O tema da distância entre a “classe política” e os cidadãos é eterno e universal, mas o modo como tem vindo a evoluir na sociedade portuguesa contemporânea começa a não ser democraticamente saudável.
Às vezes, pergunto-me se os responsáveis eleitos, que hoje titulam cargos públicos, têm real consciência do risco que o alastrar deste sentimento faz correr às instituições, de como subliminarmente isso as deslegitima aos olhos do cidadão comum.
A História, mesmo entre nós, dá-nos exemplos de tempos políticos que se degradaram, nalguns casos até à rotura, por virtude da vida cívica ter passado a deixar de estar em sintonia com o sentir dos eleitores, sendo a abstenção o sintoma mais evidente desse estado de coisas.
O alheamento da vida cívica, longe de ser uma espécie de mandato de confiança nos titulares saídos do sufrágio, é um atestado de desinteresse, que em versão benévola configura indiferença e, num registo menos agradável, traduz uma surda indignação.
Se olharmos para o Brasil, vemos aquele que, nos dias de hoje, é talvez o caso mais óbvio de uma sociedade política onde, pelo facto dos vícios terem passado a ser a regra, se instalou uma desesperança que traz riscos imensos à democracia. Ora esse é precisamente o pasto ideal para o surgimento dos “salvadores”, de regeneradores da ordem decadente, dos modelos autoritários que estão sempre à espreita.
Entre nós, alguma comunicação social cavalga com gosto a onda de descrédito sobre os agentes públicos, metendo no mesmo saco flagrantes atos de corrupção com suspeitas levianas ou questões de gravidade muito inferior, ciente de que a ideia de que “são todos iguais” é muito popular e cai garantidamente no goto do preconceito estabelecido.
A luta interpartidária, ao dar eco fácil a esse sentimento, que sabe popular, potencia os episódios e contribui para os tratar por igual, não cuidado de os graduar na sua importância objetiva. O resultado é um ambiente instalado de desconfiança em torno dos agentes políticos, da sua honorabilidade, quase que dando por adquirido que, entre eles, o surgimento da menor oportunidade será aproveitado para o usufruto de vantagens materiais ilegítimas, dando razão ao dito de que “a ocasião faz o ladrão”.
Ora a honestidade e a seriedade continuam a ser valores que muita gente mantém como sentido orientador na sua vida, na política ou fora dela. Essa, porém, não é uma verdade aceite com facilidade pela opinião pública. Daí que só a plena transparência, de quem nada teme porque nada deve, possa ajudar a estancar a perigosa onda demagógica do “são todos iguais”, a qual, quase tanto como a real corrupção, põe em causa a democracia e fragiliza a legitimidade do sistema político.
10 comentários:
O problema da corrupção que temos hoje em Portugal e noutros países europeus é reltivamente simples.
Alguns cidadãos com conecções especificas ao poder local, inscrevem-se num partido. Militam com diligência, fazem o que lhes mandam e assim vão progredindo na sua aparente evolução social.
Ao serem encarregues de algumas funções de relevo são presas faceis para os corruptores lhes darem uns almocinhos, umas fériazinhas etc etc.,para que os decisores vejam com bons olhos os seus intersses.
Quamto mais alto chegam mais as prendas são altas e agora já em dinheiro vivo. É nessa altura que percebem que teem de investir ou começar a gastar em viagens ou outras forma de promoção social entre os seus pares. É asssim que alguns foram descobertos como tinham feito aquilo a que se chama uma fortuna. A certo ponto a fortuna pode ser tal que os parceiros começam a invejá-los e a por a "boca no trombone" para os eliminar da concorrência.
E aí vale tudo: Maçonaria, Opus Dei "e tuti quanti" das agremiações secretas, discretas e outras de que muito poucos conhecem a chave.
E assim a sociedade vai apodrecendo e a qualidade dos recrutados desce ao nivel do carrerista mais afluente o qual pode não ser o mais eficaz mas sim o que tem mais fome bbiológica para satisfazer.
Se olharmos para as revistas sociais portuguesas destes últimos 30 anos é extraordinária a dinâmica do aparecimento das pessoas públicas, de parte nenhuma para o estrelato tal como a sua desaparição, poucos anos depois, novamente para para parte nehuma.
Será isto a tão desejada mobilidade social ou será apenas fabricação, em série, de vedetas políticas, para entreter o pagode.
Há depois os outros decisores mais sabidos, que são os que de facto fazem as carreiras destes carreiristas, e que como salazar fazia, mandam um cartãozinho a despedir o lacaio mas... sem assinatura ou praticam o assassinato social do mesmo conhcendo-lhes todos os podres.
É assim que isto está no Estado e apendices.
Só agora chegamos à fase em que se é político desde muito novo, desde sempre, sem nunca ter feito outra coisa. Temos, portanto, a profissão "político". Ora em qualquer profissão as pessoas tentam alcançar a melhor remuneração possível, isso é até um excelente mecanismo para a diversificação profissional e a inovação. Mas qual será o resultado, na era da profissionalização política, de tentar ganhar o melhor possível?
Quando chega a hora de se saber os métodos a que recorreram são todos iguaiszinhos. É seguir-lhes os trilhos dos dinheiros e é vê-los a tentaren levantar voo, em campo, para serem abatidos como na caça de salto.
