Sempre alimentei a ideia de que Maria Carrilho, que agora desaparece, acabou por ter uma intervenção política que ficou bastante aquém daquilo que as suas qualificações justificariam. Era muito preparada, inteligente, sabia bem os dossiês e sempre a vi muito rigorosa nas suas intervenções.
Foi deputada nacional e europeia, teve relevantes funções partidárias, mas pareceu-me sempre uma voz algo solitária e desaproveitada no nosso universo político.
Um dia, foi ver-me à embaixada em Paris. No almoço que lhe ofereci, eu, que tinha com ela uma escassa intimidade mas uma muito cordial relação, criada precisamente nas andanças políticas, disse-lhe isso. Ela sorriu, deu aquela gargalhada contida que era a sua e, com a inconfundível voz pontuada, que lia as palavras até ao fim, disse-me: “Provavelmente tem razão, Francisco. Mas a vida é assim mesmo!”. E essa parte da conversa acabou por ali.
Maria Carrilho foi uma académica, uma socióloga que se especializou em questões de Defesa. A Maria era muito bonita, como também tem sido dito, um pouco por toda a parte, nas últimas horas.
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