Sócrates foi acusado pelo Ministério Público. Já não era sem tempo! Agora que foi deduzida uma acusação concreta, vai ser possível à opinião pública, sem ser através de fugas alambicadas para a comunicação social, ter acesso à leitura dos factos que hoje permitem à justiça formular as suas graves imputações. Pelo que entretanto já foi divulgado, José Sócrates e os restantes acusados vão ter de explicar muita coisa. Há factos que parecem muito estranhos, circunstâncias que se afiguram muito pouco óbvias, coincidências e ligações que vai ser necessário dilucidar com clareza. Ao longo deste tempo, é evidente terem-se adensado crescentes dúvidas, no seio da opinião pública, sobre as atividades do antigo primeiro-ministro. Muitas pessoas, algumas das quais também ajudadas por preconceito político, mas muitas outras com total boa fé, consideram já Sócrates culpado. No que me toca, porque só sei o que leio e não dispenso o contraditório, não posso por ora concluir se Sócrates é ou não culpado, em parte ou no todo, daquilo de que o acusam. Mas também eu criei dúvidas, que quero esclarecer. Também eu quero saber toda a verdade sobre aquilo de que é acusado alguém que conheci há mais de 20 anos, de quem fui colega de governo durante mais de cinco anos, que foi meu primeiro-ministro durante seis anos. Mas não é a mim que compete julgar Sócrates, essa é a função dos tribunais. Espero que o julgamento que se vai seguir nos traga essa verdade, seja ela qual for. Não é confortável para um país ver um seu antigo chefe de governo a contas com a justiça, em especial acusado de graves atos de improbidade cometidos no exercício do cargo que o voto popular lhe confiou. Porém, se a investigação tivesse durado um tempo razoável e se não se tivessem registado "leaks" que em nada enobreceram a neutralidade da nossa justiça, seria tentado a dizer, desde já, que só pode dignificar o nosso sistema judicial a circunstância de figuras poderosas poderem, sem a menor limitação, ser levadas à barra dos tribunais. Mas di-lo-ei, de muito bom grado, se, no final deste processo, todos pudermos concluir, sem a menor sombra de dúvidas, que foi feita justiça.
quinta-feira, outubro 12, 2017
Sócrates
Sócrates foi acusado pelo Ministério Público. Já não era sem tempo! Agora que foi deduzida uma acusação concreta, vai ser possível à opinião pública, sem ser através de fugas alambicadas para a comunicação social, ter acesso à leitura dos factos que hoje permitem à justiça formular as suas graves imputações. Pelo que entretanto já foi divulgado, José Sócrates e os restantes acusados vão ter de explicar muita coisa. Há factos que parecem muito estranhos, circunstâncias que se afiguram muito pouco óbvias, coincidências e ligações que vai ser necessário dilucidar com clareza. Ao longo deste tempo, é evidente terem-se adensado crescentes dúvidas, no seio da opinião pública, sobre as atividades do antigo primeiro-ministro. Muitas pessoas, algumas das quais também ajudadas por preconceito político, mas muitas outras com total boa fé, consideram já Sócrates culpado. No que me toca, porque só sei o que leio e não dispenso o contraditório, não posso por ora concluir se Sócrates é ou não culpado, em parte ou no todo, daquilo de que o acusam. Mas também eu criei dúvidas, que quero esclarecer. Também eu quero saber toda a verdade sobre aquilo de que é acusado alguém que conheci há mais de 20 anos, de quem fui colega de governo durante mais de cinco anos, que foi meu primeiro-ministro durante seis anos. Mas não é a mim que compete julgar Sócrates, essa é a função dos tribunais. Espero que o julgamento que se vai seguir nos traga essa verdade, seja ela qual for. Não é confortável para um país ver um seu antigo chefe de governo a contas com a justiça, em especial acusado de graves atos de improbidade cometidos no exercício do cargo que o voto popular lhe confiou. Porém, se a investigação tivesse durado um tempo razoável e se não se tivessem registado "leaks" que em nada enobreceram a neutralidade da nossa justiça, seria tentado a dizer, desde já, que só pode dignificar o nosso sistema judicial a circunstância de figuras poderosas poderem, sem a menor limitação, ser levadas à barra dos tribunais. Mas di-lo-ei, de muito bom grado, se, no final deste processo, todos pudermos concluir, sem a menor sombra de dúvidas, que foi feita justiça.
