sábado, fevereiro 26, 2022

O papa e a guerra

Ontem, no termo de uma intervenção no Jornal das Oito, da TVI, decidi recordar que, nessa manhã, o papa Francisco se tinha deslocado à embaixada da Federação Russa junto da Santa Sé. 

Tinha lido a notícia, durante o dia, algures na internet (mesmo nestes tempos de guerra, vejo muito pouca televisão), mas fiquei com a sensação de que o gesto quase não havia sido destacado. 

E, contudo, ver o líder da igreja católica a ter aquela atitude de modéstia foi algo que me impressionou fortemente. Um chefe de Estado a fazer o que pode ser considerada como uma espécie de “diligência moral” é uma atitude sem precedentes.

Na altura, tive a tentação de contar, em estúdio, um outro episódio que faz parte da memória das relações internacionais. Mas contive-me: relatar ali a “graça” de que me tinha lembrado menorizaria a dimensão do ato do papa Francisco.

Relembro-a agora. Conta-se que, em 1935, Stalin, teve um conversa em Moscovo com Pierre Laval, então ministro dos Estrangeiros de França (com justiça, pelo que fez futuro, a História iria dar a Laval um “infamous” lugar e um fim trágico). Laval ter-lhe-á dito que o papa Pio XI havia criticado as perseguições aos cristãos na URSS. A resposta desdenhosa do líder russo ficou nos anais: “E quantas divisões é que tem o papa?”

Não sabemos o que Putin possa ter respondido ao receber a mensagem de ontem do papa Francisco, cujo conteúdo também desconhecemos. Isso é indiferente, até porque o presidente russo não tem cara de quem é dado a um “bon mot”. O atual papa fez apenas aquilo que entendeu dever fazer. 

E até eu, um empedernido ateu, não consigo deixar de sentir um particular apreço por este excecional argentino, um homem que gosta de futebol e que consegue o milagre, com este seu gesto de humanidade, de me reconciliar pontualmente com uma liturgia a que sempre me senti alheio.

9 comentários:

Jaime Santos disse...

Como dizia o Christopher Hitchens, o Papa tem mais divisões do que Estaline pensava...

Duvido que Putin seja dado a ler Dante, mas o poeta colocou os irados e os violentos nos círculos centrais do Inferno...

Anónimo disse...

Diz-se que quando Estaline morreu o Papa comentou: Agora é que ele vai ver quantas divisões tenho

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Anónimo das 14:46. Como Pio XI morreu em 1939 e Stalin em 1953, imagino que o comentário do primeiro tenha sido registado pela Sky News…

Corsil disse...

Joaquim de Freitas:
"DESAPARECIDO EM COMBATE"

Jaime Santos disse...

Caro anónimo das 14:46, eu referia-me a legiões terrenas e não celestes, muito embora tendo em conta os crimes de Estaline, este deve ter é que se haver com as legiões do Senhor do Poço ;) ....

Joaquim de Freitas disse...

CORSIL, chama-se ? Nunca o tinha visto por aqui. O que é certo é que parece que faço falta…

Não, não desapareci em combate…Para o momento. Mas tenho feito umas certas digressões pela CS portuguesa, afim de compreender por que o Senhor Embaixador não vê muita televisão, apesar da guerra…
E compreendi: não há nada a comentar, porque o discurso é repetido por todos os canais, por um numero extraordinário de “especialistas” da “coisa” , de todas as idades, de todas as cores, nacionais ou estrangeiros, mas que não vêm que um único ditador, um único agressor, de Saigão a Kiev, passando por Bagdade,, Tripoli, Cabul, Damasco, Santiago do Chile, Panamá, Grenada, e todos os países da América latina, e algures…

No país onde vivo existe o mesmo fenómeno, desde que os multimilionários compraram todas as cadeias de televisão, todos os jornais, magazines e jornalistas disponíveis, os mesmos que não viram as centenas de mortos de Belgrado, após o bombardeamento da NATO, e muito menos os da Líbia, a duas horas de minha casa, que permitiram a reabertura do mercado de escravos de Tripoli, que Hillary Clinton tinha prometido, com a abertura das bombas de petróleo de brent, tão apreciado pela Total, Exxon e Cia.

Não, os jornalistas não tinham visto nada, nesses tempos em que destruir um Estado, para criar outros estados mais acessíveis às multinacionais, (eles dizem mais assimiláveis” ao ocidente), independentes “tout de suite” à medida, Eslovénia, Croácia e mesmo o Kosovo, onde a Máfia de todos os tráfegos comanda.

Ao ler os comentários aqui neste respeitável blogue, exceptuando um ou dois comentadores que sabem reflectir, o panorama é idêntico àquele que nos média os vossos jornalistas nos oferecem: Não há nada a acrescentar.As ideias estão feitas…O sofá é um excelente ponto de observação…

E não é o que leio esta manhã, que me ajudará a pensar o contrário, quando ouço uma das vossas “espertas” em jornalismo perguntar: “porque é que os militares da NATO não vão lá (à Ucrânia) e acabam com isto?

Penso que naqueles gabinetes onde se “editam” as questões que estas meninas e os seus congéneres masculinos devem fazer nos seus painéis, existem os tais, dos quais um homem inteligente dizia: “"Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma ciência”

Corsil satisfeito?

Reaça disse...

Em poucos dias, os soviéticos puseram fim à Primavera de Praga (Agosto de 1968)

Praga era no centro da Europa.
A Europa nem estrebuchou.

A Europa não passa de um museu morto...com gente decrépita, até já incapaz de se reproduzir quanto mais resistir a este perigo de definhar.

Lá vamos discutindo sexo dos anjos uns com os outros.

Reaça disse...

O presidente ucraniano já é vitorioso, já ganhou, já é heroi vivo.

Mesmo sem ainda ter morrido em combate.

Este presidente (ainda não decorei o nome)já venceu por KO o russo Putin.

A Europa é que não passa de uma espectadora boquiaberta!

Corsil disse...

Caro JOAQUIM de Freitas:
Grato pela atenção.
Muito me divirto,com os seus hilariantes comentários.
O seu mestre VLADIMIR não diria melhor!

Parabéns, concidadãos !