sexta-feira, fevereiro 18, 2022

Recuar ou não

A Rússia conseguiu alguns objetivos: disparou os preços dos combustíveis, provou que o “campeonato” não é só entre os EUA e a China e mostrou que o ocidente pagaria um forte preço se fizesse a Ucrânia entrar na NATO. Resta-lhe agora encontrar um “face-saving” para recuar. Ou não.

4 comentários:

José disse...

Por outro lado, conseguiu afirmar-se (definitivamente?), no imaginário europeu como um papão, um estado inimigo e no qual não se pode confiar, um problema que é de todos.

Os alemães - e outros -, vão sentir uma maior pressão para apostar nas energias alternativas (bom para toda a gente), e para diversificar os fornecedores de gás, fazendo com que a Rússia perca bons clientes e se tenha de virar para outros lados onde os preços serão eventualmente mais baixos. Certo é que tentar exercer pressão comercial/política sobre a China não será tão fácil quanto azucrinar a Alemanha ou a Ucrânia...

Para a Argélia isto poderão ser boas notícias mas o país passará a estar na mira russa no que toca a desestabilização. Para os EUA - que se apresentarão como fornecedor alternativo seguro e fiável -, também haverá vantagens (e aqui, cabe-nos forçar Sines como ponto de chegada do gás americano).

Os países europeus olharão novamente para a Rússia como um pretexto para uma maior cooperação militar e aproximação de políticas de defesa, aumentando, assim, a coesão europeia, se não por via dos princípios, pelo menos por via de receios comuns.

Os políticos europeus pouco recomendáveis e simpáticos para Putin terão de lidar com essa nódoa cada vez mais visível e isso talvez ajude à oposição àqueles.

Portanto, talvez Putin tenha perdido bastante mais do que eventualmente tenha ganho. Quanto à Rússia, perde sempre: é um país gigantesco, riquíssimo em recursos naturais, com uma grande população onde o talento não falta e que continua a marcar passo, incapaz de se afirmar pela positiva, pela cooperação, pela integração e apenas se comportando como um rufia, orgulhosamente só, rejeitado por todos mas satisfeito com o estatuto de "duro".

A Rússia, mais do que um problema para o mundo, é uma tragédia para os russos e enquanto isto não se resolver, enquanto a Rússia não for trazida ao mundo livre e democrático, todos perderemos.

Lúcio Ferro disse...

Essa dos preços dos combustíveis faz-me lembrar do que depende a rentabilidade das massivas reservas de petróleo de xisto (caro, muito caro) dos EUA. Lindo serviço, o que está armado, devem julgar que estão a tratar do Iraque do Sadam e não de uma superpotência nuclear com um dos mais modernos e maiores exércitos do mundo (e ademais em muito boas relações com a China, outra força militar e nuclear que não conta para nada). Biden, os falcões de washington e quem na Europa (que vergonha) vai a reboque deste agingantar dos tambores da guerra pode levar as mãos à parede, até porque quem se vai quilhar big time vão ser as populações europeias, à conta dos devaneios militaristas irresponsáveise do amigo americano, vai uma aposta?

Jaime Santos disse...

Não sei como classificar a provocação que é, para um País mais fraco, ter um exército com mais de uma centena de milhar de homens nas suas fronteiras, mas parece-me mais do que um simples devaneio militarista. Parece-me de alguém que quer guerra, ou no mínimo de um bully que ameaça partir as rótulas do adversário se não lhe derem o que quer.

Parece ainda que há quem se esqueça que independentemente das garantias de segurança perfeitamente legítimas pretendidas pela Rússia (desde logo a limitação do número de mísseis às suas portas), foi Putin que iniciou a presente crise.

Mas se a hipocrisia é transversal ao espectro político, ela é particularmente repugnante em quem anda sempre com a moralidade na barriga...

O que vale é que levaram um banho a 30 de Janeiro. Isso não os calará (nem tal seria democrático ou sequer desejável), mas serve ao menos pata mostrar a sua progressiva irrelevância.

Jaime Santos disse...

José, por uma vez, parabéns pelo comentário, assino por baixo. O domínio da política russa pelo aparelho de segurança é antes de tudo uma tragédia para a própria Rússia, País com uma cultura admirável.

Resta saber quanto tempo as elites económicas, científicas e culturais permanecerão caladas...

https://www.economist.com/briefing/2022/02/19/vladimir-putins-willingness-to-threaten-war-damages-russia

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