Desde a infância, ouvia o meu pai dizer uma fase cujo sentido, durante anos, me intrigou: "testemunhas para isso não há!". Usava essa expressão para significar, perante uma determinada situação em que era necessário alguém se "chegar à frente", para a execução voluntária de qualquer tarefa, se constatar a indisponibilidade de todos os presentes.
Um dia, perguntei ao meu pai a razão de ser do dito. E ele explicou-me que, desde a sua infância, a minha avó usava a expressão nesse sentido, bem distante do original. Mas de onde é que ela provinha?
A história não deixava de ser curiosa. No início do século XX, havia em Viana do Castelo um fulano, “habitué” dos tribunais, cuja função consistia em arregimentar testemunhas falsas para os julgamentos, a pedido dos advogados. O homem tinha artes de recrutamento muito apuradas, fazendo o "casting" de acordo com o perfil dos acusados e do tipo de delito, mantendo dezenas de potenciais testemunhas em agenda. Naturalmente que a coisa tinha o seu preço e os valores cobrados eram divididos entre o homem e as testemunhas, sendo tanto maiores quanto a complexidade do processo. Havia sido o meu avô, que morreu muito novo e muito cedo, em 1925, quem um dia trouxe para casa, dos seus dias de trabalho nos tribunais, essa expressão, que lhe havia sido contada por um advogado. Ao que parece, em face de um processo "impossível", em que era muito arriscada para as testemunhas praticarem um perjúrio, o experiente recrutador terá dito ao causídico: "Testemunhas para isso não há, senhor doutor!"
Porque é que me lembrei disto agora? Sei lá! Mas, como dizem os franceses", "j'en passe"!
1 comentário:
Ele há coincidências.....
É que andam por aí uns quantos indivíduos a "oferecerem-se" para "testemunhas" mas que, quer-me parecer, quando chegar a altura de darem o seu testemunho, vão assobiar para o lado e roer a corda.
Palpita-me.
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