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Um texto sobre a Rússia, já com 20 anos
Publiquei este texto, em agosto de 2004, há mais de 20 anos, em "O Mundo em Português", uma publicação do saudoso IEEI (Instituto ...
18 comentários:
Ora, ora Sr. Embaixador...
Bem, pelo menos já ficamos a saber de onde vem a expressão: "Arranjaste um 31...".
Para um não-politizado como eu, não posso senão acreditar que isto tudo não se passou desta forma, porque se se passou, bem podemos limpar as mãos às paredes em relação aos governantes [todos] que conseguimos ter até aqui.
Parece-me que isto só irá lá, se houver uma devassa geral para ver quem neste Regime não praticou crimes.
Ou seja....... passaremos todos a ser suspeitos, porque ao votarmos, demos o nosso acordo a esta "gente".
Na História de Portugal este processo vai ter de ser o ponto de não retorno, dando origem a um corte epistemológico.
Bem gostava de ter acesso às informações de estrangeiros para os seus países, mas isso só as próximas gerações poderão ler.
Espero que para os politizados isto não seja um assunto de política banal mas sim um sassunto de justiça banal.
Não me parece razoável continuar a falar do tempo que levou a investigação, face ao trabalho desenvolvido.
João Vieira
Fazer justiça, sim.
Mas -a serem comprovados pela Justiça os crimes em apreço- o País, estará capaz, interessado, em eventualmente percepcionar o que terá acontecido, o que foi possível executar durante anos (pelo poder Executivo) no exercício de esse cargo político?.
A vunerabilidade, corrupção passíva, do Executivo em Portugal ?!.
Irá a sociedade exigir as medidas necessárias para evitar que o poder político seja novamente utilizado de forma aparentemente tão incontrolada ?.
Afinal sem corregir o sistema na génese, e o formato, do poder político -a conprovarem-se os crimes cometidos- tudo continuará, mais uma vez, à mercê de um qualquer outro corruptor activo. JS
Diz o Embaixador que há neste processo coisas mal explicadas. Tendo a concordar consigo. E como decerto conhece o meio por dentro, talvez nos pudesse ajudar a compreender uma coisa mal explicada que me faz imensa confusão, e que é a seguinte: sabendo-se que um PM não participa nos júris dos concursos públicos nem adjudica empreitadas da Parque Escolar, como é possível que não haja ninguém indiciado a esse nível ?!
Dizia o Publico de ontem, não sei se para tranquilizar quem anda perplexo com este tipo de dúvida, que o MP irá chamar a testemmunhar Ministros e Secretários de Estado do tempo de JS. Mas porquê só agora ? Então esse testemunho não teria sido importante para melhor fundamentar a acusação ou levar ao arquivamento ?!
Ainda uma ultima estranheza: como é possivel que continue a haver pessoas ligadas ao PS, como é o caso do Embaixador, que continuam a achar que este processo tem por alvo JS e não toda a governação socialista ? É que numa coisa tenho de dar razão ao JMTavares: JS não governou sózinho ! E perante aquilo que por aí se diz, se ninguém deu por nada, bem, ou andavam todos muito distraidos ou então não se passou mesmo nada.
MRocha
A forma como se iniciou este processo pouco augura que no seu final seja feita justiça. È certo que quem vai ser chamado a fazer justiça nada tem a ver com quem conduziu a investigação. Mas, reconheçamos, que se porventura os factos alegados não forem suficientemente consistentes para uma condenação, será necessário uma coragem do outro mundo para os Juízes passarem por cima do linchamento público a que José Sócrates foi durante estes em decorreu a longa investigação. Não acredito que haja essa coragem. Se for condenado (mais do que provável) José Sócrates vai pagar pelo que fez (o que é justíssimo) e pelo o que os outros fizeram e que a Justiça não conseguiu ou não procurou condenar (o que é de todo injustíssimo)-- vai ser aplicada aquilo a que vulgarmente se chama uma "pena exemplar". Ou seja, em caso algum se fará Justiça (aliás, como é sabido, neste processo contra este arguido já foram cometidas injustiças).
"Porreiro pá"
Qual Alves dos Reis, qual assaltos a multibancos, qual assalto ao banco-da-figueira-da-foz, qual Dom Corleone, qual lava-jato...se isto fôr como parece...cale-se tudo o que a musa antiga canta!
O meu Pai, lá dizia nos anos 60 do século passado: qualquer um pode fazer batota, mas nenhum pode ser apanhado. Fiará marcado para o resto da vida.
