quinta-feira, julho 25, 2013

Papel apanhado do chão

"Este governo, que agora se apresenta remodelado perante os portugueses, tem mais ministros do que antes. Só posso lamentar a opção que fiz, em 2011, ao criar um executivo muito pequeno. Tenho de reconhecer que tinham razão todos quantos, à época, consideravam tal modelo insensato e impraticável. Sou também responsável pela decisão, que hoje constato que teve bastante maus resultados, de criar dois "mega-ministérios", unidades que se verificou não serem geríveis, política e tecnicamente.  Durante estes dois anos, várias outras coisas não correram bem no tocante ao modelo do nosso governo, pelo que entendi ser chegado o momento de as corrigir. Assim, de retorno à lógica tradicional, o Emprego voltou ao lugar de onde nunca devia ter saído, isto é, junto com a Segurança Social e com o Trabalho. Não nego que pode ter havido algo de ideológico nesta nossa opção, mas os factos foram mais fortes e mostraram que ela era profundamente incorreta. Com o tempo, também ficou claro que não foi adequado colocar o Ambiente juntamente com a Agricultura, tal como a Energia no seio da Economia. A nossa inexperiência - porque é disso que se tratou, há que assumi-lo - levou-nos a cometer esses erros, de que agora sinceramente me penitencio perante o país. Uma última nota para a AICEP. Uma má avaliação fez também com que pensássemos que a tutela da diplomacia era o lugar certo para esta agência. Novo erro! Ao final destes dois anos, chegámos à conclusão que o seu lugar natural é sob o "chapéu" da Economia, embora articulada com o MNE, como já antes acontecia. Peço assim perdão aos portugueses pelo facto de ter feito este conjunto de más avaliações, que fizeram perder tempo ao país e afetaram seriamente a capacidade de execução das políticas do governo. Vamos agora tentar corrigir o que fizemos de errado. Mas, repito: uma palavra especial de desculpas é devida a quantos, em especial nos partidos da oposição, mas também em setores da maioria, me alertaram então para a inconveniência de tais decisões. Não lhes dei ouvidos. Fiz mal, reconheço."
  
Um papel com o texto acima publicado caiu há pouco de um automóvel, junto à calçada da Estrela. Parei o meu "Smart" e apanhei-o, movido pela curiosidade. À primeira leitura, fui levado a suspeitar de que se tratava de parte do discurso que o primeiro-ministro iria fazer esta semana, aquando da apresentação do novo governo na Assembleia da República. Mas, no segundo seguinte, pensei melhor: nós estamos em Portugal! Nenhum primeiro-ministro - de direita, centro ou esquerda - confessará, alguma vez, que se enganou. Ou, para usar uma expressão de um antigo chefe do governo, "arrepender-se é errar duas vezes". É isso: estamos em Portugal...

23 comentários:

Anónimo disse...

Mas ó Senhor Embaixador, se os diplomatas deixam de vender empresas de aviação e vinho verde, o que vão eles agora fazer? Comer croquetes outra vez?

a) Feliciano da Mota, mundializado precoce

Anónimo disse...

Muito bem Senhor Embaixador.

Anónimo disse...

Isto parecem mais papéis lançados por aviões em tempo de guerra que ademais são patéticos. Os profissionais de comunicação do PM, alguns dos quais nossos antigos colegas, tomam-nos por parvos e o hiperformalismo e sisudez revestida de falsa simplicidade do PM não pega. Saudades de Soares e daquelas suas imagens simplórias de "vamos apertar o cinto" ou "vamos pôr o socialismo na gaveta"...

Bmonteiro disse...

Não devem saber, na sua 'imaturidade' o que é o 'arrependimento'.
Já não frequentaram a Igreja dos Mandamentos, e na Faculdade foram formatados por um novo 'Princípio': não ter princípios.
Somos assim, ou passámos a ser.
Pós-modernos & relativistas qb.

Anónimo disse...

Andam preocupados em que as leis do trabalho se apliquem a todos por igual, incluindo aos funcionários públicos. Eu não concordo, porque até considero que, na função pública, o rigor deve ainda ser maior, quer na exigência quanto à admissão, quer quanto à competência na função. A aplicabilidade disto é que terá o que se lhe diga.
Isto para concluir, como comentário ao post, que essas leis deveriam, para sermos justos, ser, também, aplicadas aos políticos, podendo haver despedimentos por justa causa e mesmo despedimentos coletivos!

