Mostrar mensagens com a etiqueta Economia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Economia. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, dezembro 19, 2011

Mario Draghi

É muito interessante observar a diferença de atitude, em termos de apresentação pública das coisas, entre o atual presidente do Banco Central Europeu, o italiano Mario Draghi, e o seu antecessor, o francês Jean-Claude Trichet. 

Há cerca de dois meses ouvi ambos falar em Paris, num seminário fechado à imprensa, e fiquei com a impressão (errada, pelos vistos) de que ambos seguiam um firme guião, que já pudera detetar numa conferência do vice-presidente do BCE, Vitor Constâncio. Hoje, ao ler a entrevista que Draghi dá ao "Financial Times", mudei essa ideia.

Draghi começa a afirmar uma linha pública que, não se afastando da proverbial prudência da instituição, analisa cenários que Trichet recusava, como é o caso da possibilidade do fim do euro. Mais do que na esfera política, eu habituei-me a ter em conta muito particular estas "nuances" de discurso deste tipo de banqueiros que, como é sabido, acarretam muitas vezes consigo (e eles sabem isso melhor que ninguém) consequências no comportamento dos mercados. Um governador de um banco central (e o BCE não é um qualquer banco central) nunca diz nada por acaso e Mario Draghi tem revelado ser um homem altamente qualificado e preparado. Só que - e o defeito é meu, com certeza -, eu ainda não entendi até onde Mario Graghi quer chegar com a adoção deste diferente discurso. Mas vou continuar a tentar perceber, até porque isto não é indiferente para um país como o nosso.

sexta-feira, novembro 25, 2011

As "estrelas" do Michelin

Foram hoje revelados dos nomes restaurantes portugueses que, na edição de 2012, terão as desejadas "estrelas" nos guias franceses Michelin, numa avaliação da sua qualidade gastronómica. A "estrelas" podem ir de uma a três, sendo que Portugal nunca teve, até hoje, qualquer restaurante a que hajam sido atribuídas três estrelas.

Em 2012, com duas "estrelas" aparecem o Ocean e o Vila Joya, ambos no Algarve. Com uma "estrela": o São Gabriel, o Willie's e o Henrique Leis, todos também no Algarve, o Il Gallo d'Oro, no Funchal, o Tavares e o Feitoria, em Lisboa, o Arcadas da Capela, em Coimbra, o Yeatman, em Vila Nova de Gaia, e a Casa da Calçada, em Amarante.

Portugal é um país que só muito lentamente tem vindo a "ganhar estrelas". Será isso importante? Claro que é! A profusão de restaurantes com referências positivas nos guias da Michelin é um fator de atração turística e induz mais deslocações ao nosso país. Além disso, estimula outros restaurantes a melhorarem e a colocarem-se em posição de poderem vir a conquistar "estrelas" ou, simplesmente, a concorrer com aqueles que as têm.

Devo dizer que não me recordo de ter comido nenhuma vez mal num restaurante assinalado com "estrelas" nos guias Michelin, embora algumas vezes apenas "assim-assim". Mas, com grande frequência, tenho comido bem melhor noutros restaurantes, alguns dos quais estão e estarão longe desta "corrida às estrelas" - e são quase sempre bem mais baratos.

Um aviso da parte de alguém que acompanha com alguma atenção estas coisas: em geral, pode confiar -se nos restaurantes assinalados com "estrelas" nos guias Michelin, mas não se deve confiar, necessariamente, nas listas dos restantes restaurantes que os guias mencionam para cada localidade. Sei do que falo: está lá de tudo, do bom ao medíocre (embora raramente do mau).

E, agora, permitam-me que vá jantar... a casa de amigos!

terça-feira, novembro 15, 2011

Hotéis

A grande hotelaria é hoje uma das nossas imagens de marca como país, no mercado exterior. Por ela passa a utilização do turismo como um dos instrumentos para a superação dos problemas da nossa economia.

