Em abril de 2006, ao tempo que vivia no Brasil, fui convidado para ir falar a Harvard sobre a experiência de integração portuguesa nas instituições europeias. No almoço oferecido pela universidade, antecedendo a minha prestação, um professor canadiano perguntou-me, com uma surpreendente naturalidade, até quando Portugal conseguiria manter-se no euro.
Estávamos na ressaca do primeiro período de desregulação no seio da moeda única, com vários países, entre os quais o nosso, a excederem as barreiras macroeconómicas previstas no Pacto de estabilidade e crescimento, fixado em 1997. Portugal estava então a fazer uma tentativa, temporalmente bem sucedida, de redução do seu défice público.
Estávamos na ressaca do primeiro período de desregulação no seio da moeda única, com vários países, entre os quais o nosso, a excederem as barreiras macroeconómicas previstas no Pacto de estabilidade e crescimento, fixado em 1997. Portugal estava então a fazer uma tentativa, temporalmente bem sucedida, de redução do seu défice público.
Confesso que, à época, foi para mim um grande choque a pergunta do canadiano. Levei-a mesmo à conta de alguma arrogância anglo-saxónica e de uma leitura paternalista da realidade europeia. A minha resposta foi simples e muito sincera: todo o esforço que Portugal tiver que fazer para se manter na moeda única europeia será sempre muito inferior ao preço que o país terá de pagar no caso de ser obrigado a sair do euro.
Ao olhar para o debate que, em alguns sectores de Portugal, começa a gizar-se em torno da nossa pertença ao euro, dou por mim a pensar hoje exatamente aquilo que então disse em Harvard.
6 comentários:
Uma vez mais, concordo. É repetitivo, mas é verdade. Ponto.
Mas, há coisas que fazem com que olhem para nós com ar de comiseração. Por exemplo: o Financial Times, no seu blogue Alphaville titula «A Ilha Trapaceira»...
Com os nossos inimigos podemos nós mais ou menos bem; agora com os nossos «amigos» carunchosos...
O problema não estará nos esforços que faremos (aliás, que já estamos a fazer), para nos mantermos na moeda única.
O problema reside em sabermos até quando nos querem lá.
E, ao que parece, os países nórdicos confortavelmente instalados em economias (aparentemente) sólidas, não parecem muito dispostos a suportar-nos.
Ainda por cima com as trapaças que vão surgindo à luz do dia.
Carlos Fonseca
Senhor Embaixador: estou totalmente de acordo que sair do euro, "par la petite ou la grande porte" traria repercussões desastrosas a Portugal. Só uma casta de irresponsáveis continuam a “discutir o sexo dos anjos” quando o pais precisa, mais que nunca unir todas as vontades para ultrapassar, uma vez mais, uma crise que não soube gerir.
A obscenidade personificada que contribuiu ao agravamento do défice do “rectângulo” defende agora, com ar de vitima, a legitimidade da factura de mais de 30 anos de "boa gestão" que ofereceu com arrogância e de charuto nos beiços, a quem sofria de dor de cotovelo”. Com gente assim, que assina e persiste, com a complacência de pares que, esses sim, sofrem de dor de corno, por mais sacrifícios que se lhe impõem, Portugal só voltará à tona, com um mínimo de sobriedade, no dia em que recusar almoços gratuitos.
Francisco.
\Tenha um bom finm de tarde sem pensar em Portugal . Pode? Porque acho que está certo, mas fazer o que?
com carinho MOnica
Pois Deus o ouça, porque andam para aí uns iluminados nacionalistas, que julgam que o retorno ao escudo é que será a nossa salvação.
Confesso que nunca fui uma europeísta convicta, no que á zona euro respeita. Talvez porque amasse demasiado o país e temesse que nos diluíssemos na Europa. Ou talvez porque o exemplo de Inglaterra me fazia pensar.
Mas uma vez que a decisão foi tomada seria desastroso, a meu ver, uma saída agora.
Confesso que levei um tempão a digerir o título face à essência do texto, socorro-me sempre com legitimidade da obtusidade Transmontana para desistir, depois a querida carinhosa Mônica fez-me luz pelo avesso...
Não é possivel não comunicar, e daí dessa transversalidade nasce a obrigatoriedade de pagar a alimentação reciproca.
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