Desapareceu agora uma figura da diplomacia portuguesa muito pouco conhecida do grande público. Chamava-se Fernando Silva Marques.
Há dois dias, tinha completado 90 anos. Teve postos tão importantes como embaixador junto das instituições europeias, em Bruxelas, na Alemanha, em Angola, nos Países Baixos e no Canadá, tendo também servido no Malawi. Além de outros cargos dirigentes no Ministério dos Negócios Estrangeiros, foi aí secretário-geral. Esteve também ligado à Sedes.
No tempo de mudança que se viveu no palácio das Necessidades, após o 25 de Abril, Fernando Silva Marques foi a cara da dimensão económica da nova diplomacia portuguesa. Como subdiretor-geral dos Negócios Económicos, foi ele quem esteve no centro da negociação de uma multiplicidade de acordos com os países socialistas do centro e leste europeu, que a Revolução tinha aberto diplomaticamente a Portugal. Talvez por preconceito ideológico, as pessoas já terão esquecido o muito que as empresas portuguesas beneficiaram desses novos mercados.
Contrariamente ao que hoje acontece, o Ministério dos Negócios Estrangeiros era, à época, no plano bilateral, a entidade do Estado português que centralizava e coordenava todas as negociações. (No plano multilateral, o Ministério das Finanças tinha já uma forte atividade externa, muitas vezes em compita com o MNE). Entre meados de 1974 e inícios de 1976, Fernando Silva Marques dirigiu essas operações. Trabalhador, muito competente tecnicamente, criou então um assinalável prestígio profissional, nesse tempo em que um escol de diplomatas, do melhor que a nossa administração pública tinha, conseguiu “segurar as pontas”, tentando preservar a máquina da política externa da convulsão política dos dias, desse modo ajudando a estabilizar, no plano internacional, a imagem da democracia nascente.
Trabalhei sob as ordens de Silva Marques, na embaixada em Luanda, em 1982/83. Tive o privilégio de ele me ter dado uma imensa autonomia funcional, o que me terá ajudado a ganhar entusiasmo por uma profissão em que, até então, ainda me não sentia muito confortável. Criei com ele uma relação de respeito e grande simpatia, que se manteve ao longo dos anos. Tive o imenso gosto de poder contactar com a amabilidade da sua amiga presença quando, há anos, lancei um livro do CCB.
Sinto muita pena pela morte do embaixador Fernando Silva Marques, deixando aqui expresso o meu pesar à sua família e, em especial, à sua mulher, Natália.
2 comentários:
Que a sua Alma descanse em Paz.
Amen
maitemachado59
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