Ontem, aqui em Paris, tive o prazer de poder testemunhar a consagração de um projeto como o Porto 41, um hotel situado nas margens do Douro, a escassas dezenas de quilómetros do Porto, cuja ousada e criativa arquitetura recebeu um prémio internacional, numa competição onde figuravam alguns dos maiores projetos do mundo no setor.

Da seleção final, noutra categoria, figurava o Altis Belém Hotel, também uma magnífica unidade hoteleira de Lisboa.

terça-feira, novembro 08, 2011

Construção

Impressiona observar a serena determinação dos industriais portugueses que ontem visitei no "Batimat", a mais importante exposição de materiais de construção de França e uma das maiores da Europa. Nos 66 stands ocupados por empresas de capitais portugueses - Portugal é o quatro país com mais expositores - fui confrontado com produtos de um nível que pede meças aos seus congéneres internacionais e que, cada vez mais, conseguem ser altamente competitivos num mercado europeu cada vez mais rigoroso. E em todos eles pude testemunhar uma vontade firme e uma combatividade para lutar pelo futuro das suas empresas, na consciência de com isso estarem a contribuir para um melhor futuro do país, não obstante a plena perceção das dificuldades que atravessamos.

A imagem profissional dos portugueses em França continua muito ligada à construção civil, desde os tempos heróicos do "bâtiment", que a partir do século passado empregou muitos milhares dos nossos compatriotas aqui imigrados, até aos dias de hoje, em que uma imensidão de empresas de construção civil de propriedade portuguesa progridem no tecido económico francês, sempre rodeadas de uma aura de grande prestígio e rigor. Nesta feira, pude constatar a ligação que crescente entre empresários vindos de Portugal e firmas de capital português ou não que já operam em França, em áreas muito diversas, desde os materiais de construção mais simples a muito sofisticadas tecnologias e design. Outras empresas nacionais, cientes da realidade atual do nosso mercado, voltam-se elas próprias autonomamente para o espaço económico francês, criando ou adquirindo marcas locais.

A visita que ontem fiz à "Batimat", acompanhado de associados da CCIFP (Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa), serviu para potenciar esta ligação entre operadores do setor sediados em ambos os países, os quais, no seu todo, como bem salientou o presidente da CCIFP, Carlos Vinhas Pereira, ajudam a demonstrar que "construtor português" é já um símbolo consagrado de trabalho de qualidade. 

sábado, novembro 05, 2011

Os herdeiros do défice

Os excessos de endividamento são uma pecha que atravessa o mundo. Já agora, diga-se, não apenas em Portugal, como creio que os últimos debates europeus bem demonstram. Em França, o primeiro-ministro anunciou ontem que o orçamento de 2012 será um dos mais mais rigorosos desde o pós-guerra.

A dívida pública, além de ter um peso nos défices anuais, porque neles incide o respetivo "serviço", isto é, os juros que há que pagar em cada ano, transmite-se para as gerações seguintes, que serão obrigadas a liquidar parte dos encargos anteriormente assumidos. Por isso se assume, numa "convenção" que é vulgarmente aceite, que uma dívida equilibrada para um país é a que não exceda, por regra, 60% do PNB (produto nacional bruto). Mas, vale a pena repetir, nenhum país deixa de ter a criação de dívida como fazendo parte da sua estratégia de gestão financeira. O défice faz parte da vida das nações.