Carlos Fonseca disse...

O seu texto provocou-me um sorriso. Um tanto amargo é certo, porque tudo o que lá está escrito andará muito próximo do que a consciência de Passos Coelho lhe "dirá" a todo o momento.

Isto, admitindo que ele ainda não perdeu a consciência (ou a alma, ou que lhe quiserem chamar. Grilo Falante tmbém serve), com que todos nascemos, mas que muitos acabam vendendo.

Em suma, uma excelente "fotografia" que o autor do texto, que na Calçada da Estrela foi “perdido”, nos oferece.

Felizmente, como sabemos, nada se perde. Umas vezes, transforma-se; outras, acha-se, como foi o caso.

Infelizmente, com os políticos, raramente se "acha" alguma coisa. Com eles a lei de Lavoisier torna-se efectivamente lei. É da sua natureza.

P.S. - A despropósito deste post, mas a propósito de um anterior: só faltava ficarmos a saber que, enquanto membro do Conselho Superior da SLN, o novo ministro dos Negócios Estrangeiros recebia em dinheiro vivo.

margarida disse...

'smart' diz tudo

Anónimo disse...

Mas os britânicos dizem: Never complain, never explain.

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Adorei Senhor Embaixador. Será que algum dia chegaremos a este estado de civilização? Infelizmente duvido

Helena Sacadura Cabral disse...

Finalmente encontro uma justa aplicação ao verbo "achar"!

Helena Sacadura Cabral disse...

Ó caro Feliciano e onde estão hoje os croquetes?
Só se for no Golungo Alto, mas não creio que a Engenheira os sirva sem contrapartida...
:-))

Alcipe disse...

Please, is it Feliciano da Mota or Feliciano da Mata? Don't try to confuse our computers...

a) NSA

Anónimo disse...

Não é verdade que ninguém peça desculpa dos disparates que faz: Guterres já pediu. Agora seria a vez de Sócrates porque este governo ainda não acabou e portanto haverá tempo para avaliar o resultado final.
E isso, pedir desculpa, resolve as situações ou apenas satisfaz a oposição e portanto não deve ser feito?
João Vieira

Anónimo disse...

Em França está a decorrer um processo contra o precedente Ministro do orçamento, o Socialista Gérôme Cahuzac, por ser acusado de ter uma conta bancária na Suiça e não a ter declarado.
Ninguém tem nada a ver com o facto de o homem ter dinheiro ou não ter dinheiro... porque nem sequer é acusado de o ter conseguido por meios fraudulentos... Foi apenas apontado a dedo por ter uma conta na Suiça e não a ter declarado...
Eu até penso que algumas pessoas, por estes lados, têm é "vergonha" de ter dinheiro e é por isso que o querem esconder... Aqui o facto de ter dinheiro pode ser vegonhoso. Aqui não é Portugal. Em Portugal quanto mais mais...
Pois bem, o homem aqui foi acusado, senhora honestidade divina, senhora honestidade do viver em sociedade, de ter mentido!
Ora esta acusação de mentir, feita a um homem politico no exercício das suas funções, é tão inabitual (ver o inabitual irónico) que parece uma aberração. No inicio da acusação, aqui também, parecia aberração porque mentir nunca foi proibido... No entanto, ao ser julgada a mentira pela opinião pública, mesmo se "formatada" à mentira, ninguém aplaudiu aquela afronta e parecia que todos lhe atiravam à cara: não é bonito mentir, menino, não é bonito mentir...
E ninguém perdoou!
Como Ministro, Deputado, Presidente de Câmara... O homem saltou como se ejetado por uma mola violenta à velocidade de foguetão...
Como homem politico queimou definitivamente a sua carreira e, como homem, (homem humano) sofre os fogos do inferno!
Não sei como estas coisas podem ser vistas de Lisboa. Com certeza que olham para os gauleses como extraterrestres e devem estar fartos de barafustar contra: Que os gauleses são loucos! Que condenam um homem inteligente (parece que o homem era inteligente) que podia muito bem ser "aproveitando" para o desenvolvimento do país; que não se condena assim um homem só por mentir... Eu sei lá o que os "ulissipienses", todos homens de fortes amplexos e palmadinhas nas costas terão pensado...
Porque por ali, quanto mais mais. E quanto mais, mais promovidos são os Sôres tores da mula russa.
José Barros

Joaquim de Freitas disse...

