefe do governo, "arrepender-se é errar
duas vezes". É isso: estamos em Portugal...