Vistas as coisas de uma forma simplista, pode parecer "criminoso" estar a assumir despesas que serão os sucessores desta geração a pagar. O argumento tem, contudo, uma ligeira fragilidade. É que, no caso de se tratar de despesas de investimento, essas gerações futuras, quando assumirem a sua responsabilidade temporal de gestão do país, lá encontrarão, já construídas e utilizáveis, as autoestradas, as universidades, os hospitais e outros equipamentos, que não necessitarão de ser elas a fazer e a custear na totalidade. E se acaso parte desses investimentos foram bem canalizados para melhores e mais generalizados sistemas de saúde ou de ensino, então fácil é concluir que essas gerações também já beneficiaram parcialmente de tais investimentos, quer por usufruto direto ou por formação adquirida, pelo que tem lógica e justiça que também contribuam, embora de forma apenas residual, para a sua liquidação espaçada no tempo. Por isso, o argumento emocional e piedoso dos "encargos para as gerações vindouras", muito presente em certos discursos, deve ser moderado pela razão e pelo bom-senso.

Pensem nisto!

sexta-feira, outubro 28, 2011

Europa

Pelo acordo estabelecido com a "troika", o Estado português comprometeu-se a alienar participações detidas em empresas, por forma a reduzir o seu peso na economia.

Pelas regras do financiamento europeu a entidades bancárias portuguesas que eventualmente necessitem de recapitalização, o Estado português pode vir a ter de assumir o papel de acionista desses bancos. O que é que determina isso? Ora essa! O acordo com a "troika"...

quinta-feira, outubro 13, 2011

Três dias

Dia 1. É preciso aproveitar melhor as oportunidades na área da construção civil que se abrem às empresas portuguesas neste país. Por isso, a embaixada acolheu, no dia 11, as largas dezenas de convidados que a Câmara de Comércio Franco-Portuguesa juntou, para um exercício de várias horas, entre promotores imobiliários franceses do setor da habitação social e um conjunto muito importante de industriais nacionais da nossa construção civil.

Dia 2. As portas da embaixada voltaram a encher-se, do dia 12, com quase uma centena de pessoas para aplaudir as dezenas de alunos portugueses premiados com bolsas de estudo para a frequência do ensino superior francês no corrente ano letivo. Trata-se de uma iniciativa lançada pela embaixada de Portugal que merece o apoio do Banque BCP, do banco BES, da Caixa Geral de Depósitos, da companhia de seguros Fidelidade, da empresa INAPA e da secretaria de Estado das Comunidades portuguesas.

Dia 3. O conselheiro das Comunidades portuguesas, Carlos Reis, foi o responsável pelo simpático convite que me foi dirigido pela Faculté de Droit, Économie e Gestion, de Orléans, para aí proferir hoje uma conferência subordinada ao tema "Le Portugal en Europe - les nouveaux défis". Seguiu-se um animado e informado debate, dentre a centena e meia de presentes, onde se contavam muitos estudantes e alguns "maires" da região. Portugal continua a ser um tema que interessa muitos franceses. Agora que as coisas não estão fáceis para nós, acho que vale ainda mais a pena praticar uma ativa "diplomacia pública" para explicar, com clareza e com todas as "cartas sobre a mesa", como estamos a trabalhar para vir a sair da crise e, de caminho, o modo como olhamos as estruturas em discussão nesta Europa. Uma jornada que valeu bem a pena.

sexta-feira, setembro 30, 2011

Economia e imagem

A convite dos organizadores do colóquio "Economia portuguesa: uma economia com futuro", apresentei hoje na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, uma comunicação sobre "Portugal: a sua economia e a sua imagem".

O tema foi por mim escolhido pelo facto de considerar necessário que se encare, de frente, o modo como Portugal é hoje visto no exterior, em especial tendo em atenção a fragilidade, recentemente mais evidenciada, da sua situação económico-financeira. E sobre o modo de intervir nesse contexto.

Ao longo do dia, o colóquio deu origem a debates muito interessantes e animados sobre o estado de Portugal neste tempo de crise, mas também sobre o euro e a sobre as políticas da Europa. No painel em que intervim, dedicado a "Portugal no mundo", e como bem notou a moderadora Diana Andringa, o auditório foi mais crítico e pessimista que os membros do painel, cujas opiniões foram saudavelmente contraditadas. 