No mínimo, é interessante…. O grande Estaline"As obras teóricas
do grande Estaline são contribuições valiosas. Por elas estudaram e
estudam o marxismo-leninismo milhões de operários em todo o Mundo. Com
elas o Partido Comunista da China e o Partido do Trabalho da Albânia
educaram os seus quadros, com elas formaram milhares de bolcheviques
na União Soviética. (...) O camarada Estaline está demasiado vivo nos
corações de todos os explorados e oprimidos do mundo inteiro para que
oportunista algum o possa fazer esquecer. A vida, a obra, a atividade
do grande Estaline pertencem aos Comunistas de todo o mundo e não
apenas aos soviéticos, pertencem à classe operária e não apenas ao
povo da URSS. Na pátria do Socialismo, a União Soviética, o Socialismo
vencerá, uma nova revolução surgirá tarde ou cedo. Os autênticos
comunistas soviéticos já se organizaram e, juntamente com a classe
operária e o povo da URSS, erguerão bem alto a bandeira vermelha de
Estaline, instaurando de novo o poder proletário. Força alguma o
poderá evitar. QUE VIVA ESTALINE!". Este artigo foi assinado pelo
camarada Abel, no "Luta Popular" de Setembro de 1975. O camarada Abel
era, à época, o jovem José Manuel Durão Barroso, militante do MRPP. e
agora militante do PSD, ex-primeiro-ministro e atual presidente da
Comissão Europeia.

Anónimo disse...

Para que conste os novos responsáveis do gabinete de Amado. Obrigado Amado pela mãozinha dada ao PSD e já agora se também se quisesse transferir para o PSD, a gente agradece...

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,
Daqui: "Tanto chefe para tão pouco índio!"
Saudações de Banguecoque

Anónimo disse...

Do blog "Declinio e Queda" com a devida vénia:

"CALOR SÓLIDO ( XII)

A custo, o reitor, o comunista ( quis ser ele a guiar), o jornalista, o actor e o anarca enfiaram-se no Range Rover e foram pelo país fora tentar perceber. Tinham posto um anúncio:

” Precisa-se de revolução, levantamento popular e motim. A tempo inteiro ou parcial. Oferecem-se regalias: tudo gratuito, camisetas do Che e um livro de Louçã sobre o modelo albanês”.""

Alexandre

Anónimo disse...

Caro Embaixador, aqui já não tem a suscetibilidade (utilizada de um modo sibilino, no entanto) que teve no post anterior! Compreende-se! O Sr. é, isso mesmo, um Senhor! (ia dizer Aristocrata mas voltei atrás).

Anónimo disse...

A coisa está feia: o Jornal da RTP 2 acaba de anunciar todos os Secretários de Estado, excepto os dos Negócios Estrangeiros. Já ninguém quer ir p'ra lá ou já ninguém se entende? Eu cá não fui convidado e também não aceitava num governo de Direita...

Anónimo disse...

Como alguém já disse, o Dr. Machete vai, na prática, ser como o Secretårio de Estado da Cultura e, daqui a uns tempos, deixar de ter assento no Conselho de Ministros. O Vice-PM, os ministros das Finanças, da Economia e de outros sectores com forte dimensão internacional, como a Administração Interna, a Energia, a Defesa, o Mar, etc. vão tirar-lhe todo o poder. Talvez ninguêm queira o Protocolo e batatas quentes tipo avião de Evo Morales, relações com os Estados Unidos ou administrar o que resta do Património humano e físico que Morais Leitão afincadamente dizimou.

Helena Sacadura Cabral disse...

Ó Alcipe eu estou como a Velha Senhora, confundo-os. Serão heterónimos?
Eu não bebo Alvarinho mas os anos pesam...

Isabel Seixas disse...

Também...

Algum sacerdote que planeava uma extrema unção...

Moral da história apanhar papéis do chão, embora prova de cidadania, pode gerar alienação, se ao invés da reciclagem no azul, qual papelão, vacila em sabotagem da clareza da razão...

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...