quinta-feira, fevereiro 10, 2022

Tempos


Estas pessoas, e outras com elas, sonharam, em outros tempos, vir a implantar em Portugal a chamada ”ditadura do proletariado”. Consideravam ser esse o modelo de sociedade que melhor correspondia aos interesses do povo português, que entendiam representar, em sintonia com muitos que, pelo mundo, cultivavam projetos similares. 

Falharam. A meu ver, ainda bem.

Paradoxalmente, ao terem sacrificado a sua existência - às vezes a vida, quase sempre a liberdade - na luta por esse desígnio radical, ajudaram imenso a abrir caminho à democracia burguesa que hoje temos. De que agora fazem parte, de pleno direito.

Cada um falará por si. Eu estou-lhes muito grato por isso.

9 comentários:

Flor disse...

"Falharam. A meu ver, ainda bem." Continuaram a utilizar "a cassete" e não se deram conta que a dita já não se usa.

Jorge Lobo de Mesquita disse...

E entre todos estes a Jaime Serra.

Luís Lavoura disse...

ajudaram imenso a abrir caminho à democracia burguesa que hoje temos

Não vejo como ajudaram. Não é para mim nada claro que tenham ajudado.

A ditadura terminou por obra de um golpe de Estado de militares descontentes (em boa parte, por motivos profissionais e corporativos), não por obra da "luta" dos comunistas.

A democracia burguesa foi implantada por ser esse o costume da época e da região, e certamente que não devido à "luta" dos comunistas.

Provavelmente, a ditadura teria terminado em seu devido tempo, da forma que terminou, quer os comunistas tivessem "lutado" quer não.

Reaça disse...

"...ajudaram imenso a abrir..."é um ponto de vista, o outro ponto de vista que não podemos provar, era se a não existência desses revolucionários, (que pretendiam aqui antecipar uma "Cuba" à beira mar plantada), a cadeira não teria partido a perna mais cedo.

Joaquim de Freitas disse...

E todos estes respeitáveis comentadores consideram que um século mais tarde, depois de tantos milhares de sacrifícios pessoais, a sociedade portuguesa, conseguiu içar-se ao nível das nações europeias. Desemprego ou emprego precário, salários de miséria, necessidade de expatriação para os jovens, tudo isso não conta.



Posso perdoar tudo aos homens, menos a injustiça, a ingratidão e a desumanidade.

A.Teixeira disse...

Grande Lavoura!

Completamente de acordo!

Pegue e embrulhe, Francisco.

Fico cá com uma inveja de si, porque é aqui que o Lavoura se esmera e porque guarda os seus comentários mais estúpidos para publicar no meu blogue...

Jaime Santos disse...

Eu por acaso também lhes estou grato e contrariamente ao Luís Lavoura, acho mesmo que sem a luta dos comunistas e sem a consequente a politização das forças armadas, não teria havido 25 de Abril. As coisas não acontecem no vácuo.

Por isso, A. Teixeira, não fique triste. O Lavoura, onde quer que comente, só diz disparates...

Às vezes, como é o caso, parece mesmo que ele nasceu ontem...

Evidentemente, mesmo compreendendo a mágoa daqueles que lutaram, a democracia portuguesa não dá a ninguém um droit de regard sobre aquilo em que ela se tornou. De outro modo não seria uma democracia.

Percebeu, Joaquim de Freitas? O voto do povo conta mais que os seus preconceitos ideológicos, capiche?

Joaquim de Freitas disse...

“De Jaime Santos : "a democracia portuguesa não dá a ninguém um droit de regard sobre aquilo em que ela se tornou. De outro modo não seria uma democracia.”

“Sobre aquilo em que ela se tornou ...

O voto do povo ? Qual povo? “ 8,5% de abstenção em 1975/ 45% em 2022, na média europeia…

Zero deputados de extrema-direita em 1975¨/ 12 em 2022. Seria a culpa das ideologias, esta escorregadela para o fascismo?

Indicadores na cauda da Europa em 1975/ A mesma coisa em 2022.

Todos os males endémicos portugueses continuam: miséria, precariedade, salários de miséria, reformas de miséria, corrupção, negociatas ao nível do estado, roubos descarados do Estado.

É a culpa das ideologias?

Quanto ao “droit de regard”,, ninguém duvida que o “droit de ragard” da EU e dos Estados Unidos, e do seu braço armado, a NATO, que deu o privilégio a um certo numero de militares portugueses de ir “passear” ao longo das fronteiras russas, em acção de paz (!) e os discursos tonitruantes do MNE português, cujo servilismo enoja, envergonha não importa qual português normal, desde o reconhecimento de Guaido, como presidente da Venezuela e as “sanções” portuguesas contra a Rússia, “His Master Voice” do senil louco da Casa Branca, tudo isso faz parte da democracia e da soberania portuguesa. Temos os politicos que merecemos...

“A la rigueur”, Portugal, sob Salazar, era mais “soberano” . Sabíamos qual era a sua ideologia, ele não a encobria, como muitos hoje na classe politica. E a miséria estava identificada à classe burguesa que dirigia no seu tempo: a mesma que hoje.

joão pedro disse...


Mas é claro que o Sr. Embaixador, em relação a ditaduras, prefere a ditadura da burguesia a que, eufemisticamente, alguns, o Sr. Embaixador inclusive, parece-me, chamam democracia burguesa, democracia liberal...Ditaduras, do proletariado ou da burguesia, são os nomes científicos (é como o princípio activo dos medicamentos) para denominar as democracias populares (trabalhadores, povo! - oh!, que coisa que coisa mais antiga...) e às democracias burguesas. Mas o Sr. Embaixador - homem com muito mundo - sabe tão bem disto como eu, senão melhor...
Uma atenuante, digamos assim...Desculpe mas, de momento, não encontrei a palavra adequada, a sua homenagem, justa, aos oito magníficos que dão suporte à publicação. Aqui, ao menos, existe uma absoluta convergência.

Preocupação

Lamento ter de iniciar a minha comemoração pessoal do cinquentenário do 25 de Abril com uma forte nota de preocupação institucional. E mais ...