A minha intervenção, para quem possa estar interessado, pode ser lida aqui.  

domingo, setembro 25, 2011

Bancas

Leio no "Público" este título alarmante: "Banca nacional já perdeu 46% do seu valor em bolsa este ano".

Leio no "Journal de Dimanche": "La dégringolade des trois principaux établissements français" - desde 1 de julho, BNP Parisbas perdeu 53% do seu valor em bolsa, Société Générale 61% e Crédit Agricole 58%.

domingo, setembro 18, 2011

Os mercados


A televisão trouxe, há pouco, a imagem sorridente de um "trader" da City londrina que terá provocado um imenso buraco financeiro ao banco suíço UBS. Ainda recordo uma história, que ficou famosa, de um idêntico especialista que, creio que em Singapura, fez, há alguns anos, uma falcatrua de grande dimensão. 

Devo dizer que o que me espanta mesmo é como estas coisas não acontecem mais vezes, com estes "jongleurs" do dinheiro alheio, que passam o tempo a olhar para monitores e a dar ordens de compra e venda, jogando diariamente com fortunas que vão muito para além daquilo que qualquer mortal pode ambicionar ganhar numa vida.

Há uns anos, em Londres, um amigo levou-me a ver uma dessas salas atulhadas de ecrans, que existem por toda a City. Espantou-me a baixa idade dos operadores desse mercado virtual, cuja lógica de funcionamento, confesso, apenas percebi "pela rama". Mas ficou-me a ideia de que a exigência física e psíquica desse tipo de ambientes provoca um elevado desgaste, o que justifica que só jovens se possam ocupar dessas tarefas. Pelas noites dos "pubs" londrinos, via-se depois essa gente que se divertia, que iria dormir as escassas horas que a sua idade permitia, antes de regressar, de novo, ao seu intenso e exigente quotidiano.

Há uns meses, aqui em Paris, estive presente num encontro fechado entre entidades do setor oficial português e um grupo de umas dezenas de "traders" parisienses. Eram eles, na versão francesa, os famosos "mercados", contra os quais todos somos tentados a protestar, mas cuja filosofia de funcionamento é hoje a incontornável base económica das nossas sociedades.

Olhei bem para eles (e elas): era jovens entre os 25 a 35 anos, modernos, vestidos "business casual", que ouviam, com displicente atenção, algumas explicações que, tudo o indicava, lhes entravam por um ouvido e lhes saíam pelo outro. É que eles estavam-se claramente "nas tintas" para os pequenos esforços de melhorias na nossa economia que lhe eram anunciados, para as ligeiras reversões de tendência negativa que procurávamos potenciar, para as expetativas de futuro cuja importância tentávamos destacar. Nós éramos um país sob elevada desconfiança, com muito escasso crescimento, com indicadores que só um impensável ato de fé ou de improvável boa vontade lhes poderia sugerir como favorável.

Eles, os "mercados", que mal sabem onde é Portugal, que desconhecem olimpicamente que o chá que bebem chegou à Europa pelas rotas dos descobrimentos, que de portugueses só conhecem as "concierges", algum colega tresmalhado ou o Cristiano Ronaldo, por ali estavam num visível "frete" que os bancos e as entidades financeiras de que dependiam lhes haviam imposto. Regressados aos descasacados locais onde trabalham, confirmariam, com toda a naturalidade, por operações maciças de venda, o alargamento dos "spreads" dos nossos "bonds" face aos congéneres teutónicos, como a lógica dos interesses que representavam exigia.

Estes "traders" - os mercados - têm como único e compreensível objetivo potenciar o lucro de quem lhes coloca os bens nas suas mãos, procurando ganhar margens e especular com os desastres alheios. Não é justo que se lhes peça qualquer laivo de ética, ou melhor, é de esperar que tenham a ética do lucro como único referente da sua vida profissional e pessoal. Com toda a sinceridade, acho que não os podemos condenar por isso: eles são apenas o produto, aliás tecnicamente bem eficaz, da prevalência do modelo liberal nas sociedades contemporâneas.

