quinta-feira, julho 11, 2013

O novo verão quente

Ontem, ao atentar na surpreendente evolução da situação política interna, senti-me como que regressado aos tempos depois de abril.

Aí temos um apelo à "Salvação Nacional", um conceito de sentido trágico que acarreta um subliminar tom de "finis patriae", de arrebanhar do que resta de quem seja capaz de "deitar uma mão a isto", um tempo que, além da obrigatória esperança, traz consigo a ideia dos homens providenciais (os medievos "homens bons"), iluminados pela autoridade que, pelos vistos, ainda projetam. 

Uma dúvida, porém, me assaltou: se a crispação na vida político-partidária é um dos fatores que aconselha a não realização de eleições a 29 de setembro (caramba, por pouco era quase o 28 de setembro!) então ela já se diluirá, pelos vistos com bastante mais facilidade, no pretendido processo de consensualização de uma nova plataforma partidária "a três"? Não estou a ver bem como é que isso se fará, mas admito que possa ser das minhas lentes.

Também muito interessante é o caso do ex-futuro do governo, que ontem vinha já desenhado por toda a imprensa, fruto de um recalibrar dos partidos e das figuras, que todos criam já abençoado por Belém. Ou muito me engano, ou acaba de criar-se, para a nossa pequena história política, um novo "governo Fabião", aquela formação de executivo que, em 1975, foi pré-desenhada à exaustão por quantos não aceitavam ter de optar entre a febre gonçalvista e as propostas "burguesas" que acabaram de servir de matriz ao VI governo provisório. Não quero ser irónico para os meus amigos do CDS, mas não consigo evitar que me escape algum sorriso. Aconteceu-lhes como ao Otelo: o cavalo do poder passou-lhes ao lado. Ou, como diria Mário Mesquita, perante outras desilusões desses tempos, "Deus não dorme".

Deixo-os com as palavras desse excelente poeta que é Vitor Nogueira, com as quais ontem fechei o meu "zapping" do dia. Ele falava do totobola, mas também dá para outros jogos de sorte:

Diz-se que há sempre uma hipótese.
É assim que o sistema funciona. Mas
para onde foge o tempo?
Para onde vai tanta força?

Restos de grandes fogueiras.
É para isso que as pessoas vivem.

17 comentários:

Anónimo disse...

Houve de facto um governo Fabião e há um governo provisório. No estado em que as coisas estão, espero que também haja uma nova Constituição, para termos, como em 76, um Primeiro Governo Constitucional, chefiado por Mário Soares que, não obstante alguns exageros, ainda é quem diz mais verdades nste país. Presidente Eanes já temos. As semelhanças físicas e comportamentais são evidentes.

Anónimo disse...

Há aqui muito machismo: nomeie-se para moderar uma "mulher boa". A Catarina Furtado, por exemplo. Verão como logo "solta-se o governo"

Anónimo disse...

Dirty minds, Sr Embaixador, dirty minds...

a) Feliciano da Mata, pai de família

Alcipe disse...

Também gosto muito da poesia de Vitor Nogueira. Muito bem, meu caro amigo!

Anónimo disse...

E parece que, afinal, tudo se resolve com o haircut, seja da divida seja dos trabalhadores da carris…

Anónimo disse...

O "jovem" das feiras é o Otelo em versão de direita mal-pensante !.

A democracia tipo europeu "estragou-se", deslaçou (como a mayonese)porque as famílias foram-se entendendo ao longo do pós 25 de Novembro em seu proveito:

1-Os caciques republicanos ,herdeiros da 1ª Republica, no pós 25 de Abril e oitenta, mais rosas e menos cravos, com mais experiência organizativa abicharam o poder e os interesses ecnómicos.

Outros, recém chegados, mas sem "pergaminhos-Afonso Costa, antes do 25 de Abril , viram-se "aflitos" na orientação política da época, se tivessem ideias de direita democrática eram faschistas (de facho...)portanto enguliram uns sapitos e todos eram da esquerda democrática1, uma beleza!

