quinta-feira, outubro 26, 2017

O novo embaixador


Há dias, alguém me deu notícias do antigo embaixador francês em Lisboa, Pascal Teixeira da Silva, que terminou há pouco a sua missão como representante diplomático francês na Áustria. Vai agora ser embaixador especial para as migrações. E isso recordou-me uma história passada comigo, em Paris, a propósito da sua nomeação para Portugal, em 2010.

Pascal é, como o seu apelido indica, de ascendência portuguesa. Faz parte de quantos, e já são imensos, que, tendo nascido em França com essa origem, ascenderam na vida daquele país, ocupando hoje postos da maior importância na sua sociedade - do setor público às áreas económica, cultural, científica, entre outras. Em regra, essas pessoas pouco ou nada devem a Portugal, que, na generalidade dos casos, obrigou os seus antepassados a terem de abandonar o país onde nasceram, para se acolherem em França, que lhes garantiu condições dignas de vida e lhes renovou a esperança no futuro. São hoje franceses plenos, sendo para nós um orgulho que muitos reivindiquem a sua ascendência portuguesa.

Num dia de 2010, fui chamado ao chefe do Protocolo do ministério francês dos Negócios Estrangeiros, o Quai d’Orsay, que me anunciou que o embaixador francês em Lisboa fora instruído para apresentar o pedido da “agrément” para o seu sucessor, e que este ia ser um diplomata de ascendência portuguesa, de que eu nunca ouvira falar até então - Pascal Teixeira da Silva. Agradeci a informação, documentei-me nas horas seguintes sobre o futuro titular do Palácio de Santos, dei imediata conta a Lisboa de tudo quanto apurara e recomendei que a nossa resposta, naturalmente positiva, fosse dada com grande brevidade. 

Um ou dois dias depois, numa cerimónia na embaixada da Polónia em Paris, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kouchner, que estava à conversa com o embaixador polaco, Tomasz Orlowski, ao ver-me passar, muito no seu estilo efusivo e fortemente gestual, chamou-me e deu-me conta da “novidade, em primeira mão” da nomeação de Teixeira da Silva para Lisboa. Fê-lo com grande ênfase, sublinhando a ascendência portuguesa do diplomata e o que isso significava para “a importância dos franceses de origem portuguesa” na vida do seu país. 

Agradeci, fiz de conta que estava a receber a notícia pela primeira vez, fiz um “figurão” dando logo mostras de estar ao corrente do curriculum do diplomata, trocámos mais algumas palavras e Kouchner perdeu-se na voragem da cerimónia. O anfitrião, Tomasz Orlowski, que conheço há bem mais de duas décadas, que foi um dos meus melhores amigos em Paris e me conhece pessoalmente muito bem, terá detetado alguma falta de entusiasmo da minha parte, perante a “revelação” do ministro e fez-me notar isso: “Não me pareceu que tivesses ficado muito entusiasmado com a notícia. Não é bom para Portugal ter, como embaixador em Lisboa, um francês de origem portuguesa? No fundo, Kouchner tem razão: simboliza bem o reconhecimento da integração da vossa comunidade.”

Expliquei ao meu velho amigo polaco, depois embaixador do seu país em Roma, que, claro está!, estava muito satisfeito com a nomeação de um descendente de portugueses para a embaixada francesa em Lisboa. Mas acrescentei: “Não te posso esconder que a integração da comunidade portuguesa em França só estará plenamente assegurada quando diplomatas seus descendentes forem nomeados, não para Lisboa, mas para Washington ou para a ONU”. Ele percebeu. 

2 comentários:

Anónimo disse...

" sendo para nós um orgulho que muitos reivindiquem a sua ascendência portuguesa."

uma benesse que Portugal ainda pouco aproveita.

Anónimo disse...

Ó Sr. embaixador!

Devagar, devagarinho... lá chegaremos um dia!

Para já, o luso descendente é diplomata francês e foi nomeado para representar o seu país em Portugal. Já não é mau de todo.

Que eu saiba, Portugal levou muito anos para nomear um ministro de origem africana e não me parece que haja um embaixador português oriundo das suas antigas colonias.

Estas coisas levam o seu tempo...

A Europa de que eles gostam

Ora aqui está um conselho do patusco do Musk que, se bem os conheço, vai encontrar apoio nuns maluquinhos raivosos que também temos por cá. ...