A nossa angústia, que não tem solução, é que se, no passado, eram apenas as empresas que estavam sujeitas a este "casino", agora chegou a vez dos Estados. Mas não deixa de ser ridículo que nos queixemos dos "croupiers". Mesmo que estes, uma vez por outra, metam "algum" ao bolso, como agora aconteceu. Com os diabos!: alguma vez há-de ser a vez deles...

Vinhos transmontanos

Há quem possa pensar que trazer vinhos portugueses para França é como "levar bananas para a Madeira" (embora esta ilha portuguesa, nas últimas horas, não esteja, propriamente, em odor de santidade). Eu penso que não. Os vinhos de Portugal, para além do caso especial e sem par do vinho do Porto, têm hoje casos de qualidade que pedem meças a muitos vinhos franceses. E, para além do "mercado da saudade", constituído pelos portugueses e seus descendentes que por aqui vivem, os nossos vinhos podem e devem crescer no mercado francês.

Ontem, abri as portas da Embaixada para a Confraria dos Vinhos Transmontanos, que realizou um "capítulo" em Paris, com a entronização de novos confrades (entre os quais o autor deste blogue). A região transmontana esteve presente com diversos e magníficos vinhos, para além de produtos alimentares muito diversos a cargo de um dos melhores restaurantes do norte de Portugal, o "Carvalho", de Chaves, que já aqui mereceu, no passado, a necessária referência.

Tal como já aconteceu com outras regiões do país, a Embaixada testemunhou assim uma bela jornada de divulgação da região de Trás-os-Montes.

sábado, setembro 17, 2011

Não há almoços grátis

Em abril de 2006, ao tempo que vivia no Brasil, fui convidado para ir falar a Harvard sobre a experiência de integração portuguesa nas instituições europeias. No almoço oferecido pela universidade, antecedendo a minha prestação, um professor canadiano perguntou-me, com uma surpreendente naturalidade, até quando Portugal conseguiria manter-se no euro.

Estávamos na ressaca do primeiro período de desregulação no seio da moeda única, com vários países, entre os quais o nosso, a excederem as barreiras macroeconómicas previstas no Pacto de estabilidade e crescimento, fixado em 1997. Portugal estava então a fazer uma tentativa, temporalmente bem sucedida, de redução do seu défice público.

Confesso que, à época, foi para mim um grande choque a pergunta do canadiano. Levei-a mesmo à conta de alguma arrogância anglo-saxónica e de uma leitura paternalista da realidade europeia. A minha resposta foi simples e muito sincera: todo o esforço que Portugal tiver que fazer para se manter na moeda única europeia será sempre muito inferior ao preço que o país terá de pagar no caso de ser obrigado a sair do euro.

Ao olhar para o debate que, em alguns sectores de Portugal, começa a gizar-se em torno da nossa pertença ao euro, dou por mim a pensar hoje exatamente aquilo que então disse em Harvard.

quinta-feira, setembro 15, 2011

Origens

Desde há uns meses, a Renault tem como seu diretor-geral delegado, correspondente a nº 2 da empresa, mas a quem cabe a gestão executiva, o português Carlos Tavares, um reputado quadro internacional, vindo da indústria automóvel americana.

A revista económica "Challenges" dedica-lhe hoje quase duas páginas, desenhando o seu perfil e entrevistando-o sobre o que pretende vir a fazer naquela que é uma das "jóias" identitárias da indústria francesa, recentemente abalada por alguns problemas.

No passado, quando o nome de Carlos Ghosn, o PDG da Renault, era citado na "Challenges", recordo-me de aparecer uma frequente referência à sua nacionalidade brasileira. Agora, ao falar-se de Carlos Tavares, um homem que sei que tem grande orgulho nas suas origens lusitanas, nem uma palavra sobre o país e a cultura de onde é oriundo.

