Tive hoje muito gosto, como presidente das Conferências de Lisboa, de acolher o presidente da República na abertura dos trabalhos que se prolongam até ao final da tarde de amanhã, na Fundação Calouste Gulbenkian.
As Conferências de Lisboa têm lugar cada dois anos, sob a chancela do Clube de Lisboa, cujo site pode ser consultado aqui.
A Conferência deste ano tem como título “Desenvolvimento em tempos de incerteza” e conta com a participação de especialistas estrangeiros nas várias temáticas abordadas nos seis painéis - Poder, Segurança, Globalização, Planeta, População e Europa
4 comentários:
com o professor moriarty e tudo!...
Na fotografia, observo que o Francisco tem o cabelo perfeitamente branco, Marcelo o tem parcialmente branco, e Guilherme tem-no razoavelmente escuro.
Pergunto: algum deles pinta o cabelo?
Muito aprendo com os seus textos, Senhor Embaixador.
Este é muito abrangente, porque porta sobre os temas mais prementes do mundo de hoje.
Quando acabei de ler este texto, não pude deixar de esboçar um sorriso, não porque seja risível o que escreveu, mas sim porque bateu na tecla justa.
Mas, e para começar pela “Segurança”, como interpretar que, no momento em que abria esta Conferência de Lisboa, o actor mais importante, os EUA, fazia entrar no Mediterrâneo uma frota gigantesca, com o porta-aviões Harry S. Truman, partido da maior base naval do mundo em Norfolk, na Virgínia, os cruzadores lança-mísseis Normandy, e os couraçados ArleyghBurke, Bulkeley, Forrest Sherman e Farragut, mais o Jason Dunham e o The Sullivans.
Integrada no grupo de ataque do Truman, a fragata alemã Hessen. E todo este arsenal com 8 000 militares a bordo e uma enorme capacidade de fogo.
O Truman – super porta-aviões de mais de 300 metros, dotado de dois reactores nucleares, pode lançar 90 caças em vagas sucessivas e helicópteros de combate.
Este grupo de ataque, integra outros quatro couraçados e vários submarinos, que se encontram já no Mediterrâneo, e tudo isto com 1 000 mísseis de cruzeiro a bordo…
Vemos bem que, quando a Europa fala de “Segurança” , as forças navais US , cujo quartel general se encontra em Nápoles Capodichino, assim potencializadas , cobrem a Europa e a África. A Europa não tem mais nada a dizer neste campo. A potência estrangeira à Europa dita a lei.
E quando se sabe que o mesmo tipo de esquadra, navega em todos os mares do mundo, incluindo o Mar da China e do Japão, a missa está dita.
Afim de aumentar as suas forças na Europa, os EUA gastaram mais de 16 mil milhões de dólares em cinco anos, e incitam agora os europeus a sacrificarem o seu desenvolvimento para aumentar as despesas militares de 46 mil milhões de dólares em três anos, na realidade para reforçar o dispositivo da NATO contra a Rússia.
E é bem por isso que os MNE’s da NATO reafirmaram em 27 de Abril o seu consenso, preparando uma extensão ulterior da NATO no Leste contra a Rússia, com a entrada da Bósnia-Herzegovina, Macedónia, Geórgia e Ucrânia.
Porque o objectivo é este e nada mais : -fazer da Europa a primeira linha duma nova guerra-fria, afim de reforçar a influência estado-unidense sobre os aliados europeus e fazer obstáculo à cooperação eurasiática
Esta estratégia requer uma preparação adequada da opinião pública. E quando se constata a desinformação que grassa nos media franceses com respeito à Rússia e as suas intenções, as invenções de toda a espécie, incluindo os espiões envenenados, mas que recuperaram rapidamente e dos quais não se ouve mais falar deles, os bombardeamentos “bidão” na Síria de depósitos de armas químicas, sem se preocupar dos estragos colaterais eventuais na população, que se pretendia proteger, e que finalmente estavam vazios, fazendo zero vitimas! , mas foi bom para a propaganda, vê-se bem que , com os seus lacaios na Europa, os EUA estrebucham para impressionar o adversário.
E a “Segurança”, como muito bem disse, nunca foi tão precária como hoje.
Se o tema da « Segurança » é importante, que dizer do tema da miséria na Europa ?
Enquanto o número de milionários aumentou substancialmente na Europa e no Mundo, e a produção global de riqueza também, porque é que a situação dos mais desfavorecidos é cada vez mais precária?
A “Globalização” não trouxe os benefícios esperados? Mas é normal, porque quando se põe em concorrência os trabalhadores europeus com os asiáticos, sabemos de que lado a balança vai cair…
A União Europeia anunciou que 17% da sua população -ou 85 milhões de pessoas, estão sujeitas à pobreza, um ponto percentual a mais do que no ano anterior ou 5 milhões de novos pobres.
A situação é mais grave ainda no que se convencionou chamar de Europa do Leste, integrada à UE há menos tempo. Na Letónia, onde está o maior índice, a pobreza atinge 26% da população; na Roménia, chega a 23%. Por isso vemos tantos na mendicidade nas ruas de França.
Crianças são especialmente vulneráveis -um terço dos pequenos romenos são pobres, e no bloco como um todo o índice é de um quinto. O mesmo se dá com os maiores de 65 anos, entre os quais a pobreza atinge 51% na Letónia, por exemplo.
Para a UE, é “pobre” a família com ganhos inferiores a 60% da renda média no respectivo país, levado em conta o custo de vida. Isso significa 13.600 euros ao ano se for norueguês, mas 1.900 se for romeno.
O critério é mais amplo do que o da ONU (para a qual pobre é quem vive com menos de US$ 2 ao dia), mas não deixa de revelar limitações. Em Portugal, por exemplo, 35% da população não tem como pagar aquecimento adequado.
As chamadas "políticas de austeridade" que já há alguns anos vêm sendo postas em prática no continente, sobretudo nos elos mais fracos da União Europeia -autênticas semi colónias incrustadas no seio da zona euro -, geraram e geram um turbilhão de miséria naquela parte do mundo, onde os trabalhadores tentam sobreviver e sustentar as suas famílias sob condições que a cada dia se assemelham mais à realidade das classes populares dos países historicamente oprimidos no âmbito da divisão internacional do trabalho, ou seja, sob uma precariedade generalizada das condições de vida e a destruição de direitos historicamente conquistados pelos trabalhadores.
Mesmo em França, sob a batuta dum presidente ultra liberal, o ataque ao Estado Social é mais intenso que nunca, com o risco de levar o país à instabilidade social algo delicada.
A exploração do homem pelo homem, velho “slogan” marxista, volta a ser de actualidade, como atesta a pobreza que alastra pela Europa de maneira "preocupante", ao passo que aumenta a concentração das riquezas nas mãos de alguns poucos industriais e banqueiros, evidenciando o cenário dos países do terço mundo.
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