Há momentos, sob este fantástico dia de sol de Outono de Lisboa - conheço algumas cidades com dias assim, nenhuma com a suavidade única desta luz - lembrei-me, de repente, do silêncio que, noutros tempos, se usufruia ao atravessar alguns bairros populares da cidade, vai para meio século.
Era uma Lisboa muito triste, embrulhada numa pobreza de vida - um "mal-de-vivre", em homenagem ao José Fonseca e Costa - que parecia fazer parte do seu inexorável destino: muitas casas como esta, gente mal vestida e sem esperança, serviços públicos degradados, transportes incómodos, o tal "viver habitualmente" com que a ditadura suspendera o tempo dos portugueses, entre os medos (a política, a religião, a guerra, o desemprego/emigração) e a felicidade, então domingueira, do futebol, com as tascas à mistura.
Por esses tempos, se atravessássemos certas zonas da Ajuda ou de Marvila, se nos ocorresse andar pelo interior dos Anjos ou do Bairro Santos, recordo-me bem que se "ouvia" um silêncio único, sem aquele ruído de fundo de automóveis que hoje faz parte do cenário urbano. Quando muito, uma Zundap, uma Famel ou uma Pachancho - as Harley-Davidson do fascismo.
Nostalgia, isto? Não, apenas a constatação de que a vida era diferente. Ah! E nós também, claro! A única coisa comum é esta maravilhosa e única Lisboa.
3 comentários:
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~ O que mais me chocava
era o olhar resignado, pardo, amorfo, abúlico, ou seja,
morto; dos utentes dos pachorrentos carros elétricos...
~ Pertenço ao seu «team»,
vinda de muito longe, após ter estranhado, apaixonei-me definitivamente pela nossa Lisboa, especial e única.
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E ainda Lisboa!
Sr. Embaixador, mas que sintonia!!!
Sem ver o seu artigo, coloquei o meu post, senão veja se tiver oportunidade:
http://portugalenphotos.blogspot.pt/
bom fim de semana
Angela
Este texto retrata bem o que o Brasil vive hoje, sem por nem tirar, graças ao socialismo desastroso, larápio e sem consequências do PT. O Brasil vai levar 20 anos para se recuperar.
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