Curioso, não é? Tanto mais que Carlos Tavares, como bem sabemos, está longe de ser o primeiro português a trabalhar na Renault...

Euro

A declaração franco-alemã, segundo a qual o futuro da Grécia é na zona euro, reveste-se de grande significado. 

A contrario, e a olhar para o comportamento dos mercados, talvez se pudesse também dizer que o futuro da zona euro está na Grécia. 

Sem ironias, e cada vez mais, hoje somos todos gregos.

terça-feira, setembro 13, 2011

Ouvi bem?

Leio na imprensa, nesta madrugada, que o comissário europeu de nacionalidade alemã teria sugerido que as bandeiras dos países membros endividados fossem colocadas a meia-haste. 

Independentemente de outras razões bem ponderosas que justificariam que certos países mantivessem a sua bandeira a meia haste, pode presumir-se que a sugestão possa ter efeitos retroativos - isto é, que assim se recorde todos os países que, em 2003, violaram os limites do défice público previstos no "pacto de estabilidade e crescimento" e que, desta forma, iniciaram o processo de fragilização de todo o sistema.

segunda-feira, setembro 05, 2011

Europa financeira

Tive hoje o ensejo de ouvir falar o atual e o futuro presidentes do Banco central europeu, respetivamente Jean-Claude Trichet e Mario Draghi. Confirmei uma vez mais a perceção, que desde há vários anos tenho vindo a criar, de que existe hoje uma espécie de "template" ideológico em matéria financeira, que marca a quase generalidade das personalidades com responsabilidades europeias no setor. 

O que me parece haver de flagrantemente novo nessa cultura comum, dentro da qual subsistem algumas sensibilidades pontuais derivadas da origem nacional das figuras, é o facto de, nestes tempos mais recentes, se ter fixado uma muito alargada comunhão na ideia de que se torna imperativo um salto político federal europeu para a sustentação do espaço monetário do euro.

Quem havia de dizer que seria a Europa financeira a "puxar" pela Europa política!

terça-feira, agosto 30, 2011

Notícia

A agência de notação "Fitch" acaba de divulgar uma análise da zona euro na qual conclui que Portugal deve ter condições para evitar uma reestruturação da sua dívida.

Seria longo estar a elaborar sobre isto, mas alguns anos de vida internacional ensinaram-me que, se há algo de verdadeiramente decisivo no saldo final do imenso esforço financeiro que Portugal está a fazer, essa é a possibilidade de escapar a uma reestruturação da sua dívida. Assim outros não criem condições negativas externas que nos obriguem a enveredar por esse caminho.

Por isso, esta notícia da "Fitch", a confirmar-se, como se espera, já é uma das melhores do ano de 2011.

domingo, agosto 28, 2011

Ricos

Um pouco por todo o lado, a crise fez renascer a questão da tributação dos "ricos". Em França, o governo, desde há uns meses, decidiu acabar com o chamado "bouclier fiscal", uma medida introduzida no início do mandato do presidente Sarkozy, que previa que ninguém podia pagar em impostos mais de 50% do seu rendimento, com vista a tentar fixar as fortunas no país. Agora, no quadro de um pacote de austeridade, foi criado um novo imposto, com prazo de aplicação limitado, para os grandes rendimentos. Ou é impressão minha ou a medida acaba por ter mais de simbólico - num momento em que às classes médias é pedido um esforço acrescido - do que de rentável para os cofres públicos.