A culpa é da Europa, a quem já não lhe compensa estes abusos. A experiencia da Grécia foi dura e muito dispendiosa.
"... O resultado é um ambiente instalado de desconfiança em torno dos agentes políticos, da sua honorabilidade, ..."
Honorabilidade?. O problema, em Portugal, é a representatividade.
Em princípio os deputados serão, todos, "The Right Honorable Gentleman or Lady".
No sistema político em vigor os deputados são selecionados e nomeados pelos seus respectivos partidos. Um Poder que os partidos mantêm, via Constituição, em exclusividade.
Os deputados representam o seu respectivo Partido.
Por isso mesmo os deputados prestam contas, por definição e por compromisso assinado, a quem os nomeou e pode vir a re-nomear. Os seus respectivos chefes partidários. Insofismável.
Por isso mesmo não vigora em Portugal o teste de genuína representatividade pessoal de um deputado: a re-eleição em nome próprio.
Por isso mesmo a falta de poder que a AR tem de lesgilar o bem comum e de fiscalizar os actos do Governo, dos governantes....JS
Muito elucidativo e infelizmente a verdade:
"O plano de Costa para dominar o país",Jornal Económico
por André Abrantes Amaral
O artigo que o anónimo das 10 e 46 acha muito elucidativo e verdadeiro, não mais traduz que a velha máxima de que a direita é que tem o direito divino de governar, azar dos azares é que vir com tangas de "dominar o país" e quejandos não fica nada bem ao articulismo dextro, pois é o lado da força que detém o domínio da opinião mediática e de diversas áreas de influência.
Ainda bem que António Costa e a sua equipa têm um projeto para o país, é isso que se espera de todo e qualquer governo.
Quanto ao artigo do Sr. Embaixador, é isso mesmo! Até porque a irrepreensibilidade é a melhor arma contra os demagogos que só conhecem um punhado de pessoas honestas no mundo - os próprios e quem lhes alimenta as paranoias.
Quando do 25 de Abril, andaram à caça das contas em Portugal e na Suiça das fortunas dos Tenreiros e de todos os "tachistas" que nos governavam.
Chegou-se à conclusão que eam todos uns tesos.
Eram todos iguais, aqueles sacanas!
Ao ler estes comentários sobre aqueles que dirigem, a níveis diferentes, a Nação, fico perplexo.
Porque vemos bem que os políticos podem dirigir como entendem, sem suscitar uma verdadeira resistência.
Como podem, com impunidade, servir apenas os interesses daqueles que vivem na opulência.
O funcionamento da Justiça prova-o, que nunca vai até ao fim na sua pesquisa da verdade. E quando finalmente a encontra, não a aplica.
Sabemos que os homens da Economia, da Politica como da Religião, assumem que sabem tudo.
Estão apenas interessados em estabelecer dogmas, …e muito menos de servir os outros.
Os regimes passam e eles continuam a governar. Os mesmos, ou outros, que se assemelham na prática do poder.
Eu só gostaria de entender como tantos homens, tantas cidades, tantas nações, podem apoiar indivíduos que têm o poder que lhes dão , que só pode prejudicá-los tanto quanto eles querem
E portanto, vivemos em democracia. Ninguém nos é imposto.
La Boétie escreveu:
“ Há três tipos de tiranos. Um reina pela eleição do povo, os outros pela força das armas, o último por sucessão elitista.
Para dizer a verdade, eu vejo entre estes tiranos algumas diferenças, mas de escolha, eu não vejo: porque se chegam ao poder por vários meios, o seu caminho é sempre aproximadamente o mesmo. ”
Aqueles que são eleitos pelo povo tratam-no como um touro para domar, (concedendo-lhe algum espaço para esquecer a sua condição, que seja o futebol escandaloso, a reza ou a canção, e se for europeia, ainda melhor).
Os conquistadores tratam-no como a sua presa, (é só baixar a cabeça), os sucessores como um rebanho de escravos que lhes pertence por natureza.
“É incrível ver como o povo, assim que é subjugado, cai de repente num esquecimento tão profundo da sua liberdade que é impossível acordar para recuperá-la: ele serve tão bem, é tão manso, e tão feliz, que parece que não só perdeu a sua Liberdade, mas, bem merecida, ganhou a sua servidão, que ele vê sob outras cores. “
NB) As palavras entre parêntesis são minhas.
Eu diria a « mesma marca de fabrico », tanto os clientes como os fornecedores de serviços. Existe algo que os identifica como tal.
Portugal não é para honestos!
A causa da corrupção é muito mais dissimulada do que possa parecer.
Os grupos, os amigos, as congregações, as capelinhas estão em todo o lado.
Se forem a qualquer repartição estatal ou empresa pública ou privada analisem os “colaboradores” e vejam de onde vieram.
Se aparece um expert vem de certeza de uma “loja”! Etc etc etc
Isto não aparece à “ luz do dia “. O que aparece são o que eu designo por pilha galinhas. Não se associam e depois levam!
Só damos conta direta desta peçonha quando nos toca a nós! Por exemplo um Presidente da República entender de mote próprio, sem perceber nada do assunto, “acarinhar um grupo profissional”, da forma como ele diz “politicamente”.
Quando para um presidente isto é “normal” o que pensa um cidadão honesto.
Este país não é para ele!
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