Ângela Merkel reagiu ao descaso de Donald Trump, face à posição dos seus mais relevantes parceiros europeus no caso do acordo nuclear com o Irão, com a afirmação ousada de que a Europa já não pode contar com os EUA para a sua segurança e para fazer face aos seus desafios geopolíticos mais prementes.
Ao reagir assim, Merkel lançou uma forte dúvida sobre o próprio futuro da NATO, nos equilíbrios que conhecemos nessa organização, não obstante Berlim dar sinais de estar disposta a respeitar o respetivo “burden sharing” orçamental. Pergunto-me, contudo, se a “nova Europa” a leste de Berlim partilhará desta visão da chanceler alemã, face aos temores que a sua fronteira oriental lhe suscita.
Desta postura afirmativa alemã pareceria decorrer, com naturalidade, o imperativo de um reforço do “pilar europeu”, nestes tempos complexos em que, às provocações de Trump se somam os riscos disruptores do Brexit e o braseiro do Médio Oriente parece reacender-se.
Porém, chamada à realidade por Emmanuel Macron, que desenhou em Aachen (que também já foi Aix-la-Chapelle) o básico para a formatação de uma Europa capaz de reforçar a sua autonomia, Merkel caiu na tentação ofensiva de lembrar ao chefe de Estado francês a escassa idade que ele tinha quando a Guerra Fria acabou.
Angela Merkel, que entrou num mandato que parece prenunciar o início do seu declínio político, revela que a Alemanha está ainda na fase de maturação para poder ser uma potência responsável pela liderança da União Europeia. Em política internacional, as grandes “tiradas” sem consequências práticas disfarçam, as mais das vezes, uma impotência ou a falta de vontade para assumir responsabilidades.
5 comentários:
Já Sarkozy, o ”Americano”, como se nomeou ele mesmo no seu discurso no Congresso Americano, como Macron, ultimamente, que se intitulou o “Grande Amigo” da América, no seu discurso no mesmo Congresso, se exprimiram como Merckel nunca se exprimiu em presença do presidente dos EUA, que, aquando da sua primeira visita a Washington, nem se dignou aceitar a mão da Chanceleira, olhando para o outro lado, numa atitude de desprezo absoluto da primeira potência económica europeia. A foto do encontro e do gesto de Trump ficou nos anais da má educação e da diplomacia arrogante do presidente.
Os dirigentes das duas primeiras potências económicas europeias nunca deviam esquecer que os Estados Unidos da América foram o resultado dum genocídio, que fez “table rase” de todos os valores civilizacionais existentes e foi sobre este vazio absoluto que se construiu o país que hoje domina o planeta, sobre valores que se limitam ao poder do mais forte sobre o mais fraco, em todos os domínios. E quando outro poder qualquer pretende elevar-se a reacção americana é de o destruir, por não importa qual meio.
A Europa foi construída a partir duma soma de projectos (reconciliação franco-alemã), medos bem explorados pelos médias (a invasão soviética), fantasias (o surgimento de outras culturas e o desaparecimento da identidade europeia).
A Europa é uma realidade espiritual, uma entidade ideal, em suma, um conceito.
Os seus limites físicos e geográficos são arbitrários ‘ a linha Neiss-Oder ? Os Urais? O Bósforo? O Danúbio?
As suas instituições são altamente escaláveis, desde a CECA até ao acto único e além.
A sua identidade é composta entre Protestantes do norte da Europa, sul da Europa Latina, Europa Ortodoxa Oriental, etc.
Evidentemente, os EUA é diferente, muito diferente. Conseguiram criar uma noção de cidadania, sobre os escombros dos Ameríndios, o famoso “melting pot” funcionou.
O federalismo vingou após uma guerra civil atroz e 160 000 mortos.
Na Europa, após duas guerras mundiais, ou mais, e dezenas de milhões de mortos, ainda não conseguimos federar o nosso Continente.
E pior ainda, o receio é grande que não exista resposta federalista para os nossos problemas. Será possível quando conseguirmos tornar numa realidade a cidadania europeia. Mas é verdade que um adolescente de Paris sente se hoje mais perto de outro adolescente de Chicago ou de Tóquio que de Berlim ou de Atenas.
Enquanto assim for, seremos sempre vulneráveis em frente dum Trump.
Veremos se os Europeus de Leste, como escreve, serão capazes de cortar o cordão umbilical dos dólares que os liga aos EUA, para participar à verdadeira construção europeia.
Para um não-politizado como eu, tudo isto vai dar origem a que os europeus teem de aprender a viver sem os americanos ou ingleses se eles saírem. Sem essa bengala americana temos de pensar que todos os eurpeus gostam da situação que temos. Teremos sim como gente adulta que já somos, arregaçar as mangas de alpaca e reajustar a ideia de uma Europa Unida.
Se assim não fôr iremos cada um à sua vida pois esta utopia não serviu. É tal como uma granda empresa que vai à falência por má gestão. Fecha portas e reabre com outra filosofia no dia seguinte.
Claro que vai haver estragos monumentais mas.... quem geriu mal a empresa fica mal visto por isso já não poderá cantar de galo.
Terá a classe média, tão mimada por este regime, de voltar à terra e recomeçar se tiver instrução para isso ou partir do zero como lá deveria ter ficado se não fossem estes partidos a darem-lhes créditos de sapiência e eficácia. Foi uma situação muito dispendiosa mas instrutiva.
Este video do Hudson Institute sobre o (des)acordo dito JCPOA
https://www.youtube.com/watch?v=PxCUz4-T1l0
parece estar de acordo consigo. A determinada altura um dos intervenientes argumenta precisamente esse ponto de vista a proposito da divisao leste e oeste da europa em termos dos compromissos NATO. Caso a Alemanha, a França e outros queiram defender politicas (economicas) favoraveis a Teerão, os EUA podem dar uma dor de cabeça à União Europeia pondo a parte de Leste contra a parte Oeste (repito de forma aproximativa).
O video é bastante interessante, mostrando como pensa uma certa visão neo conservadora talvez demasiado optimista.
Nao deixa de ser curioso que ninguém refere a existência de Israel como o problema maior do JCPOA. A unica razão pela qual todos temem o Irão, não é a existência em si de bomba atomica, é a ameaça que este podera causar a Israel no longo termo.
A Arabia Saudita é importante pelo petroleo, mas não é essencial no médio oriente. Se em vez de Israel houvesse uma Palestina ameaçada pelo Irão ninguém quereria saber (eram mortos "entre eles".
@ Sr De Freitas
Não sei se a Rússia actual também não subsiste sem tantas mortes como os USA.
Veja-se a guerra civil russa e a tentativa do domínio ao longo do século XX.
Nas mortes que teem provocado o diabo que os escolha. Mas nunca se pode falar nuns e não dos outros.
Para o Sr. parece que os mortos úteis estão do lado dos russos.
É uma visão do mundo bem redutora.
Enfim.... é o que há.
O diabo também escolhe mas não assim.
Sr. Anonimo das 15:07, 13 de Maio : Uma apariçao ! Se o senhor acha que é uma visão do mundo bem redutora, e se quer uma contabilidade macabra que corresponda melhor às suas ideias, pode encontrar alguma ajuda na fronteira de Gaza, onde os mesmos que defende em cada comentário, são mais produtivos.
E mesmo se é a Terra do Cristo, os diabos à solta que afeiçoa là não faltam…
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