No nosso país, vejo que o debate também está aberto. Modestamente, como cidadão comum que sabe tanto disto "como de um lagar de azeite", e com a maior sinceridade, interrogo-me sobre o que, a prazo, traria mais vantagens para o erário: procurar tributar de forma acentuada os rendimentos desses mais afortunados ou, em alternativa, garantir-lhes exonerações fiscais por cada posto de trabalho permanente que, através de investimentos feitos (sem a menor comparticipação do Estado, nem qualquer ajuda comunitária), eles conseguissem criar? Os ricos que paguem a crise? Claro, criando empregos. Como alguém dizia: "é fazer as contas..."

sexta-feira, agosto 26, 2011

Diplomacia económica

Porque o tema da diplomacia económica está na ordem do dia, reproduzo aqui o texto do artigo "Diplomacia em tempo de crise" que publiquei, na edição de junho de 2011, da revista "Portugal Global", da AICEP:
 
"Não há muito tempo, um colega de um país do norte da Europa, cujo tecido económico foi bastante menos tocado pela crise internacional, perguntava-me de que modo a nossa diplomacia se estava a adaptar ao tempo de exigência acrescida que o país atravessava. A sua curiosidade tinha a ver, não apenas com a possibilidade de estarmos a encarar uma melhor adequação do nosso dispositivo diplomático aos objetivos mais imediatos da ação externa mas, igualmente, quanto ao modo como o nosso próprio trabalho teria, ou não, sofrido uma mutação qualitativa, em função de alguma reversão de hierarquia de prioridades.

A questão era interessante, embora a resposta não fosse óbvia. A diplomacia, como instrumento executivo da política externa, configura-se com a evolução dos tempos, por uma reformulação de prioridades, decorrente de novos objetivos. Embora deva ter-se sempre presente – e sei que isto pode parecer chocante para alguns cultores do imediatismo – que o papel dos diplomatas, na fixação da imagem do país, deve ir sempre um pouco para além das conjunturas. Essa é a razão pela qual a resposta às solicitações prementes do presente deve ser, no seio da nossa ação externa, modulada em permanência com a necessidade de garantir a preservação dos interesses permanentes do país, numa perspetiva de coerência de longo prazo. A nossa história não se improvisa.

Indo por partes, eu diria que, em face da presente crise, a diplomacia portuguesa tem, diante de si, três linhas de adaptação.

Em primeiro lugar, dentro do Ministério dos Negócios Estrangeiros não deixou de se considerar, desde o primeiro momento, a importância de repensar a rede diplomática existente, dando atenção particular a áreas geográficas que, não tendo sido privilegiadas nas opções de distribuição de recursos funcionais no passado, convinha que passassem a dispor de uma maior atenção no futuro. Quero com isto dizer que zonas como o norte de África, os países do Golfo e certos mercados asiáticos passaram a entrar na nossa ordem de prioridades, com vista a tentar conseguir novos pontos de apoio à atividade empresarial. Isso tornou-se particularmente importante face a mercados cuja evolução previsível de crescimento pudesse, simultaneamente, vir absorver produção nacional que tivesse menos atratividade para os nossos parceiros tradicionais (em especial, europeus) e garantir espaços sustentados de progressão futura de novas linhas de exportação. Assim foi feito e, estou certo, a prazo, os efeitos ir-se-ão sentir.

A segunda linha é de natureza formativa. Não vale a pena esconder que ainda não está ainda criada, no conjunto da nossa administração pública que opera na ordem externa, uma cultura de trabalho em comum. As razões são diversas, do corporativismo a alguma incompetência. Com felicidade, faço parte daquele grupo de diplomatas que sempre teve uma muito positiva experiência de trabalho conjunto com as estruturas de promoção económica externa (do FFE à AICEP, passando pelo ICEP/API). Por razões diversas, sei que essa experiência não é idêntica à de muitos colegas da diplomacia portuguesa. Não vale a pena estar a distribuir culpas, até pela certeza de que elas não estarão sempre do mesmo lado. Algo tem de mudar neste âmbito e, para isso, de há muito que só vislumbro uma solução, que sei difícil de pôr em prática, por escassez de recursos humanos: promover estágios profissionais cruzados, tanto nas instituições como nas empresas e nas associações empresariais, com suficiente duração para que tal possa ter reais efeitos, num esforço geral de aculturação.