E o resultado está á vista ! o 25 de Novembro de 1975 não chegou a completar o seu ojectivo: uma democracia europeia e por isso chegámos a esta palhaçada onde, a hipocrisia humana vem ao de cimo e a maioria dos portugueses está farta das palhaçadas !

QUEM FEZ DIVIDAS ?

NINGUÉM !!!!!!

Alexandre





Anónimo disse...

Quem é o poeta Vítor (Victor) Nogueira? Lamento, mas não conheço, conhecendo muita da boa poesia portuguesa.

patricio branco disse...

sim, é tudo dificil de perceber, este pr não é de facto mestre em decidir, tudo muito confso, necessitávamos dum jorge sampaio, muita confusão, pontos fracos, contradições nas propostas, apostar num futuro desconhecido, personalidades de reconhecido credito (!) sim, boa a comparação com o verão quente...

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Anonimo das 16:38: antes do mais, é "Vitor" (respeite-se a vontade do próprio: é o mínimo, não acha?). Quanto ao autor, para evitar outras referências, veja-se aqui: http://pt.m.wikipedia.org/wiki/V%C3%ADtor_Nogueira

Carlos Fonseca disse...

Caro Anónimo da 12;52,

Tanto quanto me recordo não chegou a haver governo Fabião.

E, agora, tenho dúvidas de que haja governo Passos Coelho. Aliás, tenho mesmo dúvidas de que haja Governo.

Palpita-me que o inquilino do Palhácio de Belém pretende ter um papel na política nacional bem mais activo do que o que a Constituição prevê para o cargo para que alguns o elegeram.

Ás vezes fico com a ideia de que ele ainda se julga nos anos 60 do século passado. E que nesse cenário gostaria de ter um papel mais activo do que o daquele senhor que se vestia de marinheiro.

patricio branco disse...

revelo o meu desconhecimento, tambem não conhecia o poeta vitor nogueira e fui ver à wikipedia.
tem uma bibliografia extensa para quem começou a publicar em 98.
a entrada da wk devia ser alargada, pois alem da poesia parece dedicar se a questões ecologicas e climaticas

Anónimo disse...

Tal como no tempo do Fabião isto são as aventuras de uma revolução abortada, por nos localizarmos no continente europeu. Enfim..... será como foram os fumos da Índia. Um dia seremos obrigados a deixar de ser uma república democrática.

Anónimo disse...

Tanto do discurso como de todos os comentários, dos que dizem que o Presidente da Republica disse sim e dos que dizem que disse não, consegui compreender que nada mudou: O governo fica o mesmo, como estava, o Ministro dos Estrangeiros é irrevogável, também o mesmo, e se as coisas estavam mal... poderá haver uma pequena evolução para pior.
Foi o que compreendi.
José Barros

Anónimo disse...

O das 16h38m
É por isso que o Victor (Vítor Silva Tavares), e etc., anda a falar sozinho
E as editoras (?) a publicar... e o erário público a coberto de tudo e mais alguma coisa.
O poeta é vilarealense, vila-realense ou vilarrealense? Vai a Mateus ou a Santa Marta de Penaguião?

Alcipe disse...

Se lessem poesia, conheciam os autores. É simples.

Anónimo disse...

A gente aqui no Golungo pensava que a crise tinha acabado, até encomendamos uma moamba para o fim de semana, mas agora a Senhora Engenheira diz que não pode perder o "Eixo do Mal" sábado à noite e já não vem, e eu e a minha Arlette com a moamba encomendada, e ontem fui ver a "Quadratura do Círculo" e parecia o programa dos Antigos Combatentes de Nambuangongo, ó Senhor Embaixador, estou desconcertado!

a) Feliciano da Mata, membro do movimento "Dêem férias à crise política"

Isabel Seixas disse...

Lindo o poema ... "Rescaldos"

Livro