Veremos.....como se passará com este processo porque alguma batota deve ter havido ou então devemos todos sair de cá porque um dos últimos sinais da soberania nacional que nos resta, a justiça, já não existe e sem justiça não há Estado.
Será que se vão agarrar áquilo que nos anos 70 se chamava a "justiça popular ou revolucionária" em que se votava a culpabilidade de um crime de abraço no ar.
Felizmente que há Europa mesmo que digam que tá trôpega já não tamos orgulhosamente sós.
É que alguns desses dinheiros, que dizem que circularam, podem ter sido subsídios europeus que não foram aplicados devidamente e por isso terão de ser retornados.
Tá bonito tá.
A entrevista na televisão foi convincente e mostra que:
- há claramente uma invasão da esfera do poder política pelo poder judicial ao questionar opções que decorrem de um mandato parlamentar;
- começa a ser cada vez menos defensável que em nome do princípio da separação de poderes a Assembleia da República não tenha já chamado a si a constituição de comissões de inquérito que essas sim deveriam ter competência para inquirir sobre opções políticas que claramente não podem e não devem resvalar da magistratura.
Como cidadão fiquei inquieto com a prisão de um cidadão como estou agora inquieto com a violação da separação de poderes pela magistratura.
O imperio da lingua portuguesa.
Dos pauliteiros de miranda, das romarias, o presunto de chaves, leitao a bairrada, bacalhau a Gomes de sa, de Eca de Queiros, Camilo Castelo Branco ou de Luis de Camoes.
O povo votou no partido socialista e deram lhe o ZE Socrates ou o Preto indiano de Lisboa. O lamacal., lamassal e OS jacares.
O Embaixador corre no mesmo erro de muita gente: Sócrates não tem de explicar nada; é quem o acusa que tem de provar pq o faz! Inverter o ónus da prova não é coisa própria de uma Estado de Direito . E incomoda-me que até um Embaixador alinhe nessas derivas.
José Rodrigues
Ate quando OS trasmontanos e acoreanos de Conn, e Msss. Ou California vao suportar Isto? Ate quando outros clubes portugueses espalhados pela America vao permitir que estes 2 atrasados mentais juntem empresas e bancos ao Estado e levem OS tres a falencia??
No golpe comunista contra a democracia de sua magestade a Malta so soube tarde demais em 1910.
No golpe militar e catolico de 1926 , pensou, sempre sera melhor e ordeiro......
No golpe militar comunista de 1974, mandou la o Carlucci em 1975 para por ordem no rectangolo. E sacar OS comunas da casita de pedra solta que visitam no Alvao ou na ilha Terceira.
Em 1994 , em Timor, quando OS carneiros alemaes e holandeses e islamistas da Indonesia insistiram em eliminar a gente de Timor Leste, que falavam portugues, no cemiterio de Santa Cruz .
OS Trasmontanos do 5 distrito fed. De Conn. E OS acoreanos Fall River, Mass., insistiram com seus representantes na Casa fed. Entao chairman do armed services committee " Deixem OS timorenses em Paz. E vao se embora.
O entao pres. Bill Clinton: se nao saiem ja nao ha dinheiro nenhum para o budget militar. E ja carta foi para casa,
Gracas tambem a actuacao laudavel que este Sr. Embaixador fez de propaganda.
Miguel Sousa Tavares, com a frontalidade e contundência do costume, faz hoje um bom comentário sobre este caso no Expresso, em que expõe os motivos pelos quais vai ser mesmo muito difícil que “ no final deste processo, todos pudermos concluir, sem a menor sombra de dúvidas, que foi feita justiça”.
O JS deveria ter escolhido a SIC para a entrevista e impor como entrevistador o MST! Como fez quando era PM!
Nunca imaginei que admitisse ser entrevistado pelo CM!
O SR. embaixador com a sua costumada habilidade diplomática, não se compromete. Faz bem. Na minha terra diz-se que quando um homem está no chão, até os cães lhe mijam, e os amigos são para as ocasiões.Mas que há demasiadas coincidências que apontam para a culpa, e muitas explicações "esfarrapadas" para a defesa, até um cego vê.
A comentadora Ana Vasconcelos refere o que escreveu MST no Expresso.
O MST se tivesse algum pudor estava calado, conhecidas que são as suas relações familiares com RS. Podemos só imaginar o que diria se não existissem.
Diz o povo que o pior cego é o que não quer ver.
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