Uma terceira vertente tem a ver com a mudança no paradigma da intervenção das nossas embaixadas, com impacto na informação que produzem. Imagino que a abordagem pública da questão, numa publicação desta natureza, possa escandalizar alguns. Mas julgo ter um mínimo de autoridade experiência para exprimir o que adiante vou dizer.

A diplomacia portuguesa não se deve esgotar no apoio à projeção económica externa do país – no comércio, na promoção do turismo ou na captação de IDE. A atenção à imagem do país na ordem internacional, o cultivo das redes de interesses políticos e culturais que o bilateralismo histórico justifica, a promoção da língua portuguesa e a proteção da diáspora são outros tantos pontos importantes a salvaguardar, como decisivo é sabermos potenciar o nosso valor acrescentado nacional de natureza política, como país construtor de pontes e entendimentos, à escala global. Como a eleição recente para o Conselho de Segurança da ONU o provou. Porque tudo isso, ao funcionar positivamente em favor da imagem do país, acaba por ajudar à criação de um ambiente favorável à promoção dos nossos interesses económicos – e dispensem-me de dar exemplos, por razões que julgo óbvias.

Porém, e como um dia já disse, com choque em alguns ouvidos mais sensíveis,  entendo que o MNE precisa de “menos Kosovo e mais batatas”, querendo com isto dizer que a diplomacia portuguesa tem de continuar o esforço já iniciado no sentido de infletir a sua focagem de prioridades, passando a perceber que a “política pura”, embora podendo dar-nos uma base interessante para um bilateralismo com vantagens, deve sempre apontar para uma visão objetiva dos interesses económicos que importa privilegiar, muito em especial numa situação de crise como a que vivemos.

Mas que fique clara uma coisa: não defendo que a política externa portuguesa seja refém da promoção económica externa, que se opte por uma “reapolitik” de interesses, como se o MNE devesse passar a ser, unicamente, uma espécie de agência de promoção externa de negócios. Não deve sê-lo exclusivamente, mas deve sê-lo também. E, para isto, não são precisos novos despachos ou decretos. Basta haver vontade.

Uma das razões pela qual não defendo uma dependência excessiva da nossa política externa face aos nossos interesses económicos tem a ver com o facto, que pude constatar ao longo das mais de três décadas que levo de ação diplomática, de que essa mesma atividade económica está longe de ter uma coerência mínima: os mercados flutuam, as prioridades variam, a oferta “tem dias”, os nossos empresários – desculpem lá! – têm estados de alma flutuantes. Se a ação externa do país ficasse vinculada, rigidamente, às opções do nosso comércio externo, Portugal teria a imagem de um catavento!

Por isso, recomendo apenas prudência, bom-senso e troca intensa de informação. À nossa diplomacia pode e deve ser pedido um grande empenhamento na promoção da atividade dos nossos agentes económicos. Os diplomatas portugueses devem ser mobilizados para servirem de eixo às campanhas de estímulo à atividade económica externa, as nossas embaixadas devem ser a “casa” dos empresários. Mas tudo isto tem de ter uma coerência global, uma hierarquia de prioridades bem estabelecida, uma dotação mínima de meios e uma proporção adequada de empenhamento. Uma missão diplomática ou consular não pode ser mobilizada apenas porque um empresário o solicita: essa solicitação tem de corresponder a uma razoável contrapartida previsível das vantagens potenciais decorrentes para o país.

É para essa avaliação que a diplomacia espera poder contar sempre com o insubstituível papel técnico da AICEP, como estrutura com capacidade de aferição daquilo que é, a cada momento, o interesse económico prioritário do país na ordem externa. É nesse diálogo, que não é complicado se dele forem excluídos os egos e os reflexos de casta, que deve assentar a parceria constante entre a atividade económica externa e diplomacia portuguesas."

O outro 25

Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novem...